Convidado para falar sobre oração numa reunião de homens, eu, no ardor dos meus vinte e poucos anos, cheio de empáfia, comecei a discorrer sobre erros comuns ouvidos nas orações públicas.
Primeiramente, falei da expressão “derrama o teu Espírito”. Fórmula empregada por crentes sinceros que querem ter mais do Espírito Santo em suas vidas. Dizia eu: “O Espírito Santo não pode ser derramado, porque já foi derramado para sempre no dia de Pentecostes (At 2.16-21), como cumprimento de João 14.16. A partir de então, o Espírito está entre nós, dentro de nós, pois tornou-nos crentes”. Orientava ainda: “que o crente sincero peça ao Pai que o ajude a manifestar mais submissão ao Espírito e mais docilidade à sua direção, mas nunca para derramar o Espírito”.
Ainda cheio de arrogância, prossegui: “Outra expressão incômoda é ‘fica conosco’ e sua irmã ‘continua conosco’.” Dizia eu: “Deus não é um ioiô espiritual, que está lá em cima; desce na hora do culto, e depois sobe na hora do seu término. ‘Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos’ foi a última promessa de Jesus, segundo Mateus. O Espírito de Deus habita em nós, conforme 1 Co 3.16. Deus não mora no céu. Ele habita no meio do seu povo, por isso sua presença não precisa ser invocada nem implorada (Jo 14.23)”.
Já achando que estava dando um baile de erudição e de conhecimento bíblico, avancei: “Outra expressão surpreendente é ‘perdoa a multidão dos meus pecados’. Quando ouço um crente orando desse modo, penso que ele não ora há muito tempo, pois como acumulou tanto pecado, assim? Pecado confessado é pecado perdoado: ‘mas se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados, e nos purifcar de toda a injustiça’ (1 Jo 1.9). O perdoado por Jesus Cristo não tem uma multidão de pecados. Jesus os expiou na cruz”.
Ainda tinha uma ou outra correção a fazer, mas como a hora estava avançada, encerrei a explanação. Foi então que um crente bem simples, mas com grande conhecimento de Bíblia, e muita intimidade com Deus, tomou a palavra, e leu: “Da mesma forma o Espírito nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis” (Rm 8.26). Leu e sentou. E não precisou dizer mais nada.
Aprendi a lição. Oração não precisa ser ensinada, mas apenas praticada. E mesmo a verdade tem de ser ensinada com amor. Deus não é como aquele juiz do STJ que processou um funcionário porque o chamou, usando a expressão: psiu! Deus não se incomoda tanto com erros teológicos, nem com falhas gramaticais, mas admira a sinceridade do nosso coração: “buscar-me-eis e me encontrareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr 29.13). Afinal, antes mesmo de falarmos qualquer coisa, ele já sabe o que vai no nosso coração (Sl 139.4).
Você sabe agradecer? Sabe dizer que gostou ou não de determinada coisa? Sabe mostrar que está doendo? Sabe chorar? Sabe reconhecer seus erros? Às vezes, não é preciso nem palavras, pois Deus conhece tudo. Mais do que as palavras que empregamos é a maneira como oramos que faz a diferença. Bendito o nosso Deus, que usa instrumentos frágeis e loucos para confundir aqueles que se acham sábios. E bendito seja porque ouve e atende a oração de qualquer pecador sincero. Experimente!
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