“Saudai-vos uns aos outros com ósculo santo” – 1Co 16.20
Já escrevi aqui sobre um jogador de basquetebol, que era da seleção brasileira de basquetebol, que foi contratado por um grande clube de Lisboa. Como era crente, começou a procurar lá igrejas batistas para congregar. Esbarrou numa dificuldade: ele entrava e saía dos templos sem que as pessoas falassem com ele. Só o pastor, no final do culto, e lá na porta, o cumprimentava. No mais, apesar dos seus 2,02m, ele era perfeitamente ignorado.
Ele bem sabia que, se fosse apresentado como profissional de basquetebol, seria saudado, abraçado, dariam tapinhas nas suas costas, lhe pediriam autógrafo e até desejariam que ele desse o seu testemunho de fé. Mas ele queria apenas ser recebido como um crente qualquer.
Na Bíblia, temos uma série de mandamentos recíprocos ou mandamentos de mutualidade, que falam do cuidado que precisamos ter com os nossos irmãos em Cristo. No Novo Testamento são dezenas deles, e todos apontam para a necessidade do cristão olhar para o lado, para perceber e se importar com a presença do irmão.
Quando o apóstolo Paulo, no final da primeira carta à igreja de Corinto, diz: “saudai-vos uns aos outros com ósculo santo”, ele tem plena consciência do que está dizendo. Ele sabia que igreja ali estava tendo muitos problemas de relacionamentos. Havia divergências por todos os lados, mas isso não os dispensava de se tratarem com respeito, cordialidade e amor.
Ósculo ou beijo é uma dificuldade na nossa cultura. Os homens não têm muita facilidade em beijar, sobretudo outros homens. A Congregação Cristã do Brasil pega esse texto, e diz: “homem tem de beijar um ao outro”. E ela está certa, na medida em que zela para que haja aproximação entre os crentes. E está errada, quando não leva em conta o contexto cultural e o princípio que está aqui.
O princípio bíblico é que você não pode ignorar o seu irmão. Você precisa cumprimentá-lo. Na nossa cultura geralmente é um aperto de mãos, seguido de um abraço. Na cultura americana, você dá um cumprimento efusivo com a mão, mas não precisa abraçar. Na cultura russa, os homens dão dois beijinhos no rosto. Na cultura árabe você também beija no rosto. Corinto está inserida nessa cultura oriental.
O princípio que a Palavra de Deus está deixando aqui é o seguinte: porque os discípulos de Jesus Cristo valorizam-se uns aos outros, eles aprendem a olhar para o outro. Então, numa comunidade cristã, sendo discípulo de Cristo, você não pode ser frio e indiferente ao seu irmão.
Na igreja eu vejo crentes que são extremamente receptivos: acolhem, vão atrás, descobrem o outro e se aproximam. E, considerando logicamente a diferença de temperamentos de cada um, a Bíblia não nos desculpa por nossa frieza. É necessário que a gente olhe pro outro, valorize-o e o cumprimente.
Você não precisa dar um beijo santo. Não é o literalismo que vale. Mas você não pode desconsiderar o outro. Precisamos abrir portas e facilitar os relacionamentos, sobretudo de quem está chegando à igreja. Não se trata de cumprimentar as pessoas numa hora litúrgica do culto, mas, voluntariamente, criar pontes que aproximem pessoas, pois crentes em Cristo se amam, se acolhem e se valorizam.
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