terça-feira, 29 de março de 2011

Na Defesa ou No Ataque?

Em 1970, o Brasil foi tricampeão de futebol, no México, com um time que era um verdadeiro Butantã, só cobras de futebol: Gerson, Jairzinho, Pelé, Tostão e Rivelino, entre outros. A equipe jogava pra frente, no ataque. Tomava gols, mas fazia muito mais. E assim foi campeã.

Há equipes de futebol, sobretudo as consideradas pequenas, que jogam na retranca. Jogam pra não perder. Elas não atacam, só se defendem. Colocam quase todos os seus jogadores atrás, dificultando o gol do adversário. Geralmente, o difícil para o oponente é marcar o primeiro gol. Mas, depois que sai o primeiro, geralmente essas equipes são goleadas.

A igreja de Cristo foi escalada por Jesus para viver no ataque. Ela não atua na defesa. Aliás, igreja que atua na retranca não entendeu o que é ser igreja. Se uma igreja não sai das quatro paredes, não testemunha, não ganha almas para Cristo, não prega o evangelho bíblico e não faz missões devia até mudar de nome. Se ela abandona a centralidade das Escrituras, e dilui o evangelho a uma mera mensagem de autoajuda, poderíamos chamá-la de clube, associação ou fraternidade. Por não ter as características de uma igreja bíblica, Jesus não tem compromisso com ela, pois o Senhor não se envolve com infidelidade, nem mesmo com a de um grupo que se diz igreja.

A igreja de Cristo será sempre oposição ao reino das trevas. Jesus fez até uma declaração interessante, que frequentemente é ignorada ou mal-entendida pelo próprio povo de Deus. Ele disse que “as portas do inferno não prevalecerão contra a igreja” (Mt 16.18). Ou seja, uma igreja de Cristo tem uma atuação agressiva contra as obras das trevas. Quando abrimos um ponto de pregação, plantamos uma igreja, pregamos o evangelho, enviamos e sustentamos missionários, nós agimos agressivamente contra as obras das trevas.

A promessa é que as portas do inferno não conseguirão suportar o avanço da igreja fiel a Jesus. Quero chamar a sua atenção para a palavra porta. Você conhece uma porta? Porta não é uma arma de ataque. Porta eu coloco para me defender de quem eu não quero que entre em minha casa sem a minha autorização.

Jesus não disse: “as armas do inferno”, ou “o poderio bélico do inferno”, ou ainda “os mísseis do inferno não prevalecerão contra a minha igreja”. Ele nem mesmo citou as ciladas do inferno, tão decantadas pelo apóstolo Paulo. Jesus falou em porta. Porta aqui é objeto de defesa do inferno. A porta é colocada pelo diabo para se defender de algo que está lhe atacando: a igreja. Isto significa que quando o povo de Deus está orando, pregando a Bíblia, vivendo uma vida de comunhão e de submissão ao Espírito Santo, ela está atacando o reino das trevas. E o Senhor Jesus está comprometido com essa comunidade. Então, não preciso ter medo de Satanás, embora ele não seja fraquinho. Acontece que, se sou de Cristo, vivo em comunhão com Ele, em comunhão com os irmãos, e ando em obediência à sua Palavra, são as portas do inferno que estão com medo.

Quem conhece os evangelhos há de se lembrar das muitas vezes em que Jesus confrontou os poderes das trevas. E, volta e meia, os demônios lhe pediram autorização para alguma ação, ou lhe perguntavam: “Vieste já destruir-nos?

É por isso que lemos na carta do apóstolo Paulo aos Efésios: “para que agora as insondáveis riquezas de Cristo sejam manifestadas, por meio da igreja, aos principados e potestades e poderios nas regiões celestiais. Para que, através da minha igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida dos principados e potestades” (Ef 3. 8,10).

Então, meu irmão, nada de retranca. Vamos todos ao ataque, pregando o evangelho pelo mundo, pois quem tem de ter medo da ação de uma igreja bíblica e santa são as hostes do mal.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Por Fora Bela Viola, Por Dentro Pão Bolorento.

Quem vê os anúncios de TV das nossas instituições bancárias fica realmente encantado. Cada qual mais solícita e preocupada com o bem-estar dos seus clientes. E já reparou nos seus slogans? Um é “o banco que foi feito para você“. O outro “quer realizar seus sonhos“. Há o que “quer crescer com você“. Alguns dizem: “fale com o gerente!” Mas, vá lá tentar conversar com ele. Você vai tomar um chá de cadeira tal que passará todo o dia à sua espera, e, se calhar, não conseguirá chegar nem ao subgerente.

Na minha adolescência, costumava parar no Bob’s e pedir um Big Bob. Era um sanduíche tão grande, que tinha de pegá-lo com as duas mãos. Só que, com o passar dos anos, em que pese o preço sempre aumentar, o sanduíche foi encolhendo, e hoje deveria se chamar Mini Bob. Mas, no cartaz, lá está o velho Big Bob: grande, belo, e apetitoso. Decepcionado, constato que a foto é sempre muito mais bonita do que o sanduíche.

Quem leu “Bênção e Maldição”, do Pastor Jorge Linhares, se deparou com muitos testemunhos, querendo provar que “há poder em nossas palavras”. É o carro que dava pane, porque foi construído por ímpios, e que ele orou, abençoando-o, e ele nunca mais deu problemas. É o pé de abóbora que nunca ia pra frente, mas que ele a “abençoou“, dizendo: “eu te abençôo, ó aboboreira!” Três meses depois estava cheinho de abóboras. O Pastor Isaltino Gomes Coelho Filho, analisando o livro, disse: “deveríamos chamar esse homem para resolver o problema da seca do nordeste”. E pensar que o governo está gastando uma nota preta na transposição do Velho Chico, e temos uma solução muito mais simples. Sem dúvida, ele deveria ser contratado pela FAO para acabar com a fome no mundo. A verdade é que o livro é sempre mais fascinante que a realidade. E ainda há gente crédula nisso!

Quem leu “Os Carismáticos”, de John MacArthur, Jr., uma publicação dos anos 80, se deparou com as diversas narrativas de cura em cultos pentecostais. O autor fala num médico que resolveu checar a saúde das pessoas que se disseram curadas nos cultos da televangelista Kathryn Kuhlman. Primeiro, reparou que muitos daqueles doentes que vieram em cadeiras de rodas, e se declararam curados no culto, voltavam pra casa em cadeiras de rodas. E, dos 82 casos, 23 foram entrevistados, e a sua conclusão final era de que, infelizmente, “nenhuma das chamadas curas era legítima”.

Creio em milagres. Inclusive, já fui alvo do poder miraculoso de Deus. Mas, não posso discordar do Pastor Ed Renê Kivitz, quando diz que “o evangelho apresentado pelos evangélicos é mais bonito na televisão do que na vida”. E acrescenta: “Os testemunhos dos abençoados são mais espetaculares do que a realidade dos cristãos comuns. De vez em quando fico assistindo estes programas, e penso que é jogada de marketing, testemunho falso. Mas o fato é que podem ser testemunho por amostragem, isto é, entre os muitos que faliram, há sempre dois ou três que deram certo. O testemunho é vendido como regra, mas na verdade é apenas exceção”.

Deus deseja “a verdade no íntimo”. Ninguém precisa forjar milagres, curas ou qualquer outra coisa para mostrar um Deus poderoso. Deus não precisa de marketing; falsos profetas, sim!

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ouça Todos. Ouça Tudo.

A cena é familiar. De repente, um filho sai chorando compulsivamente em direção à mãe ou ao pai, reclamando do irmão que lhe bateu. Nessas horas, os pais vão até o outro filho perguntar por que ele bateu no irmão. Aí ouvem o outro lado da história. A resposta pode ser: “olha a mordida que ele me deu!”, “Veja o que ele fez com o meu brinquedo”, ou “Ele me bateu primeiro.” Só assim ficamos sabendo o outro lado da questão. Quase sempre o problema é mais complexo, envolve algum tipo de encrespação anterior. Com alguns anos de prática, os pais sabem que precisam ouvir tudo e ambos os lados, se desejam resolver a questão imparcialmente.

Assim também acontece na igreja. Gosto do que Jesus diz em Mateus 18.15: “se teu irmão pecar contra ti, repreende-o entre ti e ele só...”. Jesus não diminui ninguém. Ele sabe que é perfeitamente possível eu me sentir humilhado, prejudicado ou ferido no convívio da igreja. Às vezes irmãos falam palavras que machucam. Outras vezes fazem coisas que nos magoam. Enfim, como Jesus disse, é possível um irmão pecar contra você. Algumas vezes fazem isso inconscientemente, e outras vezes, não. A fé cristã não nos livra de decepções, pontos de vistas contrários e desentendimentos (At 15.36-41).

Nessas horas, o melhor a fazer é obedecer a Jesus: “...Entre ti e ele só...”. Jesus diz que nada substitui uma conversa cara-a-cara. Você vai lá e diz pra ele: “aquilo que você disse me magoou” ou: “Você fez isso e não gostei”. A conversa a quatro olhos deve terminar numa sinfonia de perdão. Ou seja, um deve reconhecer sua falta, ou ambos devem se desculpar pelos erros (Mt.15.18,Lc 17.3,4). Caso a conversa não termine em harmonia, o irmão ofendido deve procurar uma ou duas testemunhas, crentes maduros e pacificadores, para intervirem com amor, procurando uma conciliação (Mt 18.16). Se ainda assim a pendenga permanecer, o assunto deve ser levado à igreja (Mt 18.17).

Mateus 18.15-18 talvez seja o mandamento de Jesus mais desobedecido pela igreja, hoje. Frequentemente, o crente ofendido, em vez de procurar o ofensor, procura um, dois ou quinze irmãos para lhes contar a história do seu modo, como a criança que vem chorando reclamar com a mãe. Não poucas vezes, esses que ouvem a sua versão não se preocupam em ouvir a outra parte, e tomam a dor do ofendido. Agora, já são 16 crentes espalhando parte da história, como se ela fosse toda a verdade dos fatos. É assim que se instala a murmuração, a maledicência e a desunião na igreja.

Por isso, cuidado com a precipitação. Antes de espalhar uma história, certifique-se de que ouviu tudo e todos. E, antes que dê coceira nos lábios, tenha cuidado para não fazer juízo precipitado. O teste que irá mostrar a motivação com que você passa a má notícia é a oração. Se antes de trombeteá-la você ficou triste e orou pelo problema, pedindo a Deus que haja pacificação, a motivação é boa. Se apenas repassou a informação, talvez sua motivação não seja a melhor. Portanto, antes de passar uma má notícia ouça todos e tudo, inclusive o seu coração.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Esquisitos da Silva

Nós, brasileiros, com nossa imaginação aberrante e uma criatividade inesgotável, gostamos de colocar nomes diferentes nos nossos filhos. Aportuguesamos nomes de origem estrangeiras, fazemos combinações fonéticas, inventamos, e assim surgem nomes exóticos.

O poeta Oswald de Andrade, tão celebrado pela famosa “Semana de Arte Moderna”, de 1922, deu aos seus dois filhos os nomes de Lançaperfume Rodometálico de Andrade e Rolando Pela Escada Abaixo de Andrade.

O INSS, então INPS, distribuiu uma lista dos seus contribuintes com nomes mais extravagantes: Graciosa Rodela, Inocêncio Coitadinho Sossegado de Oliveira, João Cara de José, Maria Passa Cantando, Restos Mortais de Catarina, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Antônio Manso de Oliveira Sossegado, Pedrinha Bonitinha de Jesus, Remédio Amargo, Naída Navinda Navolta Pereira, Rolando Caio da Rocha e outros, muitos outros.

O sociólogo pernambucano Mário Souto Maior, no livro “Nome Próprios Poucos Comuns”, recolheu algumas assinaturas, como: Cassilandro do Nascimento Vermes, Cavalo Antônio, Céu Azul do Céu Poente, Colapso Cardíaco da Silva, Cólica de Jesus, Comigo é Nove Na Garrucha Trouxada, Crissopasso Compasso, Dezênio Fevereiro de Oitenta e Cinco, Dourado Peitudo, entre outros.

Souto Maior conta que Maria de Jesus Galisa, maranhense de Timon, teve um filho a quem deu o nome de Skylab – Marcos Skylab Galisa, em homenagem ao laboratório espacial norte-americano que caiu no exato dia do nascimento do menino. Ela queria com a homenagem uma ajuda da Nasa, com a esperança de que “os gringos fossem mais responsáveis que o pai dele”.

Garcia Redondo, em “Nomes e Sobrenomes”, conta outras histórias. Em Juiz de Fora, MG, habita uma família cujos filhos se chamam País Soares, Pátria Soares, Céu Azul Soares e Oceano Soares. Na Ilha do Marajó, PA, um fazendeiro pôs nos filhos nomes terminados em Baldo: Ubaldo, Vitebaldo, etc. Como eram muitos, o pai decidiu que aquele que estava por nascer seria o último, razão pela qual foi batizado Parabaldo. Porém, no ano seguinte, houve outra gravidez e a solução foi chamar o menino de Seguebaldo. Outra família paraense deu aos filhos os nomes de Prólogo, Soneto, Ementa e, por acreditarem que seria o último, chamaram-no Epílogo de Campos. Mas nasceu uma menina temporã: Errata. Errata de Campos.

E os evangélicos? São muitos os filhos que passam por gozações com seus nomes tirados da Bíblia. Conheci um homem chamado Diná, nome da única filha de Jacó. Resolveu sua situação sendo chamado de Fernandes. O pastor Jones Bidart Lopes quando militava em Marabá, PA, foi chamado ao cartório para explicar à irmã da sua igreja o significado da palavra Eunuco, nome bíblico que queria dar ao seu filho. Um pastor itinerante passou por Guaíba, RS. Como sua esposa estava grávida, perguntei o nome que dariam à criança. Veio a resposta: “Habacuque.” Não me contive, e disse: “Que horror!” O pastor me disse que gostava muito do profeta. Disse-lhe que eu também, mas seria seu filho quem carregaria aquele nome esquisito pelo resto da vida.

Dar nome ao um filho não é brincadeira. Antes de escolhê-lo é bom saber seu significado. Nomes mal dados podem se tornar um fardo para seu dono. Raquel, a amada de Jacó, estava pra dar à luz ao seu segundo filho, como resposta de oração. O parto foi difícil e Raquel veio a falecer. Antes de morrer, escolheu o nome do filho: Benôni, que significa “filho da minha dor”. Um nome terrivelmente desgastante para uma criança. Seria um trauma para o menino, que sempre se lembraria da tragédia que se abateu sobre o seu lar quando veio ao mundo. Embora fosse a última vontade de sua amada, Jacó o trocou. Chamou-o de Benjamim, “filho da minha mão direita.” Ele não era o mal resultado de um parto, mas seu apoio para o fim da vida. Benjamim seria o filho da sua amada que lhe restaria na velhice.

Hoje, a lei 6015/73 impede que nomes esquisitos sejam registrados, mas todos nós sabemos que este é o País do jeitinho. Caso o nome escolhido fique numa certidão de nascimento, a pessoa terá de esperar 21 anos para contestar sua assinatura.

quarta-feira, 9 de março de 2011

O Brasil Precisa de Trouxas

Faço uma confissão: sou um trouxa! Mas você pode me chamar também de otário. Se você é uma pessoa moderada, chame-me só de bobo. O trouxa é o crédulo que volta e meia é enganado. É um sujeito sem esperteza, que não aprendeu o jogo dos malandros. Ele ainda não foi bem instruído na arte de tirar vantagem em tudo. Por isso, o trouxa fala a verdade, mesmo que ela o incrimine. Trouxa devolve troco dado a mais. Trouxa paga suas contas em dia. Paga até mesmo impostos, por mais mal administrados que sejam. Trouxa não faz coisas ilegais. Não tem manha. Não é como o malandro, que é sagaz e astuto. Enfim, faço parte daquele pequeno grupo de brasileiros que diariamente é desprezado pela sua inocência ou falta de malícia.

Leio Mark Spencer, na revista Ultimato. No elevador, ele ouviu a conversa de uma senhora com o seu filho adolescente. O menino explicava à mãe a artimanha que usou pra colar na prova. A mãe, em vez de lhe dar uma bronca, elogiou a malandragem do filho.

Toda segunda-feira, à tarde, ia até Paços de Ferreira, a 50 Km da cidade do Porto, Portugal, fazer estudos bíblicos com um grupo de jogadores de futebol. Uma tarde, ao passar pelo centro, encontrei dez brasileiros (dois evangélicos no meio) em fila diante de um orelhão. Como a menos de 50m havia outras cabines vazias, perguntei a razão daquela fila. Simples: aquele telefone fazia chamada gratuita para o Brasil.

Na fila do caixa da padaria, um amigo aguardava a sua vez. De repente, chega um senhor, pede licença, e devolve um dinheiro ao caixa, dizendo: “você errou no troco e deu-me dinheiro a mais”. O rapaz atrás da fila exclama: “que otário!”

Vou abastecer num posto de gasolina em Sintra, Portugal, e o atendente é um brasileiro. Converso rapidamente com ele: é mineiro e está ali a poucas semanas. Pago e vou embora. Meses depois, torno a por gasolina naquele posto. Pergunto ao senhor que me atendia pelo destino do brasileiro. O homem me diz: “Também estou à sua procura. Deu-me um golpe de trezentos mil escudos, e fugiu”.

Um político evangélico recebe seiscentos e cinquenta mil reais em doações para a sua pré campanha à presidência da república. Só que as doações são feitas por laranjas, metidos em ONGs, cujas sedes são de fachada, contempladas com verbas milionárias pelo governo de sua mulher, governadora. Como bom malandro evangélico, em vez de provar a sua inocência com notas e fatos, o show-man prefere fazer uma greve de fome.

Tinha razão o Mark Spencer quando disse: “os milhões de malandros deste país estão ajudando-o a afundá-lo na mediocridade”. Não é à toa que todos os dias vemos a Polícia Federal prendendo novos malandros e os jornais anunciando novas fraudes. Enquanto isso, nossos hospitais, escolas e ruas continuam sem recursos para nada e a população, medrosa, fica refém de grupos marginais.

Identifico-me, sim, com aquela mãe cuja filha havia acabado de aprender a fazer ligação de celular de graça, fraudando a operadora. Toda contente, a filha queria ensinar a burla à mãe. Ao que ela lhe disse: “Não quero aprender, não. Eu sempre paguei as minhas contas. É muito triste se é isso que você está ensinando às suas filhas.”

Precisamos sim de gente honesta, que não se importe de ser vista como boba ou trouxa. Temos muitos malandros. Temos até malandros evangélicos. Talvez assim o país vá para frente. Urgentemente, precisamos de otários. Gente que ainda não aprendeu o jogo dos malandros. Você quer ser um ?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Sarampo, Sansão e a Adolescência

“A adolescência é uma doença benigna, parecida com sarampo. Ela se cura por si mesmo, e raramente deixa seqüelas”, diz Rubem Alves. É um período da vida em que o corpo experimenta mudanças físicas: aparecem pelos, a voz se altera e desenvolvem-se os órgãos sexuais. Aquela criança que era dócil e meiga vai ficando maior que os pais. E, agora, tudo o que ela não quer é ser tratada como criança, principalmente diante do grupo. Aliás, ser visto como uma criança é algo simplesmente insuportável para ela.

Rubem Alves tem a tese de que o surgimento dos pelos na adolescência torna-os portadores da “síndrome de Sansão”, assim explicada: Como o segredo da força de Sansão estava no seu cabelo, por uma perturbação mental, o adolescente também pensa que os seus pelos lhe dão poder. Com isso, já não querem ir aos mesmos lugares que os pais frequentam, não falam a mesma língua e também não estão muito interessados em diálogo com eles, principalmente quando estão com o grupo.

A infância é uma época bela, mas toda criança é muito egoísta. Criança se relaciona com os outros pensando nela e no seu bem-estar. É preciso amadurecer para começarmos a pensar nos outros. A adolescência é uma ótima ocasião para isso. Daí a importância do adolescente ter um amigo do peito, antes mesmo de começar a namorar. Com o amigo do peito, o adolescente aprende a compartilhar gostos, ideias e sentimentos com alguém que ele confia, sem ter que se envolver fisicamente com esta pessoa. Com um grande amigo, do mesmo sexo, ele aprende a valorizar o companheirismo, a amizade e o amor. Um amigo assim fará com que crie vínculos preciosos e aprenda a respeitar o outro. Será capaz de discordar do amigo em tudo e, ainda assim, ouvir os seus conselhos.

Aliás, gosto da maneira sincera como os adolescentes, geralmente, se tratam. É verdade que, às vezes, usam uma linguagem dura, caindo mesmo para a grosseria. Mas costumam ser leais. Há pouco tempo acompanhei uma conversa entre quatro deles. Em determinado momento, um flexionou o verbo de maneira errada e foi logo corrigido pelo colega. Claro que se um adulto usasse aquele tipo de linguagem ocorreria um terremoto, de 9º grau na Escala Ritcher, no relacionamento. Mas entre eles é diferente. Eles falam na lata, mas se respeitam.

Só depois de ter um amigo do peito é que o adolescente está emocionalmente apto para pensar num namoro. Ele terá aprendido a ver a perspectiva do outro e será capaz de se relacionar com uma pessoa do sexo oposto, não voltado para si, mas para o bem-estar do outro.

Namoros pegajosos são sintomáticos de casais que não amadureceram. São duas pessoas que se relacionam uma com a outra, mas cada qual voltada para si. São duas crianças querendo tirar proveito uma da outra. O pior é que existem muitos marmanjos que nunca saíram da fase infantil. Eles continuam se relacionando com as pessoas pensando somente neles. São as crianças que mais dão trabalho. Mas, no amor verdadeiro relacionamo-nos com o outro buscando o seu bem-estar. Já dizia Paulo: “O amor não busca os seus próprios interesses”.

Por tudo isso, é importante que os pais ensinem a criança no caminho em que ela deve andar, e deixem o exemplo. Façam tudo o que puderem para inserir no coração da criança valores bíblicos e eternos, enquanto ela é pequena. Procurem fazer com que cresçam no ambiente da igreja, para que seus amigos sejam também pessoas que temam a Deus e tenham princípios cristãos. Acima de tudo, orem para que Deus tenha misericórdia deles. Mas não se desesperem. Lembrem-se: adolescência é como sarampo, logo vai passar.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Ensinando a Orar

Convidado para falar sobre oração numa reunião de homens, eu, no ardor dos meus vinte e poucos anos, cheio de empáfia, comecei a discorrer sobre erros comuns ouvidos nas orações públicas.

Primeiramente, falei da expressão “derrama o teu Espírito”. Fórmula empregada por crentes sinceros que querem ter mais do Espírito Santo em suas vidas. Dizia eu: “O Espírito Santo não pode ser derramado, porque já foi derramado para sempre no dia de Pentecostes (At 2.16-21), como cumprimento de João 14.16. A partir de então, o Espírito está entre nós, dentro de nós, pois tornou-nos crentes”. Orientava ainda: “que o crente sincero peça ao Pai que o ajude a manifestar mais submissão ao Espírito e mais docilidade à sua direção, mas nunca para derramar o Espírito”.

Ainda cheio de arrogância, prossegui: “Outra expressão incômoda é ‘fica conosco’ e sua irmã ‘continua conosco’.” Dizia eu: “Deus não é um ioiô espiritual, que está lá em cima; desce na hora do culto, e depois sobe na hora do seu término. ‘Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos’ foi a última promessa de Jesus, segundo Mateus. O Espírito de Deus habita em nós, conforme 1 Co 3.16. Deus não mora no céu. Ele habita no meio do seu povo, por isso sua presença não precisa ser invocada nem implorada (Jo 14.23)”.

Já achando que estava dando um baile de erudição e de conhecimento bíblico, avancei: “Outra expressão surpreendente é ‘perdoa a multidão dos meus pecados’. Quando ouço um crente orando desse modo, penso que ele não ora há muito tempo, pois como acumulou tanto pecado, assim? Pecado confessado é pecado perdoado: ‘mas se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purifcar de toda a injustiça’ (1 Jo 1.9). O perdoado por Jesus Cristo não tem uma multidão de pecados. Jesus os expiou na cruz”.

Ainda tinha uma ou outra correção a fazer, mas como a hora estava avançada, encerrei a explanação. Foi então que um crente bem simples, mas com grande conhecimento de Bíblia, e muita intimidade com Deus, tomou a palavra, e leu: “Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Leu e sentou. E não precisou dizer mais nada.

Aprendi a lição. Oração não precisa ser ensinada, mas apenas praticada. E mesmo a verdade tem de ser ensinada com amor. Deus não é como aquele juiz do STJ que processou um funcionário porque o chamou, usando a expressão: psiu! Deus não se incomoda tanto com erros teológicos, nem com falhas gramaticais, mas admira a sinceridade do nosso coração: “buscar-me-eis e me encontrareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13). Afinal, antes mesmo de falarmos qualquer coisa, ele já sabe o que vai no nosso coração (Sl 139.4).

Você sabe agradecer? Sabe dizer que gostou ou não de determinada coisa? Sabe mostrar que está doendo? Sabe chorar? Sabe reconhecer seus erros? Às vezes, não é preciso nem palavras, pois Deus conhece tudo. Mais do que as palavras que empregamos é a maneira como oramos que faz a diferença. Bendito o nosso Deus, que usa instrumentos frágeis e loucos para confundir aqueles que se acham sábios. E bendito seja porque ouve e atende a oração de qualquer pecador sincero. Experimente!

terça-feira, 1 de março de 2011

Vida de Lagarta ou de Borboleta?

Na infância, tinha um medo que me pelava de lagarta. Adquiri este pavor quando, certa vez, uma lagarta verde, espichada, subiu nas minhas costas e me queimou.
Daí em diante, uma das minhas vinganças favoritas era pisá-las ou queimá-las, com requintes de maldade. Lá na nossa casa, no subúrbio do Rio, volta e meia elas apareciam no quintal e eu, seu arqui-inimigo, tratava de dar cabo delas.

A vida deu voltas, cresci, tornei-me cidadão urbano e nunca mais vi nem me preocupei com lagartas. A única experiência de que me recordo foi na juventude, em Fernandópolis, SP. Era seminarista e fui fazer trabalho de férias na igreja batista local. Fiquei hospedado na casa pastoral da igreja, desocupada, e, emocionado, acompanhei a transformação de uma lagarta horrível numa linda borboleta.

Ocorre que moro há anos próximo a uma reserva florestal. A minha casa é cercada por matas e árvores por todos os lados. Por isso, embora viva a cinco minutos do centro de Terê, convivo com besouros, lagartas, mariposas e aranhas.

Há duas semanas, uma pequena lagarta tomou um rumo diferente. Tendo ela tantas opções de espaço, escolheu logo o portão de entrada da minha casa para submeter-se ao processo de transformação em borboleta. Por isso, nestas últimas semanas, entre inúmeras idas e vindas, acompanho a transformação da lagartinha.

No início, fiquei preocupado, achando que aquilo não iria vingar. Onde já se viu escolher um lugar tão movimentado e impróprio! A gente vive abrindo e fechando, trancando e destrancando, balançando pra lá e pra cá aquele portão. Talvez por inexperiência, a velha lagarta pensasse que escolhera um lugar sossegado, onde ninguém a perturbasse. Coitada, ela não sabia nada acerca do funcionamento de um portão. Fui tentado a intervir, dando-lhe uma ajudinha. Mas como havia lido aquela história do homem que tentou facilitar o processo, cortando o casulo e o resultado foi triste, sustei meu ímpeto. Agora, já aparece a formação das asas. Os pelos pretos da lagarta deram lugar a uma camada que parece matéria plástica, chamada quitina, e a coisa vai a meio do caminho. Sei como se dá o resto do processo: a crisálida arrebenta pelas costas e, finalmente, a borboleta sai, com suas asas todas úmidas e embrulhadinhas. Depois que as asas secam ao sol, ela está pronta para voar!

Conheci pessoas que eram verdadeiras lagartas. Gente que andou grande parte da sua vida se arrastando pelo chão, de pecado em pecado, incapaz de alcançar vôos maiores. Pessoas que por onde passavam destruíam sonhos e coisas bonitas à sua volta, como a largata destrói plantas e jardins. Foi um marido alcoólatra ali atrás. Foi um filho desobediente aqui. Foi uma mulher fútil e infiel acolá. De repente, passaram por um processo dificílimo, precedido por crises e mais crises. Até que, rendidas pelo amor de Deus, pela metamorfose do arrependimento sincero e da conversão a Cristo, foram transformadas em borboletas pelo maravilhoso poder do Evangelho. A vida então passou a ter um colorido diferente. Descobriram um novo mundo, cheio de belezas e coisas novas. Deixaram de comer plantas e folhas da maldade e passam a se alimentar do néctar da Palavra de Deus. Largaram o chão, ganharam asas e agora são cidadãos do céu.

O problema é que tenho visto muita lagarta sendo pisada ou queimada pelo mundo, e morrendo como mera lagarta. É o ser humano profano, materialista, que só se preocupa com seus instintos humanos. Gente a viver 10, 20, 40, 60, 70 anos neste mundo como lagarta, sem saber que Deus tem um propósito muito melhor para a sua vida. Não sabe que pode se tornar borboleta. Não sabe que, em Cristo, aquela vida pesada, arrastada e sem brilho, se transforma numa vida leve, cheia de luz e passar a desfrutar as coisas do céu.

Fiz também outra descoberta: mesmo que a pessoa esteja se encostando num portão, com uma vida agitada e inconstante, o evangelho é suficientemente forte para resolver o seu problema. O único movimento capaz de impedir a atuação de Deus no interior da sua vida é a sua vontade. O resto, você pode deixar nas mãos de Jesus. Ele é forte o bastante para transformar a sua vida onde você estiver.

Já é tempo de conhecer e experimentar a graça transformadora da mensagem de Jesus Cristo. Quero lhe fazer uma única pergunta: tem vivido como lagarta ou como borboleta?