quarta-feira, 13 de abril de 2011

Entulhos no Coração

Certa vez, fui procurado por um homem riquíssimo. Ele me mostrou seu talão de cheques, e me disse: “Pastor, posso comprar o carro esportivo mais caro que houver no mundo, e sei que posso fazer o cheque, pois tenho saldo no banco. O meu problema não é dinheiro”. Então, começou a desfilar um rosário de mágoas e ressentimentos de vinte anos atrás. Ele havia acumulado duas coisas na vida: dinheiro e entulhos no coração.

Quando pequeno, no lar, diante de uma implicância de um irmão, sempre ouvia a nossa mãe dizer: “cava outro poço”. Era uma referência à história de Isaque, filho de Abraão. Quando foi morar em Berseba, ele foi ficando muito rico. Então, os filisteus começaram a ter inveja dele. Assim, quando cavava um poço e achava água, uma preciosidade no deserto, os filisteus vinham tomá-lo “na mão grande”, alegando que era deles. Mesmo prejudicado, Isaque cavava outro poço. Aquilo foi se tornando rotina. Ele cavava, achava água, os filisteus criavam caso, e ele cedia.

É verdade que, antes de ceder, Isaque discutia e mostrava toda a sua indignação. Afinal, ele tinha “direitos autorais” sobre aqueles poços, que pertenceram ao seu pai. E Isaque tinha uma comitiva grande de servos, era criador de gado e também homem do campo, portanto necessitava de água.

Cavar outro poço não foi fácil nem para Isaque. Aos poucos, ele foi ficando de mau-humor, se sentindo rejeitado, humilhado e odiado. Ele ficava atordoado, intranquilo, achando que todo mundo estava conspirando contra ele, até mesmo Deus. Aquilo foi desenvolvendo nele uma mágoa crescente, uma borra de amargura e um desejo de vingança. Assim, começou a entulhar lixo no seu coração.

Juntamos lixo na alma quando não perdoamos. Com mágoas e ressentimentos danificamos toda a estrutura do nosso ser. Por isso, Jesus disse que nós devemos perdoar. Não é opcional para um crente. É um mandamento de Cristo para nós (Lc 6.35-37). Muitos crentes estão sofrendo porque ainda não perdoaram. E Jesus disse que com a mesma medida com que perdoarmos nós seremos perdoados (Mt 7.2,Mc 11.26).

“Ah, mas eu não consigo esquecer!”, dirá você. Mas perdoar é perdoar, esquecer é esquecer. E quem disse que você tem de esquecer? Afinal, Deus nos fez com um supercomputador, com uma memória muito mais potente do que qualquer PC que tenhamos nas lojas, hoje. Como esquecer algo ou alguém que nos prejudicou? Como esquecer um estupro? Como esquecer alguém que bateu no seu carro, e disse: “não posso pagar!”? Como esquecer uma traição? Perdoar também não é gostar do que lhe fizeram. Perdoar é liberar o coração. Eu não fico mais amarrado àquela pessoa ou àquele caso. Não permita que a dor do seu coração fique clamando por vingança!

Quer saber se realmente perdoou? O teste é: ao se lembrar, dói? Se doer é que a ferida continua aberta e ainda há enfermidade. Se doer é que o perdão ainda não veio. E se ainda dói, busque a cura que está à sua disposição. Só o perdão cicatriza a ferida. Quando perdoamos deixamos Deus fazer uma limpeza, tirando o entulho da nossa alma. É aí que começamos a ser curados.

Por fim, a Bíblia diz que Isaque decidiu dar um banquete a Abimeleque, rei dos filisteus. Então, fizeram um pacto de paz. E sabe o que aconteceu logo depois? Os servos de Isaque chegaram com uma boa notícia para ele: “achamos água!” Deus tirou o entulho do coração de Isaque, e o abençoou assim que ele perdoou os filisteus. E enriqueceu-o justamente com a dádiva que ele mais queria.

Talvez Deus ainda não tenha feito mais coisas por você por causa dos lixos que ainda teimam em ficar na sua alma. A falta de perdão é um grande entulho em sua vida? Então, desentulhe-se já!

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