sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Eles Passarão... Eu Passarinho!"

No soneto “Este Quarto...”, Mário Quintana diz:

“A morte deveria ser assim:
Um céu que pouco a pouco anoitece
E a gente nem soubesse que era o fim...”


Alguns anos atrás fui ao funeral de Cláudia Coimbra, uma amiga de infância. Crescemos juntos, frequentando a mesma igreja e as classes da Escola Dominical. Na juventude, sempre alegre e atuante no reino de Deus, Cláudia precisou fazer um transplante de rim. Saiu daquela crise mais alegre ainda. Sentindo-se chamada para a Obra do Senhor, Cláudia fez o IBER (Instituto Batista de Educação Religiosa) e tornou-se ministra de educação religiosa. Mesmo diante de limitações físicas, Cláudia tinha um pique contagiante e uma alegria transbordante. Até que a doença não lhe permitiu continuar trabalhando.

Na véspera da sua partida, o Pastor Novaes foi visitá-la na UTI do hospital. O pai lhe fez a seguinte pergunta: “Por que Deus permite que uma pessoa tão consagrada tenha de passar por uma situação assim?”

Eclesiastes já nos lembra que a morte nem sempre é justa: “Um justo morreu apesar da sua justiça e um ímpio que teve vida longa apesar da sua impiedade”(7.15). Jesus confirmou isto afirmando que as dezoito pessoas que morreram com a queda da Torre de Siloé não eram mais pecadoras do que o resto do povo (Lc 13.2-5). A morte vem para todos, independentemente de quaisquer méritos. Não morrem sempre os mais velhos e depois os mais novos. Não morrem sempre os doentes à frente dos que estão saudáveis. Não morrem os que não têm nada para realizar, mas morrem aqueles que, muitas vezes, estão no auge das realizações.

O crente tem algumas garantias no sofrimento. Paulo diz assim: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porem não destruídos” (2Co 4.8,9). Afirma também que “os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm 8.18).

Mas o crente em Cristo tem também algumas garantias na morte. A Bíblia diz que a tribulação nem a morte podem nos separar do amor de Deus (Rm 8.35 a 39). Ela nos garante ainda que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9). Por isso, Deus nos conclama a não sermos ignorantes nem desesperados: “Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram” (1Ts 4.13,14). Então, “Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.8).

Enfim, para o crente em Cristo, sofrimento e morte também podem ser traduzidos nas palavras de Mário Quintana, em “Poeminha do Contra”:

“Todos esses que aí estão
atravancando o meu caminho,
Eles passarão... eu passarinho!”

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