quinta-feira, 14 de outubro de 2010
Criados no Evangelho, mas Longe do Evangelho
Convidado pelo casal Nancy e Paulo de Tarso, anos atrás fiz uma série de estudos bíblicos semanais numa clínica de recuperação para dependentes químicos. Às quartas-feiras, à tarde, pelo menos umas dez pessoas estudavam a Bíblia conosco. Participar daqueles estudos marcou a minha vida. Rapazes novos, homens casados, casais e até gerente de banco estavam ali tentando romper um vínculo com um maldito vício. O que mais me impressionou foi o número de jovens filhos de crentes. Era fácil constatar que vinham de lares evangélicos e foram criados em igrejas, pois ao mandar abrir a Bíblia nos profetas menores, eles achavam os livros com uma facilidade impressionante. Muitos deles, na infância, foram dedicados a Deus por seus pais, freqüentaram a Escola Dominical, mas em algum momento das suas vidas eles se deixaram envolver pela atração das drogas, que os arruinaram.
Lembro-me bem de um dia quando recebemos um novo interno. Devia ter entre 19 a 21 anos. Educado, atento, ágil no manejar da Bíblia, parecia um anjo. Depois, fiquei sabendo que já havia dado cabo de uma das casas da sua mãe no valor de R$ 300 mil e andava naqueles dias depauperando os bens do pai.
Não sei o que atrai você quando chega a uma cidade? Eu sou atraído por igrejas evangélicas. Vou entrando na cidade e rapidamente localizo uma igreja Batista, uma Assembléia de Deus, uma Metodista.... e assim por diante. Um drogado quando chega a uma nova cidade é atraído pelos pontos de venda da droga. Antes que alguém lhe diga, ele percebe claramente onde obter alimento para o seu vício. Mudar o dependente de ares, levando-o para outra cidade, é puro desperdício. O problema não está na cidade, está nele.
Li que no Centro de Detenção Provisória 4, em Hortolândia, São Paulo, dos 200 jovens presos, 35 eram filhos de evangélicos. A história das suas vidas é simples: criados no evangelho, um dia acharam que seus pais eram caretas, as pessoas da igreja, otárias e eles, espertos. Então, abandonaram os princípios bíblicos que norteavam suas vidas e foram atrás de mais aventuras e fascínios. Passados alguns anos, os otários têm uma vida digna, profissões honradas, famílias constituídas, estão integrados nas igrejas e são úteis à sociedade. E os espertos, geralmente envolvidos com más companhias, detidos, descobrem tarde demais que “embarcaram numa canoa furada”.
Rubem Alves, no seu livro “E aí?”, diz que informações científicas sobre o perigo das drogas são inúteis. Elas não alteram comportamento. Se assim fosse nenhum médico fumaria. Adolescentes e jovens estão “carecas de saber” sobre o perigo das drogas, das bebidas, das más companhias, do sexo livre e do excesso de velocidade com carros e motos. O problema deles é outro. Eles acham que eles estão imunes a encrencas. São espertos e elas nunca baterão na sua porta.
Quando era menino, nas noites de verão, muitas vezes surgiam centenas de mariposas que ficavam em volta das luzes dos postes. Geralmente incomodavam. Então, colocávamos uma bacia d’água embaixo e elas, atraídas pelo reflexo da luz na água, mergulhavam para a morte. Morriam por causa de uma atração brilhante. Assim é o mundo. Ele nos parece atraente; tudo parece ter tanto brilho, as pessoas mostram-se tão radiantes, mas quando mergulhamos na sua direção, vamos ao encontro da morte.
Se você foi criado no evangelho, não troque os valores do evangelho pelos brilhos do mundo. Não basta ser criado no evangelho é preciso ter o evangelho no coração. O escritor de Provérbios já nos lembrava: “O caminho dos ímpios é como a escuridão; nem sabem em que tropeçam”. “Mas a vereda dos justos é como a luz da aurora que vai brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (4.19,18).
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