Nós, brasileiros, com nossa imaginação aberrante e uma criatividade inesgotável, gostamos de colocar nomes diferentes nos nossos filhos. Aportuguesamos nomes de origem estrangeiras, fazemos combinações fonéticas, inventamos, e assim surgem nomes exóticos.
O poeta Oswald de Andrade, tão celebrado pela famosa “Semana de Arte Moderna”, de 1922, deu aos seus dois filhos os nomes de Lançaperfume Rodometálico de Andrade e Rolando Pela Escada Abaixo de Andrade.
O INSS, então INPS, distribuiu uma lista dos seus contribuintes com nomes mais extravagantes: Graciosa Rodela, Inocêncio Coitadinho Sossegado de Oliveira, João Cara de José, Maria Passa Cantando, Restos Mortais de Catarina, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Antônio Manso de Oliveira Sossegado, Pedrinha Bonitinha de Jesus, Remédio Amargo, Naída Navinda Navolta Pereira, Rolando Caio da Rocha e outros, muitos outros.
O sociólogo pernambucano Mário Souto Maior, no livro “Nome Próprios Poucos Comuns”, recolheu algumas assinaturas, como: Cassilandro do Nascimento Vermes, Cavalo Antônio, Céu Azul do Céu Poente, Colapso Cardíaco da Silva, Cólica de Jesus, Comigo é Nove Na Garrucha Trouxada, Crissopasso Compasso, Dezênio Fevereiro de Oitenta e Cinco, Dourado Peitudo, entre outros.
Souto Maior conta que Maria de Jesus Galisa, maranhense de Timon, teve um filho a quem deu o nome de Skylab – Marcos Skylab Galisa, em homenagem ao laboratório espacial norte-americano que caiu no exato dia do nascimento do menino. Ela queria com a homenagem uma ajuda da Nasa, com a esperança de que “os gringos fossem mais responsáveis que o pai dele”.
Garcia Redondo, em “Nomes e Sobrenomes”, conta outras histórias. Em Juiz de Fora, MG, habita uma família cujos filhos se chamam País Soares, Pátria Soares, Céu Azul Soares e Oceano Soares. Na Ilha do Marajó, PA, um fazendeiro pôs nos filhos nomes terminados em Baldo: Ubaldo, Vitebaldo, etc. Como eram muitos, o pai decidiu que aquele que estava por nascer seria o último, razão pela qual foi batizado Parabaldo. Porém, no ano seguinte, houve outra gravidez e a solução foi chamar o menino de Seguebaldo. Outra família paraense deu aos filhos os nomes de Prólogo, Soneto, Ementa e, por acreditarem que seria o último, chamaram-no Epílogo de Campos. Mas nasceu uma menina temporã: Errata. Errata de Campos.
E os evangélicos? São muitos os filhos que passam por gozações com seus nomes tirados da Bíblia. Conheci um homem chamado Diná, nome da única filha de Jacó. Resolveu sua situação sendo chamado de Fernandes. O pastor Jones Bidart Lopes quando militava em Marabá, PA, foi chamado ao cartório para explicar à irmã da sua igreja o significado da palavra Eunuco, nome bíblico que queria dar ao seu filho. Um pastor itinerante passou por Guaíba, RS. Como sua esposa estava grávida, perguntei o nome que dariam à criança. Veio a resposta: “Habacuque.” Não me contive, e disse: “Que horror!” O pastor me disse que gostava muito do profeta. Disse-lhe que eu também, mas seria seu filho quem carregaria aquele nome esquisito pelo resto da vida.
Dar nome ao um filho não é brincadeira. Antes de escolhê-lo é bom saber seu significado. Nomes mal dados podem se tornar um fardo para seu dono. Raquel, a amada de Jacó, estava pra dar à luz ao seu segundo filho, como resposta de oração. O parto foi difícil e Raquel veio a falecer. Antes de morrer, escolheu o nome do filho: Benôni, que significa “filho da minha dor”. Um nome terrivelmente desgastante para uma criança. Seria um trauma para o menino, que sempre se lembraria da tragédia que se abateu sobre o seu lar quando veio ao mundo. Embora fosse a última vontade de sua amada, Jacó o trocou. Chamou-o de Benjamim, “filho da minha mão direita.” Ele não era o mal resultado de um parto, mas seu apoio para o fim da vida. Benjamim seria o filho da sua amada que lhe restaria na velhice.
Hoje, a lei 6015/73 impede que nomes esquisitos sejam registrados, mas todos nós sabemos que este é o País do jeitinho. Caso o nome escolhido fique numa certidão de nascimento, a pessoa terá de esperar 21 anos para contestar sua assinatura.
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