terça-feira, 29 de outubro de 2013

Caminhando Pelo Vale da Morte



A morte não espera. Não faz prognóstico. É um caminho democrático, sem pedágios, aberto para ricos e pobres, jovens e idosos, negros e brancos, gregos e troianos, mineiros e baianos. Quando os estertores da morte rondavam Davi, ele chamou os filhos, e disse: “Sigo pelo caminho de todos os mortais”. E virou-se para Salomão, e disse: “Coragem, pois, e sê homem!”

Wood Allen já disse: “Eu não temo a morte, só não gostaria de estar lá na hora que ela chegasse.” O cineasta falava dessa estrada solitária, a da morte, pois ninguém poderá percorrê-la com você. As pessoas só podem ir conosco até o túmulo.

Mas, por mais doloroso que seja este momento, a morte de um crente é apenas um retorno a casa. Gosto do que é dito sobre a morte de Abraão, no início da Bíblia: “...morreu em ditosa velhice, avançado em anos; e foi reunido ao seu povo” (Gn 25.8). Que definição maravilhosa! Muitos séculos depois Jesus disse para os que foram comprados pelo seu sangue, que a morte é a volta para a Casa do Pai: “Na casa do meu Pai há muitas moradas, se assim não fora, eu vo-lo teria dito: vou preparar-vos lugar. E quando eu for, e vos preparar lugar, voltarei e vos acolherei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também” (Jo 14.1-3).

No caminho da morte as propriedades, patrimônios e bens ficam pra traz. Seguimos sem eles. E aí não adianta a sua conta bancária nem o quanto você investiu em propriedades ou em ações. Quando um dos donos da Viação Teresópolis faleceu, recentemente, uma pessoa disse que olhou bem para a cova onde seu corpo foi colocado, e não viu lá um único ônibus. Você já não é mais dono de nada, nem de si mesmo. Na estrada da morte, ao colocar seus pés lá, aquilo que você tinha deixa de ter.

Por mais triste que seja a morte de alguém querido, saiba que a sua vida aqui vai continuar. Deus não retira a bênção sobre aqueles que ficaram. A vida continuará, a história seguirá seu curso, e Deus ainda terá bênçãos sobre aqueles que aqui ficaram. Se perdeu alguém querido, saiba que Deus ainda quer alegrar e abençoar a sua vida, reorganizando seus passos.

Há, sim, uma grande diferença na estrada da morte. Podemos percorrê-la carregados de fé e esperança no coração, ou podemos pegar essa estrada sem nada na alma, sem nenhuma provisão para o nosso coração. E aí a Bíblia nos diz que, com Cristo, esse caminho pode ser percorrido com fé e serenidade. Paulo diz: “Não queremos, irmãos, que sejam ignorantes acerca dos que já partiram”. E prossegue: “para não se entristecerem como os que não têm qualquer esperança”. Ele reconhece o luto e a dor. Ele não nega que essa separação traga sofrimento. Eles são reais e necessários, mas afirma que é possível caminhar serenamente por essa trilha. Por isso, deseja que todos caminhem nessa estrada com esperança.

Quem morre com Jesus tem destino certo, endereço seguro e provisão satisfatória. A Bíblia diz que “O Cordeiro de Deus”, Jesus Cristo, nos purifica de todo o pecado, para nos apresentar ao Pai sem culpa ou mácula. Por isso, troque o medo pela esperança. Afinal, Jesus já providenciou tudo o que você precisa para caminhar seguro e tranquilo por este caminho.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

O Espinafre do Popeye é Tremendo!

Era garoto quando vi pela primeira vez um desenho do marinheiro Popeye. Fiquei impressionado. O espinafre era tremendo. Popeye, coitado, amava e era amado por Olivia Palito, mas havia um Brutus que não permitia que eles vivessem aquele grande amor. Conquistador sujo, e suficientemente forte para refrear qualquer tentativa de confronto, Brutus batia covarde e constantemente no pobre marinheiro. Quando Popeye se encontrava nas últimas - sem poder, sem fôlego e sem saída, aparecia-lhe o espinafre. Como disse, o espinafre era tremendo. Em segundos, assim que o derrotado marinheiro era possuído pelo espinafre, aquele fracote homem do mar transformava-se num verdadeiro Hércules, ou num imbatível monstro marinho, capaz de surrar Brutus por todas as suas malvadezas. Com o inimigo derrotado, Popeye pegava a sua amada e saía cantando vitória. Era a glória!

Nos meus cinco anos de idade, logo que vi o desenho de Popeye, tomei uma decisão. Pedi a minha mãe que comprasse e fizesse espinafre pra mim. Afinal, o espinafre era tremendo, e eu queria uma força daquelas. Os Brutus que andavam na minha vida iriam logo ver ou sentir a minha nova força. A minha mãe bem que estranhou um garoto como eu, que detestava legumes e hortaliças, pedi-lo. Não sabia ela que eu estava envolvido pelo marketing, pela propaganda. Não queria bem o espinafre, queria me tornar invencível. Para ter aquela força toda, se preciso fosse, comeria até capim. Afinal, Popeye mostrava-me que o espinafre era tremendo!

Finalmente, chegou o grande dia em que eu, um Popeye tupiniquim, tomaria a poção mágica. Lembro-me bem. Pedi mamãe que colocasse bastante daquela energética hortaliça no meu prato. Foi tremenda... a minha decepção. Após umas eufóricas garfadas, comecei a ardir um plano para sumi-lo do meu prato, sem que a minha mãe o visse. Não deu. Saí de fininho... tremendo e temendo por uma repreensão materna. E o pior, com a mesma força de sempre.

No meio evangélico surgiu agora mais um espinafre espiritual. Ele é tremendo!, diz a propaganda. oferece aos fracos, superficiais e estéreis cristãos uma nova energia espiritual, digna de, em um fim-de-semana, torná-los mais robustos e invencíveis fiéis. É tremendo. O crente vacilão, com sentimento de culpa pela sua fraqueza e inconstância espiritual, vê neste espinafre a grande oportunidade para se tornar aquilo que ele nunca foi. Ou seja, um crente fiel e cheio de unção. Então, numa série de encontros bem planejados, com algumas doses de lavagem cerebral e de segredos, ele obtêm momentos de êxtases e de adrenalina espiritual. Sob o efeito desse espinafre, deste banho de emoção, vem eufórico, vibrante, como se tivesse descoberto a pólvora da fé. Sai de lá crendo que aquela poção é suficiente para que ele suba os penosos graus da maturidade cristã.

Popeye descobria que o efeito do espinafre não perdurava para sempre. Ao fim de algum tempo, ele voltava a ser o velho marinheiro fracote. E o pior, apanhando sempre do Brutus.

Não há atalhos na escola de Deus. O tempo tem mostrado que estas experiências não são tão profundas nem tão duradouras. São como o espinafre do Popeye. Como bem disse Ricardo Gondim, em Ultimato, "devemos olhar com cautela ministérios que prometem a transformação de imaturos em líderes capazes, em um simples final de semana." Nada substitui o discipulado. Não existe maturidade espiritual instantânea. Sem discipulado, somos levados por todo vento de doutrina e ficamos impressionados com técnicas de manipulação humanas, sem discernimento crítico.

Se você conhece o amor de Deus e sabe que deve amá-lo de todo o coração, mas não o tem amado; se olhando para a sua vida vê que Satanás, qual Brutus, tem levado sempre a melhor, a solução não está num espinafre espiritual. Não está em sair por aí aderindo cada evento ou modismo religioso que aparece. Você não precisa de encontro, precisa de compromisso com Deus. Matricule-se numa classe de discipulado bíblico. É ali que a Bíblia lhe ensinará a ser mais que vencedor em Cristo.


P.S. - Artigo escrito em 26.03.00 e publicado no boletim dominical da PIB de Teresópolis. ´Muitos anos depois, reedito aqui. É muito bom constatar que a apreciação crítica que fiz do movimento "O Encontro é Tremendo", no auge da moda evangélica naqueles dias, estava absolutamente certa. Deus seja louvado!