sábado, 30 de abril de 2011

Qual Será o seu Epitáfio?

Gosto daquela velha história de um funeral em que o pastor elogiava tanto o defunto que, a determinada altura, a viúva chamou o filho mais velho, e pediu que fosse até a urna para ver se era mesmo o pai dele que estava lá.

Agora, pela internet, o irmão Aelmo Queirós me enviou epitáfios de algumas lápides funerárias chilenas. Um dizia assim: “Aqui descansa a minha querida esposa Brujilda Jalamonte (1973-1997). ‘Senhor, receba-a com a mesma alegria com que eu a te envio’”. Outra lápide apresenta: “Tomas Chichilla, 1967-1989. ‘Agora estás com o Senhor. Senhor, cuidado com a carteira’”. Uma terceira diz: “Gustava Gumersinda Guzman (1934-1989). Recordação de todos os teus filhos (menos Ricardo que não deu em nada)”. E, por fim esta: “Aqui descansa Pancrazio Juvenales (1968-1993). Bom esposo. Bom pai. Mal eletricista. Caseiro”.

Vivi alguns anos em Portugal, suficientes para perceber a diferença da nossa cultura para a deles. Quando não gosta de uma coisa, o brasileiro raramente é direto e franco. Para dizer o que não lhe agrada dá voltas, faz alguns elogios, estica a conversa e, quando já está de saída, timidamente diz: “ah, eu queria dizer também...”. Já o português, com honrosas exceções, é curto e grosso. Ele diz logo, e com todas as letras, aquilo que o incomoda. Geralmente vem chumbo grosso.

Um brasileiro não poria num epitáfio que o sujeito roubava carteiras, que era péssimo eletricista ou que não deu em nada. Mesmo que não tivesse virtudes, nossa turma gosta de um panegírico. É o político corrupto, ladrão sem vergonha, que, no funeral, transforma-se numa grande alma, espírito ativo e de coração reto. Como a morte tem a capacidade de transformar estrupícios em pessoas honradas. É um verdadeiro milagre brasileiro.

Fico pensando em qual seria o epitáfio colocado em algumas lápides, caso usássemos da franqueza chilena ou portuguesa: “Aqui jaz Maria. Finalmente a sua grande lingua se calou”. Teríamos também: “Lá se foi Alfredo, um homem que atazanou toda a sua família”. Sem falar naquela: “Aqui estão os restos mortais de Honório, o homem que não deixou saudades”. Não faltaria o epitáfio: “Aqui descansa Etelvina. Enfim, parou de murmurar.” E, numa mais sintética, leríamos: “Aqui estão os restos do sem caráter do Risbólio”. Se a nossa sinceridade se estendesse ao campo espiritual, poderíamos escrever na lápide de alguns: “Aqui está Norberto, que se lembrou de Deus tarde demais”.

Em contrapartida, há gente cuja vida foi tão rica, tão especial e tão virtuosa, que nos faltam palavras para descrever, na ocasião da morte, tudo o que ela significou para nós. Nessas horas, temos de lutar contra o lugar-comum para, com justiça, citar os feitos do falecido. Como a Bíblia diz que as obras acompanham o morto, precisaríamos de uma carreta para transportar as marcas da sua excelência moral, comportamental e espiritual. Mesmo assim, ouso imaginar frases que poderíamos pôr em túmulos de pessoas assim: “Turíbio, o homem que confiava nas promessas de Deus”. Outro epitáfio: “Homenagem dos filhos a Nara, a mãe que nos ensinou a amar a Deus”. Ainda: “Matilde foi uma mulher cheia de ternura e fé”. Ou, simplesmente: “Osório. Perdoado”.

Os Titãs têm uma música, chamada Epitáfio, que diz mais ou menos assim: “devia ter amado mais..., perdoado mais..., brincado mais..., ousado mais”. Mesmo que sua vida não tenha sido útil até aqui, comece hoje a mudar a história da sua vida e do seu epitáfio. Entregue-se nas mãos de Deus, e deixe que Ele a transforme. Que todos tenhamos muitas coisas boas a dizer de você, e que, enfim, o Pai Eterno, no final, diga: “Servo bom e fiel; entra no gozo do teu Senhor!”

quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Arte de Deus nos Surpreender

Fico bastante impressionado com o bom humor de Deus nas páginas do Novo Testamento. E vejo essa boa disposição em vários momentos. Já no início do ministério de Jesus, quando ele vai escolher seus discípulos, o Senhor não os tira dos templos ou das sinagogas. Os apóstolos não são escolhidos entre os sacerdotes e fanáticos pela lei de Moisés, mas Jesus vai para a Galileia, uma vila pobre e insignificante, e chama rudes pescadores para segui-lo.

Deus nos prega peças, usando gente que nós nunca usaríamos. Para ganhar a sociedade machista de Sicar, na Samaria, ele usa uma mulher que costumava atraí-los, não por sua pureza ou por virtudes éticas. Ela era tão desgastada naquela sociedade, que só ia tirar água ao meio-dia, quando as mulheres de bem da vila já estariam fazendo almoço. Pois bem, Jesus conversa com ela, e a deixa tão intrigada, que essa mulher esquece seu cântaro no poço, e corre até a cidade, dizendo ao povo: “ venham, vejam um homem que me disse tudo o que tenho feito, não será ele o Cristo?” Pode uma mulher de vida torta, considerada demolidora de lares, ser usada por Deus para atrair à fé em Jesus a sociedade que a rejeita? Jesus prova que sim.

Nos seus últimos dias de ministério, Jesus passou por Jericó. E, em vez de visitar o mais respeitado rabino, ou o presidente da sinagoga da cidade, passa à noite na casa de um ladrão notório, o maior pilantra da cidade, Zaqueu, o odiado chefe da Receita Federal daquele lugar.

Mas a boa disposição e a capacidade de Deus nos surpreender chegam ao auge nos relatos da ressurreição de Jesus, trazidos por João. O primeiro testemunho de que o túmulo de Jesus estava vazio foi das mulheres (20.1-10). E, naqueles dias, mulher era ‘subnitrato de pó, de nada’. O testemunho de uma mulher jamais era digno de crédito, sendo considerado inferior ao de um homem. Por isso, em Lucas 24.11, os apóstolos pensaram que elas estivessem delirando.

Para piorar as coisas, na Sua sabedoria e bom humor, Deus se manifesta mais diretamente à Maria Madalena, que além de ser mulher, era da Galileia, e da aldeia de Magdala. A região era considerada tão notoriamente depravada e pecaminosa que, de lá, só eram esperadas coisas ruins.

E, se já não fosse pouco, para complicar e agravar o quadro, na história de Maria Madalena havia o registro de uma possessão demoníaca (Lc 8.2). Mesmo que tenha sido totalmente liberta, muitas vezes um endemoninhado é confundido com um louco. É que a linha de percepção de um ou de outro é muito tênue. Assim, Deus permite que tenhamos aqui uma testemunha que facilmente poderia ter sido questionada pelo “emocionado relato de que vira um morto viver novamente”.

Então, as notícias mais espetaculares na história espiritual da humanidade foram confiadas, primeiramente, a pessoas que, pelos padrões humanos, tinham menos gabarito para proclamá-las. E aquilo que não foi revelado a reis, sacerdotes e líderes religiosos, Deus revelou a uma mulher humilde, sofrida e, em certo sentido, desprezada pela sociedade.

No seu bom humor, Deus tem prazer em esconder coisas grandes e importantes dos sábios e eruditos, e revelá-las aos pequeninos (Mt 11.25). A história de Maria Madalena acena para o fato de que, num mundo arrogante e incrédulo, Deus constantemente tem prazer em usar as testemunhas mais humildes para que sejam porta-vozes da Sua graça, dos Seus propósitos, da esperança, e da Sua sabedoria e vitória.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Primavera, a Primeira Verdade

Primavera significa, literalmente, “a primeira verdade”. Talvez querendo nos lembrar que vidas secas e feias, parecendo mortas e acabadas, sem atração e vigor, desprovidas mesmo de qualquer beleza, podem renascer, e se tornar viçosas, bonitas e frutíferas.

Quando os discípulos de Jesus Cristo estavam completamente destituídos de esperança, e a vida parecia algo sem sentido. Quando o mundo deles desmoronou, (pois um traíra o Mestre, outro negara-O, e todos fugiram.) e, medrosos, não sabiam o que fazer das suas vidas patéticas, eis que surge a primavera, a primeira verdade. Jesus ressuscitou! E a tragédia foi transformada em glória; a morte, em vida; e a tristeza em gozo. Veio o romper de uma grande mudança: de repente, os cavardes se tornaram valentes e ousados. Quase todos viraram mártires!

Também quando, em nossa vida, não havia qualquer vislumbre de esperança, e o fardo do viver era tristemente pesado, caótico e sem sentido; não havia assim qualquer razão para lugar e cantar. E, tal como escreveu Hemingwai, dizíamos: “Não há remédio para coisa alguma... a morte é o remédio soberano para todos os infortúnios”, eis que surge Jesus ressurreto. Ele faz nascer em nós uma primavera, a primeira verdade. Assim, descobrimos que Ele não somente ressuscitou na história, mas que agora também nos dá uma nova vida, restaura a nossa sorte e vive em nossos corações.

Cremos que Jesus ressuscitou e está vivo. Cremos na vida após a vida. Cremos que com Ele viveremos eternamente, se nEle crermos. Por isso, se ainda é inverno no seu viver, e a vida para você é “uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando coisa nenhuma”, você precisa de Jesus. Ele faz a primavera chegar em sua vida.

Jesus quer ser a primeira verdade do amor de Deus na sua vida. Traga os galhos secos, e deixe que Jesus faça de você uma nova criatura. Então, virão a alegria, a beleza, o perfume e os frutos espirituais, resultados de uma vida em paz com Deus.

O nosso desejo é que hoje Jesus inaugure uma nova estação na sua vida, e a primavera de Deus nasça no seu coração.


P.S. - Este artigo foi escrito, originariamente, em Lisboa, Portugal, onde,
naturalmente, a Páscoa cai na primavera.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

"Sim, Eu Amo a Mensagem da Cruz"

Na sua biografia, Billy Graham conta que descobriu que nas suas Cruzadas Evangelísticas toda a vez que pregava sobre a crucificação de Cristo e seu significado havia muito mais pessoas se convertendo do que quando expunha outros temas do evangelho. A partir daí, em todas as suas campanhas, ele reservava um dia para falar sobre a cruz.

John Stott , ex-capelão da Rainha da Inglaterra, e um dos maiores expositores bíblicos do mundo, ficou assustado quando descobriu que por 50 anos nenhum teólogo, professor ou erudito (na verdade, ele usou o termo ”escritor evangélico para livros sérios”) escrevia alguma coisa densa sobre a cruz de Cristo, e seu significado nos evangelhos. Assim, em 1986, ele escreveu o clássico “A Cruz de Cristo”.

Oswald Smith já dizia que “a morte de Jesus é tão essencial para a fé cristã que se você pregar a Bíblia, mas não chegar na cruz, você ainda não pregou o evangelho e, na verdade, você está traindo o evangelho.”

A cruz é o centro da nossa fé, por isso o símbolo universal da fé cristã não é a manjedoura, mas a cruz. Os cristãos evangélicos creem que, em Cristo e através do Cristo crucificado, Deus substituiu a Si mesmo por nós e levou os nossos pecados, morrendo em nosso lugar a morte que merecíamos morrer, a fim de que pudéssemos ser restaurados em Seu favor e adotados na Sua família.

Quando o Senhor ressurreto encontrou dois discípulos caminhando em direção a Emaús, tristes e abatidos com a Sua crucificação, começou a lhes relembrar os pontos das Escrituras Sagradas que falavam da necessidade dEle tomar a cruz. Aquilo aqueceu e confortou seus corações, a ponto de eles terem nova disposição para retornar a Jerusalém, anunciando a Sua ressurreição. Assim, o apóstolo Paulo, embora fosse um intelectual, chegou a Corinto jogando fora toda a sua cultura. Então, ele disse: “A cruz é loucura para os judeus e escândalo para os gentios, mas quando estive com vocês, eu não fui com palavras de ostentação e de sabedoria, porque eu não queria que nada impedisse a mensagem do evangelho. Então eu falei pra vocês da cruz, porque eu quero que a entendam.”

Curiosamente, a nossa sociedade faz de tudo para que a mensagem da cruz seja esquecida num canto. Então, hoje, mais importante que a cruz são os ovos de chocolate. Mais importante que a cruz é o coelhinho. Mais importante que a cruz é não comer carne na sexta-feira, já que, nesse dia, o lobby da indústria de pescado é muito forte no Brasil. Em Portugal, um país extremamente católico, desconhece-se esta prática na Páscoa. E mais importante que a cruz é sair, de folga, para passear no feriadão.

Ver incrédulos marginalizando a cruz não surpreende. Mas, hoje, igrejas ditas cristãs colocaram a mensagem da cruz de lado. Até trocaram a cruz pela pomba, símbolo de poder nas hostes evangélicas. E os seus assuntos são milagres, curas, correntes, descarregos e libertação. Em nossa igreja, havia um irmão que durante muito tempo foi locutor de uma rádio do maior grupo neopentecostal do País. Ele era monitorado e proibido de citar versículos bíblicos que falassem da cruz de Cristo.Também era severamente constrangido a não abordar a crucificação.

Mas, como nos ensina o Novo Testamento, na cruz “Deus estava reconciliando consigo mesmo o mundo” em Cristo. Por isso, nesta semana em que se relembra o sacrifício de Cristo por nós, queremos dizer como Paulo: “longe esteja de mim gloriar-me, senão na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo.” Ou como diz o autor sacro:

“Sim, eu amo a mensagem da cruz; suas bênçãos eu vou proclamar.
Levarei eu também minha cruz, até por uma coroa a trocar.”

sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Crentes Paraguaios"

Todo brasileiro sabe que muitos produtos vindos do Paraguai não são legítimos. Para lá vão carros brasileiros roubados, que são revendidos aos paraguaios. Uma vez, até mesmo uma alta autoridade política paraguaia foi flagrada com um BMW roubado no Brasil. Mensalmente, vemos uma procissão de ônibus piratas contrabandeando mercadorias falsas do Paraguai. São cigarros falsificados, produtos informáticos de origem duvidosa, jogos, brinquedos, cds pirateados, e roupas de grifes feitas em quintais guaranis. Tudo isso chega ao Brasil por um preço camarada e faz a festa dos camelôs nas nossas ruas. Sabemos que se o produto vem do Paraguai, imita o verdadeiro, parece genuíno, mas geralmente é falso e inferior.

Nestes últimos anos têm surgido também “crentes paraguaios”. A bem da verdade, hoje, no Brasil, há uma verdadeira legião de “igrejas e crentes paraguaios”. Num primeiro olhar, eles até se parecem com os cristãos genuínos. Têm pinta de crentes, usam roupas de crente, a fala é de crentes, mas a gente logo vê que são falsificados. O pior é que algumas dessas cópias são muito ruinzinhas. Não precisamos conhecer toda a Bíblia para perceber a autenticidade do crente. Basta prestarmos atenção a algumas características do crente fiel.

Em primeiro lugar, o crente fiel traz o selo do Espírito Santo em sua vida. E o Espírito confere santidade a tudo o que faz: seus negócios, seus relacionamentos, suas palavras e atitudes. Por isso, o crente fiel tem apego a tudo aquilo que vem da luz. Ele tem uma irresistível atração pela Palavra de Deus. Tem também prazer em andar em comunhão com gente que anda na luz e deseja aprofundar o seu amor por esses. Já o “crente paraguaio” é egoísta. Ele é seu mundo. Em tudo o que faz, pergunta: “que vantagem tiro nisso?” Não entende aquelas palavras de Jesus: “quem quiser vir após mim negue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e siga-me”. Por isso, a sua principal atividade é a busca de bens e de bons negócios. Ocultamente, sente enorme prazer na felicidade pecaminosa. Como segue seu caminho sem comunhão com Cristo, os seus valores éticos costumam passar longe do evangelho. Como conseqüência, o “crente paraguaio” vive dando escândalo.

Em segundo lugar, o crente fiel busca a Deus pelo que Deus é. Ele diz como o salmista: “Que mais tenho eu no céu, senão a Ti? E na terra não há quem eu deseje além de Ti” (Sl 73.25). Já “o crente paraguaio” procura Deus para obter alguma coisa dele. Deus é um meio para atingir um fim desejado. Por sua vez, “a igreja paraguaia” prega que Deus existe para ajudar as pessoas a progredirem neste mundo. Por isso, toda semana ela tem um novo esquema para você ser ajudado por Deus. E, qual um mordomo-mor, Deus só estará pronto a atender aos caprichos da clientela que paga a igreja. Então, fica fácil perceber que a “igreja paraguaia” prega um “deus paraguaio”. Ele só existe na cabeça dos seus “pastores paraguaios”.

Em terceiro lugar, o crente fiel odeia o pecado e tudo aquilo que o faça afastar-se de Deus. É capaz de ficar firme na Palavra, mesmo que isso lhe custe caro. Já o “crente paraguaio” está preocupado com lucro. Por isso, “igrejas e crentes paraguaias” concentram suas energias em sinais e prodígios. Geralmente o culto é um show e o espetáculo tem de impressionar. Então, é importante haver um exorcismo aqui, um milagrezinho ali, uma frase de impacto acolá, deixando os incautos maravilhados. Só que Jesus disse que chegará um dia quando todos serão desmascarados. Eles chegarão com seus milagres e exorcismos, mas ouvirão do Senhor as seguintes palavras: “apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” (Mt 7.21-23).

Tenho uma boa notícia para o crente genuíno, mas péssima para o “crente paraguaio”: Com seus olhos flamejantes (Ap 1.14), Jesus vai, ele mesmo, examinar a consistência da nossa fé. E naquele dia o fogo provará a obra de cada um (1 Co 3.13). Então todos saberemos quem é crente genuíno ou “ crente paraguaio”.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

"O Bicho Chamado Micróbio"

No início do meu ministério pastoral em Guaíba, RS, a minha esposa dava aulas de matemática na zona rural do município. Apanhava um ônibus da prefeitura que trafegava pelas estradas empoeiradas da roça, catando as crianças. Muitas vezes a chuva fazia daquele trajeto um suplício, pois todos tinham de descer do ônibus para empurrá-lo.

Uma das colegas da Jane pegava o ônibus no meio do caminho, deixando o filho de uns 6 anos aos cuidados de uma vizinha. Ia com o coração na mão, mas não tinha outro jeito. Deixava com ele também uma série de conselhos. A mãe não temia que fosse assaltado, sequestrado ou algo parecido. Temia, sim, que o garoto fosse a um açude, próximo da casa, onde gostava de tomar banho. Cedinho, antes de ir para a escola, ela outra vez lhe lembrava: “nada de fugir para o açude! É perigoso! Além de se afogar, você pode ficar doente.” O guri ouvia aquilo tudo com temor, mas quando via os vizinhos se esbaldando naquelas águas, não pensava duas vezes e fugia. Volta e meia, a mãe regressava da escola e encontrava as roupas do filho molhadas.

Cada dia ela tentava incutir no filho um temor maior. Todos os dias ela buscava uma nova ameaça, suscitando um novo perigo na cabeça do menino, já que as palmadas e os castigos não iam dando resultados. Foi assim que, um dia, ela chamou o filho e, com toda a seriedade da hora, lhe disse: “Filho, a mãe não quer que você vá ao açude, pois lá há um bicho muito malvado, chamado micróbio. Se você for lá, o bicho chamado micróbio vai pegar você!” O filho ficou assustadíssimo com aquelas palavras, afinal, nunca havia sido informado acerca da existência daquele horrível bicho. Talvez por isso, durante quatro ou cinco dias o garoto ficou em casa. Não havia indícios de que tivesse ido à barragem.

Certo dia, ao voltar mais cedo para casa, a mãe flagrou o menino todo molhado. Mas, antes mesmo de dizer ou fazer alguma coisa, a mãe ouviu a seguinte explicação do miúdo: “Mãe, eu estava quietinho no meu canto; mãe, eu nem queria entrar no açude, mas o malvado do bicho chamado micróbio me pegou e me jogou lá dentro!” Naquele dia, apesar de toda a explicação, ele foi disciplinado como nunca havia sido.

Deus tem nos falado acerca do terrível “bicho chamado pecado”, mas, qual crianças, muitos de nós gostamos de brincar com ele. Muitas pessoas acham que tudo o que Deus diz sobre o pecado é uma grande bobagem. Afinal, parece que ele é bom, gostoso ou divertido. Com seu imenso amor por nós, Deus tem tentado nos prevenir, mostrando o seu poder letal. Se as disciplinas de Deus não lhe têm convencido, então se prepare para uma dor maior. Um dia, mais cedo do que você pensa, Deus vai pegá-lo no seu pecado, e você ficará completamente sem escapatória. Então, não custa dizer mais uma vez: cuidado com o “bicho chamado pecado”. Ele parece inofensivo, mas mata.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Entulhos no Coração

Certa vez, fui procurado por um homem riquíssimo. Ele me mostrou seu talão de cheques, e me disse: “Pastor, posso comprar o carro esportivo mais caro que houver no mundo, e sei que posso fazer o cheque, pois tenho saldo no banco. O meu problema não é dinheiro”. Então, começou a desfilar um rosário de mágoas e ressentimentos de vinte anos atrás. Ele havia acumulado duas coisas na vida: dinheiro e entulhos no coração.

Quando pequeno, no lar, diante de uma implicância de um irmão, sempre ouvia a nossa mãe dizer: “cava outro poço”. Era uma referência à história de Isaque, filho de Abraão. Quando foi morar em Berseba, ele foi ficando muito rico. Então, os filisteus começaram a ter inveja dele. Assim, quando cavava um poço e achava água, uma preciosidade no deserto, os filisteus vinham tomá-lo “na mão grande”, alegando que era deles. Mesmo prejudicado, Isaque cavava outro poço. Aquilo foi se tornando rotina. Ele cavava, achava água, os filisteus criavam caso, e ele cedia.

É verdade que, antes de ceder, Isaque discutia e mostrava toda a sua indignação. Afinal, ele tinha “direitos autorais” sobre aqueles poços, que pertenceram ao seu pai. E Isaque tinha uma comitiva grande de servos, era criador de gado e também homem do campo, portanto necessitava de água.

Cavar outro poço não foi fácil nem para Isaque. Aos poucos, ele foi ficando de mau-humor, se sentindo rejeitado, humilhado e odiado. Ele ficava atordoado, intranquilo, achando que todo mundo estava conspirando contra ele, até mesmo Deus. Aquilo foi desenvolvendo nele uma mágoa crescente, uma borra de amargura e um desejo de vingança. Assim, começou a entulhar lixo no seu coração.

Juntamos lixo na alma quando não perdoamos. Com mágoas e ressentimentos danificamos toda a estrutura do nosso ser. Por isso, Jesus disse que nós devemos perdoar. Não é opcional para um crente. É um mandamento de Cristo para nós (Lc 6.35-37). Muitos crentes estão sofrendo porque ainda não perdoaram. E Jesus disse que com a mesma medida com que perdoarmos nós seremos perdoados (Mt 7.2,Mc 11.26).

“Ah, mas eu não consigo esquecer!”, dirá você. Mas perdoar é perdoar, esquecer é esquecer. E quem disse que você tem de esquecer? Afinal, Deus nos fez com um supercomputador, com uma memória muito mais potente do que qualquer PC que tenhamos nas lojas, hoje. Como esquecer algo ou alguém que nos prejudicou? Como esquecer um estupro? Como esquecer alguém que bateu no seu carro, e disse: “não posso pagar!”? Como esquecer uma traição? Perdoar também não é gostar do que lhe fizeram. Perdoar é liberar o coração. Eu não fico mais amarrado àquela pessoa ou àquele caso. Não permita que a dor do seu coração fique clamando por vingança!

Quer saber se realmente perdoou? O teste é: ao se lembrar, dói? Se doer é que a ferida continua aberta e ainda há enfermidade. Se doer é que o perdão ainda não veio. E se ainda dói, busque a cura que está à sua disposição. Só o perdão cicatriza a ferida. Quando perdoamos deixamos Deus fazer uma limpeza, tirando o entulho da nossa alma. É aí que começamos a ser curados.

Por fim, a Bíblia diz que Isaque decidiu dar um banquete a Abimeleque, rei dos filisteus. Então, fizeram um pacto de paz. E sabe o que aconteceu logo depois? Os servos de Isaque chegaram com uma boa notícia para ele: “achamos água!” Deus tirou o entulho do coração de Isaque, e o abençoou assim que ele perdoou os filisteus. E enriqueceu-o justamente com a dádiva que ele mais queria.

Talvez Deus ainda não tenha feito mais coisas por você por causa dos lixos que ainda teimam em ficar na sua alma. A falta de perdão é um grande entulho em sua vida? Então, desentulhe-se já!

sábado, 9 de abril de 2011

Duas Maneiras de Ver a Vida

Em Números 13, o povo de Israel está peregrinando pelo deserto, em direção à terra prometida. Doze homens vão espiar a terra de Canaã e voltam para dar relatório ao povo de Deus. Dois disseram: “Vamos, conquistemos a terra!” Dez retrucaram: “Não, não devemos ir!”

Em certo sentido, a nossa igreja tem também uma terra à sua frente – os nossos desafios, o nosso ministério, a construção do novo templo, a nossa vizinhança e o nosso município.

Há duas maneiras de olhar a Terra.
Os “Josués e Calebes” de hoje veem as uvas, veem as plantações e os frutos espirituais. São crentes que visualizam e sonham com o templo cheio, com conversões e batismos. Já os outros dez veem gigantes, noites de insônia e perseguições.

Como estão os seus olhos? Como vê a vida cristã? Lembre-se: Deus sempre tem grandes planos para o seu povo.

Há duas maneiras de falar da Terra.
Dois disseram: “Subamos..., nós temos a presença do Senhor!” E parece até que podemos vê-los dando o seu relatório e os dez, atrás, abanando a cabeça, dizendo não.

Aquilo que você fala comunica o que você vê. E as suas palavras têm comunicado fé ou têm minado a confiança do povo de Deus?

Há duas maneiras de influenciar o povo de Deus.
Dois disseram: “Vamos lá!” Podemos até vê-los pegando o povo pelos braços em direção à terra. Mas, do outro lado, estavam dez homens tristes, desanimados, apavorados, gritando: “Vamos morrer nas mãos dos gigantes!”

O povo de Deus chorou, reclamou, ficou triste e não foi. Desobedeceu a Deus. Como você tem influenciado o povo de Deus?

Há dois destinos diferentes.
Dois foram preservados com suas famílias para chupar aquelas uvas e para fabricar bons vinhos; para conquistar aquelas terras e lavrá-las. Dez morreram no deserto com suas famílias.

Em certo sentido, a gente recebe o que dá. A gente recebe de Deus o que planta na vida cristã. “Tudo o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6.6).

Você tem semeado fé ou desânimo? Têm fixado seus olhos nas coisas boas ou más? A sua boca incentiva ou destrói? Tem sido do grupo dos 2 ou dos 10?

quarta-feira, 6 de abril de 2011

O que o Dinheiro Está Fazendo com Você?

Em um pequeno artigo devocional para “Nosso Andar Diário”, Philip Yancey foi muito feliz numa frase que disse: “Apesar de Jesus falar sobre muitos aspectos do dinheiro, Ele parece concentrar-se na questão: o que o dinheiro está fazendo com você?”

Para algumas pessoas o dinheiro está fazendo muito mal à sua vida:
Conheço gente que pisa em pessoas por causa do dinheiro.
Conheço gente que bajula pessoas por causa do dinheiro.
Conheço gente que maltrata familiares e amigos por causa do dinheiro.
Conheço gente que está vendendo a sua fé por causa do dinheiro.
Conheço gente que está chorando por causa de dinheiro.
Conheço gente que negocia a sua ética por causa do dinheiro.
Conheço gente que já foi iludida por causa de dinheiro.
Conheço gente que está se tornando escrava do dinheiro.
Conheço gente que perdeu o gosto pela vida por causa do dinheiro.
Conheço gente que está desobedecendo a Deus por causa do dinheiro.
Conheço gente que está brigando com sua família por causa do dinheiro.
Conheço gente que está tentando diminuir Deus por causa do dinheiro.
Conheço gente que pensa que pode comprar Deus pelo vil dinheiro.
Conheço gente que está sendo desonesta para ganhar mais dinheiro.
Conheço gente que está chorando por causa do dinheiro.
Conheço gente que pensa ter seu futuro assegurado por causa do dinheiro.
Conheço gente que está fazendo do dinheiro o seu deus.
Conheço gente que se mostra mau-caráter por seu amor ao dinheiro.
Conheço gente que já foi iludida por causa de dinheiro.
Conheço gente que perdeu a palavra e a honra por causa do dinheiro.
Conheço gente que ficou pequenina e mesquinha por causa do dinheiro.
Conheço gente que pensa que tem um rei na barriga por causa do dinheiro.

Mas também conheço gente cujo dinheiro está sendo bênção para ela e para os outros:

Conheço gente que usa o dinheiro para salvar vidas.
Conheço gente que usa o dinheiro para ajudar a levantar os caídos.
Conheço gente que está usando o dinheiro para socorrer os aflitos.
Conheço gente que usa o dinheiro para mostrar sua grandeza e generosidade.
Conheço gente que usa o dinheiro para expandir o reino de Deus na terra.
Conheço gente que usao dinheiro para fazer o bem.
Conheço gente que abdica do dinheiro para que outros lucrem.
Conheço gente que usa o dinheiro para amar o próximo.
Conheço gente que faz do dinheiro um instrumento do amor de Deus.
Conheço gente que usa o dinheiro para fazer missões no mundo.
Conheço gente que, apesar do dinheiro, continua dependente de Deus.
Conheço gente com dinheiro, que está mostrando que a sua maior riqueza não é a sua conta no banco, ou os seus bens.
Conheço gente que no uso do seu dinheiro mostra que o Reino de Deus está realmente em primeiro lugar na sua vida.

Agora, leia o que a Palavra de Deus nos diz: "De fato, a piedade acompanhada de satisfação é grande fonte de lucro. Porque nada trouxemos para este mundo, e daqui nada podemos levar; por isso, devemos estar satisfeitos se tivermos alimento e roupa. Mas os que querem ficar ricos caem em tentação, em armadilhas e em muitos desejos loucos e nocivos, que afundam os homens na ruina e na desgraça. Porque o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e por causa dessa cobiça alguns se desviaram da fé e se torturaram com muitas dores" (1Tm 6.6-10).


Então, já pensou sinceramente no que o dinheiro está fazendo com você?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"Não por Força ou por Violência"

Há dois anos atrás, uns fanáticos neopentecostais entraram num Centro Espírita, no Catete, RJ, e destruíram tudo o que lá havia, em nome do evangelho. Quando a gente pensa que já viu de tudo, ainda se surpreende. No movimento evangélico atual já temos a volta de amuletos e relíquias; a venda de bênçãos (indulgências); descarregos; impérios econômicos explorando pessoas, e eis que agora surgem bandos truculentos fazendo guerra religiosa em nome de Cristo.

Sou neto de pastor batista. No início dos anos 50, meu avô pastoreou a Primeira Igreja Batista de Petrópolis. Ali foi apedrejado e escorraçado por pregar o evangelho em praça pública. Já ouvi muitos relatos de como os crentes foram perseguidos em Venda Nova, interior de Teresópolis, por tentarem fazem culto ao ar livre. Agora, as coisas mudam: são grupos chamados evangélicos que estão perseguindo os outros.

Um dos legados dos batistas aos grupos evangélicos é a liberdade de expressão e de opinião. As pessoas têm o direito de escolher a sua fé e até mesmo não professar fé alguma. Cada pessoa é responsável por sua vida e por suas decisões. O homem não pode ser tutelado pela Igreja nem pelo Estado. E toda e qualquer intolerância, seja racial, social, religiosa, ideológica ou política deve ser veementemente rejeitada por nós.

É assustador ver pessoas querendo impor o que julgam o certo aos demais. Esta liberdade de opinião permite que a Convenção Batista Brasileira, por exemplo, abrigue em seu meio amilenistas, pré-milenistas, pré-milenistas dispensacionalistas e pós-milenistas. Abrigamos diversas tendências porque este ponto não é fundamental, mas secundário na fé cristã.

Mas, liberdade de expressão não significa aceitar tudo. Somos inegociáveis em pontos onde não há nada para se negociar. E onde há pontos não definidos, mantemos uma postura de respeito. Não podemos agredir a nossa história. Resumimos tudo nisso: “Nas pequenas coisas, diversidade; nas questões capitais, unidade; em todas as coisas, caridade”.

Melhor fariam os ferozes neopentecostais se agissem como fez a família do Pastor Ozir Antônio Manso, na década de 70. Um Centro Espírita comprou uma propriedade ao lado da sua casa. Ele não gostou, mas não bateu em ninguém; não quebrou coisas nem criou encrenca com os novos vizinhos. Ao contrário, começou a orar, pedindo a Deus que agisse. Todas as noites, na hora da sessão espírita, ele se reunia com a família em culto doméstico, pedindo que o Senhor não permitisse que aquilo fosse adiante. Três meses depois o Centro foi fechado, porque “os guias” não estavam conseguindo baixar. Problemas espirituais são resolvidos espiritualmente. Ou como diz o profeta Zacarias: “Não por força nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6).

sexta-feira, 1 de abril de 2011

"Não Tem Cérebro, Mas já Devorou Mais Livro que Você"

Numa Campanha para uma Feira do Livro em Lisboa, um publicitário brasileiro pôs num outdoor uma imensa traça e cunhou a frase acima. Com ela, foi premiado no “Festival Publicitário de Cannes” com o “Leão de Ouro”.

Quando era seminarista, tínhamos de apresentar um estudo usando todas as normas aprendidas na disciplina “Metodologia da Pesquisa” . Um dos meus colegas resolveu estudar sobre os anjos. Pesquisou, reuniu informações, coligiu livros e apresentou um trabalho correto, mas despretensioso. O professor implicou com o título que ele deu ao trabalho: “Um pouco sobre anjos”. Como resposta, ele explicou: “é que li um livrinho, de poucas páginas, cujo titulo era: ‘Tudo sobre Anjos’. Como nunca tive a pretensão de esgotar o assunto, achei o meu trabalho mais honesto”.

Eu mesmo li “Decepcionados com Deus”, de Yancey, com uma expectativa muito alta. Na medida em que lia o livro fui ficando decepcionado com o autor. Tanto assim, que passei anos sem comprar qualquer livro dele. Um dia, empolgado, meu irmão gêmeo disse-me que a leitura do livro “O Jesus que eu nunca conheci”, do mesmo autor, tinha lhe sido muito proveitosa. Emprestou-me o livro, e eu, outra vez, fui ficando decepcionado. Afinal, eu já conhecia aquele Jesus há anos! Para mim, não havia nada de novo naquela abordagem. Deixei a leitura na metade. O tempo passou e alguém me citou uma frase de Yancey naquele livro. Tornei a pegá-lo e, agora, a sua leitura me fez muito bem. Finalmente, num aniversário, minha irmã me presenteou com outro livro dele: “Igreja: por que se importar?” Aquela leitura me fez comprar outros livros seus. Descobri que muitas vezes a nossa expectativa interfere na maneira de ler um livro.

Tempos atrás, a irmã Beth Amaral me emprestou um livro de Rubem Alves, intitulado “E aí?” Quase que lhe faço uma paráfrase de Filipe, e lhe pergunto: “pode vir alguma coisa boa de um livro cujo título é ‘E aí?’” Eu nunca pararia numa livraria para comprar um livro com tal título. Ela me explicou que o livro fora escrito pra pais de adolescentes e adolescentes. Confesso que o “devorei”. Só o larguei quando acabou. Agora, eu o tenho emprestado a pais de adolescentes, e o livro os tem ajudado.

Finalmente, há vinte anos atrás, caiu-me às mãos um livro de James Dobson: “O amor tem de ser firme”. À medida que o lia, percebi que fazia a sua leitura com 16 anos de atraso. Se o conhecesse há mais tempo, teria tido oportunidade de ajudar muitas famílias em crise. Agora, embora o meu exemplar esteja velhinho, eu ainda tenho visto Deus usá-lo para restaurar esperança a muita gente.

Se a traça tem devorado mais livro que você, saiba que um bom livro consola, alegra, denuncia, critica, corrige e abre nossos horizontes. Não deixe que a traça viva com mais intensidade e mais emoção do que você. Leia um bom livro. Peça sugestões.