quarta-feira, 1 de junho de 2011

Cantando na Dor

O primeiro funeral que dirigi foi do pai de um querido pastor gaúcho. Para o culto vieram vários pastores do Estado, e eu só presidi a cerimônia. Convidei um para pregar e outros para orar. Lá no cemitério, um dos pastores me deu o seguinte conselho: “esta é à hora mais triste da cerimônia, então coloque o povo de Deus para cantar. Cante as grandes promessas de Deus sobre a vida eterna. O nosso povo nunca ouve muito sobre escatologia no púlpito. O grande consolo dos crentes vem através das letras desses velhos e queridos hinos do Cantor Cristão”.

Segui para Portugal e, nesta área, tomei um baita choque cultural, pois percebi o desconforto com que alguns colegas pastores tentavam explicar, para os incrédulos, a razão do crente cantar em meio à morte. Como se fosse errado cantar na dor. Aquilo me fazia lembrar os hebreus, quando foram levados para o exílio, na Babilônia. Eles ficavam sentados nas margens dos rios, chorando. Penduravam seus instrumentos nas árvores e se negavam a cantar, quando os que lhes oprimiam pediam que os alegrassem com as canções da terra natal. Eles, então, diziam: “Como entoaremos o cântico do Senhor em terra estrangeira?” (Sl 137.4) Eles não sabiam cantar na adversidade.

Tiago Melo, poeta amazonense, tem um poema que diz: “faz escuro, mas eu canto”. Sempre acho que ele se inspirou em Paulo e Silas para compor sua poesia. Se está lembrado, os missionários foram presos, e colocados no cárcere interior, depois de terem sido injustamente caluniados e espancados. Para chegar lá, eles desciam um túnel sobre cordas e ainda tinham os pés amarrados sobre um tronco. Mas, em que pese tudo isso, eles cantavam. Não cantavam pagode nem música popular. Cantavam hinos a Deus. Ocorre que numa situação assim as pessoas costumam resmungar: “ó céu, ó vida, ó azar!” Outros, ficam amargurados e deprimidos, e até amaldiçoam. E, uns poucos, sentem vontade de não mais viver.

O romancista mineiro Lúcio Cardoso costumava dizer: “Escrevo porque não tenho olhos verdes.” Paulo e Silas, e muitos crentes sinceros, podiam dizer: “Canto na dor porque tenho um tesouro no coração”. Esta riqueza interior vem da presença de Jesus Cristo na vida. De repente, a pessoa percebe que tem estrutura espiritual, vinda da Palavra de Deus, que o leva a cantar ao Senhor mesmo na aflição.

Canta-se na dor quando se sabe que Deus está no controle. Se as pessoas nos abatem, Ele nos levanta. Se nos oprimem, Ele nos recupera. Como diz Paulo: “pelo que sinto prazer nas fraquezas, injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque quando sou fraco, então, é que sou forte” (2Co 2.12.10). Assim, quando o crente está fraco ele dá oportunidades para Deus agir. Sabe também que, muitas vezes, Deus permite situações adversas, difíceis, para que haja testemunho da Sua graça. O crente sabe que Deus não fica limitado às suas limitações. E Deus pode usar os momentos dolorosos da sua vida para impactar a vida dos outros. A dor é o lugar onde Deus quer usar as nossas vidas.

Se você está sofrendo, passando por um momento difícil, pare de se lamentar e de choramingar. Aja como um cristão que deu sua vida a Cristo, e conhece o Deus de toda consolação. Veja nesta situação a oportunidade de exercitar sua fé. Experimente cantar um hino, pois o nosso Deus, o Pai de Jesus Cristo, no meio da mais intensa dor, que fazer a luz dEle brilhar em sua vida.

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