sábado, 10 de setembro de 2011

Antigo, Verdadeiro e Bom

Uma líder do Departamento Infantil de uma igreja procurou o novo pastor para lhe propor mudança na literatura que era usada para a classe bíblica das crianças. É que, segundo ela, a literatura da APEC (Aliança Pró-Evangelização de Crianças) falava muito de sangue e em morte. Ela temia que isso traumatizasse as crianças.

O sangue ocupa um lugar muito importante na teologia cristã. Não sei como ensinar a Bíblia às pessoas sem falar em sangue e em morte. Já no livro de Gênesis temos Deus matando um animal para vestir o primeiro casal que, com a entrada do pecado no mundo, se descobriu nu. Sem contar que, no Antigo Testamento, todo o povo de Israel trazia para um único lugar, o templo, animais para serem sacrificados. É por isso que havia escala ininterrupta de sacerdotes, para que o clero atendesse a necessidade de toda a população. Há até relatos bíblicos de dias especiais em que eram mortos milhares de animais, e todos os levitas e sacerdotes eram convocados para trabalhar. O templo era um verdadeiro matadouro.

Temos ainda os livros de Levíticos e de Hebreus cujo tema principal são os sacrifícios. E essa ideia de sangue vai percorrendo toda a Bíblia. Até que, finalmente, a Carta aos Hebreus sintetiza isso, dizendo: “E, sem derramamento de sangue, não há remissão. (Hb 9.22)” Então, não há como você ler ou ensinar as Escrituras Sagradas sem considerar o papel do sangue.

Já na minha infância os desenhos animados eram violentos. Tínhamos o Pica-pau, que era um passarinho perverso. A ideia original do seu autor, Walter Lantz, era criar um personagem irritante, que batia e fazia maldades por nada, com prazer em infelicitar os outros. Havia também o Papa-Léguas, que era conhecido em Portugal como o Bip-bip. Nessa série, um coiote vivia tentando atazanar a vida do Papa-Léguas pelas estradas. Era violência gratuita.

Bom, depois a geração infantil começou a curtir outro tipo de desenho, agora à cores. E gozava a anterior, cantando: “Não existe nada mais antigo do que caubói que dá três tiros de uma vez. A avó da gente deve ter saudade do Zing Pow, do cinto de inutilidades...”. E aí vieram desenhos animados mais violentos ainda. Um deles era o “Speed Race”, onde um jovem piloto participava de corridas guiando o Match 5, e sofria “golpes sujos” dos seus adversários.

Bom, depois veio a geração “He-Man”, desenho que virou febre para as crianças. Era violentíssimo também, com um agravante: tinha conotações místicas. Havia mortes e mais mortes gratuitas e ninguém pensava que aquilo iria traumatizar as crianças. He-Man vivia no planeta Etérnia, um mundo aparentemente medieval, mas repleto de tecnologias avançadas e de seres mágicos. O planeta era comandado pelo justo rei Randor, mas o inimigo Skeletor tentava dominar o castelo de Grayskull. Nessa época, muitos pais compraram a espada de He-Man para os seus filhos, e ninguém protestou. Essa geração também viu As Tartarugas Ninjas, Dragon Ball Z, Power Ranger e Liga da Justiça. Todos extremamente violentos.

Hoje, por não ter crianças em casa, já não acompanho de perto o que os nossos desenhos ensinam para a garotada, na TV. Mas a impressão que tenho é que a proposta são desenhos com violência gratuita, e a tentativa sub-reptícia de passar uma filosofia esotérica e mística. Sem contar os muitos games de murros, socos, tiros, sangue e mortes. E ninguém reclama.

Não tenho saudades do “Zing Pow”, nem do “cinto de inutilidades”, mas, desde cedo aprendi sobre o amor de Deus revelado no sacrifício de Jesus Cristo e não fiquei minimamente traumatizado. Aliás, gerações mais gerações aprenderam isso e foram beneficiadas com filhos equilibrados, pacíficos, desejosos de viver uma vida solidária com o próximo e bonita pra Deus. Talvez por isso, sinta saudades do tempo em que os pais se preocupavam em ensinar as histórias bíblicas para os seus filhos. E falando do “sangue de Jesus” também contavam a respeito do grande amor de Deus por eles.

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