Era garoto quando vi pela primeira vez um desenho do marinheiro Popeye. Fiquei impressionado. O espinafre era tremendo. Popeye, coitado, amava e era amado por Olivia Palito, mas havia um Brutus que não permitia que eles vivessem aquele grande amor. Conquistador sujo, e suficientemente forte para refrear qualquer tentativa de confronto, Brutus batia covarde e constantemente no pobre marinheiro. Quando Popeye se encontrava nas últimas - sem poder, sem fôlego e sem saída, aparecia-lhe o espinafre. Como disse, o espinafre era tremendo. Em segundos, assim que o derrotado marinheiro era possuído pelo espinafre, aquele fracote homem do mar transformava-se num verdadeiro Hércules, ou num imbatível monstro marinho, capaz de surrar Brutus por todas as suas malvadezas. Com o inimigo derrotado, Popeye pegava a sua amada e saía cantando vitória. Era a glória!
Nos meus cinco anos de idade, logo que vi o desenho de Popeye, tomei uma decisão. Pedi a minha mãe que comprasse e fizesse espinafre pra mim. Afinal, o espinafre era tremendo, e eu queria uma força daquelas. Os Brutus que andavam na minha vida iriam logo ver ou sentir a minha nova força. A minha mãe bem que estranhou um garoto como eu, que detestava legumes e hortaliças, pedi-lo. Não sabia ela que eu estava envolvido pelo marketing, pela propaganda. Não queria bem o espinafre, queria me tornar invencível. Para ter aquela força toda, se preciso fosse, comeria até capim. Afinal, Popeye mostrava-me que o espinafre era tremendo!
Finalmente, chegou o grande dia em que eu, um Popeye tupiniquim, tomaria a poção mágica. Lembro-me bem. Pedi mamãe que colocasse bastante daquela energética hortaliça no meu prato. Foi tremenda... a minha decepção. Após umas eufóricas garfadas, comecei a ardir um plano para sumi-lo do meu prato, sem que a minha mãe o visse. Não deu. Saí de fininho... tremendo e temendo por uma repreensão materna. E o pior, com a mesma força de sempre.
No meio evangélico surgiu agora mais um espinafre espiritual. Ele é tremendo!, diz a propaganda. oferece aos fracos, superficiais e estéreis cristãos uma nova energia espiritual, digna de, em um fim-de-semana, torná-los mais robustos e invencíveis fiéis. É tremendo. O crente vacilão, com sentimento de culpa pela sua fraqueza e inconstância espiritual, vê neste espinafre a grande oportunidade para se tornar aquilo que ele nunca foi. Ou seja, um crente fiel e cheio de unção. Então, numa série de encontros bem planejados, com algumas doses de lavagem cerebral e de segredos, ele obtêm momentos de êxtases e de adrenalina espiritual. Sob o efeito desse espinafre, deste banho de emoção, vem eufórico, vibrante, como se tivesse descoberto a pólvora da fé. Sai de lá crendo que aquela poção é suficiente para que ele suba os penosos graus da maturidade cristã.
Popeye descobria que o efeito do espinafre não perdurava para sempre. Ao fim de algum tempo, ele voltava a ser o velho marinheiro fracote. E o pior, apanhando sempre do Brutus.
Não há atalhos na escola de Deus. O tempo tem mostrado que estas experiências não são tão profundas nem tão duradouras. São como o espinafre do Popeye. Como bem disse Ricardo Gondim, em Ultimato, "devemos olhar com cautela ministérios que prometem a transformação de imaturos em líderes capazes, em um simples final de semana." Nada substitui o discipulado. Não existe maturidade espiritual instantânea. Sem discipulado, somos levados por todo vento de doutrina e ficamos impressionados com técnicas de manipulação humanas, sem discernimento crítico.
Se você conhece o amor de Deus e sabe que deve amá-lo de todo o coração, mas não o tem amado; se olhando para a sua vida vê que Satanás, qual Brutus, tem levado sempre a melhor, a solução não está num espinafre espiritual. Não está em sair por aí aderindo cada evento ou modismo religioso que aparece. Você não precisa de encontro, precisa de compromisso com Deus. Matricule-se numa classe de discipulado bíblico. É ali que a Bíblia lhe ensinará a ser mais que vencedor em Cristo.
P.S. - Artigo escrito em 26.03.00 e publicado no boletim dominical da PIB de Teresópolis. ´Muitos anos depois, reedito aqui. É muito bom constatar que a apreciação crítica que fiz do movimento "O Encontro é Tremendo", no auge da moda evangélica naqueles dias, estava absolutamente certa. Deus seja louvado!
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