sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Crentes Fiéis Doentes Sim Senhor!

O pregador na TV dizia, com voz suave e cativante: “a enfermidade não existe. Ela é uma mentira porque ela é do diabo, e o diabo é mentiroso.” Depois disso, para defender que os cristãos não mais ficam doentes ou que Jesus nos cura de todos os males, usou Isaías 53.4: “Verdadeiramente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si...”

De fato, Jesus foi ferido para que pudéssemos ser curados. Mas isto é uma linguagem figurada para mostrar que o castigo que nós, pecadores, merecíamos, foi suportado por Jesus, nosso substituto. Dizer que Jesus, na cruz, levou todas as nossas doenças físicas e por isso o crente verdadeiro não fica doente, é violentar a graça de Deus e desconhecer o Novo Testamento.

O evangelho chegou aos Gálatas porque o apóstolo Paulo ficou doente: “como sabem, foi por causa de uma doença que lhes preguei o evangelho pela primeira vez” (Gl 4.13). A Igreja de Filipos enviou uma oferta ao apóstolo por mãos de Epafrodito. Quando lá chegou, ficou doente e quase morreu, mas Deus teve misericórdia dele (Fp 3.27,28). O pastor Timóteo tinha gastrite e frequentes enfermidades (1 Tm 5.23) e Paulo deixou seu companheiro Trófimo doente na cidade de Mileto (2 Tm 4.20). O apóstolo também tinha um espinho na carne crônico, que o machucava. Paulo acabou dando graças a Deus por ele (2Co 12.7-10). Além disso, quando Lázaro ficou doente, suas irmãs mandaram o seguinte recado a Jesus: “Aquele a quem amas está enfermo” (Jo 11.3). Elas sabiam que Lázaro era amado por Jesus e, mesmo assim, ficou doente. Em nenhum desses textos a Bíblia sequer insinuou que a doença e a dor eram uma grande mentira.

Vivendo num mundo pecaminoso é natural ficarmos doentes. Adoecemos por herança genética, por contaminação, por acidente e por não cuidarmos do corpo. Além disso, nunca devemos nos esquecer de que vivemos a tensão entre o já e o ainda não. Ou seja: nós já fomos salvos, mas ainda não somos participantes da glória de Cristo. Já fomos perdoados, predestinados, justificados, estamos sendo santificados, mas ainda não fomos glorificados. Chegará um dia quando seremos glorificados e aí não haverá mais dor, nem lágrimas, nem morte ou pranto (Ap 21.4; 22.2).

Além do mais, o texto de Isaías que mostra Jesus levando nossas enfermidades também ensina que ele carregou todas as nossas dores sobre si. Seria o caso de o crente verdadeiro nunca mais sentir qualquer dor física. Seria muito bom também observar se esses pregadores têm alguma obturação dentária ou se usam óculos. Em caso positivo, peça-lhes, por favor, um pouco de coerência.


Atribuir enfermidade à ação do demônio na vida de uma pessoa, que já está sob assistência médica, é pura maldade. Só acrescenta dor moral a quem já está sofrendo dores físicas. Pois agora, além do sofrimento físico, têm de suportar a acusação de culpa pela doença. Como bem diz o Pastor Falcão Sobrinho: “devemos ser consoladores e não acusadores dos nossos enfermos”. E lembre-se: Satanás só pode agir diretamente na vida de um filho de Deus por permissão especial de Deus, como no caso de Jó.

Creio em milagres. Creio no poder da oração. Inclusive, já fui curado milagrosamente. Mas tenho visto servos fiéis do Senhor caindo doentes e morrerem, não obstante as orações sinceras do povo de Deus. Tenho visto que, mais que curar fisicamente, Deus quer restaurar o homem por inteiro. Ele cura alguns da enfermidade e outros são curados na enfermidade. São crentes que, em meio ao sofrimento, enfrentam esta hora com tranquilidade por causa da sua fé em Cristo. É que o evangelho não é somente o que Jesus quer fazer por nós, mas o que Ele quer ser nas nossas vidas. No fim, podemos dizer: “Se vivemos, para o Senhor vivemos; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.8).

domingo, 26 de dezembro de 2010

Guarda-Costas Para 2011

Fazia estudos bíblicos para um grupo de jogadores de futebol, em Freamunde, no Norte de Portugal, quando na primeira reunião após o Carnaval um recém-convertido me fez a seguinte pergunta: “Pastor, quais são as recomendações para a Quaresma?” Disse a ele que as recomendações bíblicas para aquele período eram as mesmas de todos os dias do ano.

Agora, quando 2011 bate às nossas portas, sei que muitos crentes desejam que os pastores apresentem um conjunto de regrinhas que garanta sucesso para o Ano Novo. Mas, tudo o que vai precisar para o Ano Novo é aquilo que você também necessitou para todos os anos velhos que já cruzou.

Gostamos de recitar textos bíblicos, mas muitas vezes não sabemos aplicá-los à nossa vida. O Salmo 23 é um deles. Muitos crentes conhecem o Salmo, mas não desfrutam do Pastor. E é nesse Salmo que temos uma das promessas mais tranquilizadoras sobre o nosso amanhã. No v. 6, temos o único versículo cujos verbos estão no futuro: “certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida e habitarei na casa do Senhor por longos dias.”

O nosso Bom Pastor coloca à disposição dos crente dois guarda-costas para protegê-los no futuro. Um se chama “Bondade” e outro “Misericórdia”. Ele promete que esses seguranças não nos perderão de vista, pois andarão grudados em nós. A primeira palavra é “tov” e significa “tudo o que é bom”. A segunda palavra é “hesed”, que é a palavra mais rica da língua hebraica. Hesed é o amor do Pacto, que levou Deus a escolher Abraão, Isaque e Jacó. É o amor que não se altera, pois tem disposição para amar até o fim. É o amor que não pode aumentar porque não tem para onde crescer. É o amor no grau máximo, que nunca irá diminuir porque Deus nunca deixa de amar assim. Esse amor está bem definido numa expressão do Novo Testamento, que diz: “se formos infiéis ele permanece fiel porque não pode negar-se a si mesmo (2Tm 2.13).” É o amor que assume compromisso e cuida. Então, Deus está dizendo que não haverá um único dia na minha vida em que Ele se esqueça de mim, pois não é um Deus com humor instável, que um dia me aceita e no outro, não. Deus não é Alguém que só me trata bem se eu for um bom menino, ou quando eu me comporto bem. Não! Esta bondade e misericórdia não dependem de quem nós somos, nem do que fazemos, mas daquilo que Deus é.

No último dia do ano você pode pular sete ondas, usar roupa nova ou comer lentilhas, como ensina esta sociedade que não conhece o nosso bom Deus. Mas o melhor que você pode fazer é ter esse Deus como Pastor e Senhor da sua vida. Ele cuida de nós todo o ano. E ainda coloca à nossa disposição Seus guarda-costas Bondade e Misericórdia, para que o nosso andar seja seguro, cheio de graça, e abrigado pelo Seu poder.

Portanto, se você é crente em Jesus, o Bom Pastor, não se preocupe com 2011. Haja o que houver, esses Guarda-Costas Celestiais estarão vigiando a sua vida. Podemos não saber como será o nosso futuro, mas sabemos Quem estará conosco no futuro. Descanse nisso, e tenha um maravilhoso Ano Novo!

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

“Feliz Natal!” – O Que é Isso?

Nesta época recebemos muitos cartões com votos de um Feliz Natal. Os amigos, os parentes e vizinhos saúdam-nos: “Feliz Natal!” O homem do mercado, a mulher do açougue, o jornaleiro e o rapaz da loja desejam-nos: “Feliz Natal!” Mas o que querem dizer realmente com essa expressão?

Será que “Feliz Natal!” é ter uma mesa farta, com bebidas variadas, um bom bacalhau, peru, chester, panetone e frutos secos? Se é isso, então “Feliz Natal!” significa, na verdade: “Coma bem!”, “Tenho uma ótima Ceia!”, “não vá ter indigestão, hein!”, ou “cuidado com o excesso de comidas e bebidas!” Assim, uma pessoa que não tiver uma mesa sortida terá todo o direito de dizer: “tive um péssimo Natal!!”

Ou “Feliz Natal!” significa boa companhia e boa confraternização social? Se é isso, então o que as pessoas querem nos dizer, de fato, é: “olha, reúna-se com pessoas amigas e saudáveis”, ou “procure passar momentos agradáveis junto das pessoas que mais gosta!”. Nesse caso, se estiver longe dos amigos, da família e das pessoas queridas o seu Natal será um fracasso.

Pode ser também que “Feliz Natal!” seja uma referência aos presentes. Aí, as pessoas desejam que você ganhe bastante prendas no Natal. Poderíamos traduzir a saudação como: “que você fique encantado e sinta-se enriquecido e amado com todos os presentes que vai ganhar!” Então, pouco presente é sinal de um Natalzinho pra esquecer!

Se o meu raciocínio estiver certo, Natal seria uma espécie de “Festa de aniversário do mundo ocidental”, onde todos assopram as velas, recebem os parabéns, os presentes e comem bem.

Temo que nós, que já fomos transformados pelo sangue de Jesus, também pensemos que “Feliz Natal!” seja uma referência à mesa, aos presentes e as confraternizações.

Mas o Natal cristão não é isso. Natal pra mim é outra coisa. É outra festa. É algo interior. “Feliz Natal!” é ter certeza de que Jesus, o Deus-Homem, nasceu em Belém da Judeia, mas também nasceu na minha vida e vive no meu coração. “Feliz Natal!” é Deus comigo! “Feliz Natal!” é comemorar uma alegria que ninguém pode roubar; é ter certeza do perdão de Deus. “Feliz Natal!” é saber que tenho rumo na vida. Através de Jesus Cristo, sei quem eu sou e, independentemente do que me vier acontecer, sei que sou amado e aceito por Ele. “Feliz Natal!” é saber que na eternidade também participarei da glória de Cristo.

Enfim, para um crente em Jesus Cristo, “Feliz Natal!” é uma redundância. Se a pessoa já renasceu em Cristo, no muito ou no pouco, na mesa farta ou na simples, com a presença dos amigos ou não, o seu verdadeiro Natal é feliz!



Publicado pela 1ª vez em 09 de Dezembro de 2001

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Ousadia de Recomeçar

Há dois anos, o Coro Infantil da nossa igreja apresentou o musical de Natal,“Anjos, Preparem-se!”, de Celeste Clydesdale. Era, então, a vez de Caio Liszt, filho de Hezil e Bergson, fazer o prelúdio do culto, ao piano. Ele tocava o hino “Cantam Anjos Harmonias”, quando, de repente, ficou travado numa nota musical que insistia em sair errada. Então parou. Voltou-se para a congregação com um gesto manual, tipo: “esperem aí” e, tranquilo, disse: “vou começar de novo”. Reiniciou o hino e tocou tudo certinho.

Caio, de oito anos, teve a coragem de recomeçar, coisa que muito adulto velho não tem. Como é difícil recomeçar! É preciso ter muita bravura para tal. Ah!, quanta gente andando por aí necessitada de fazer uma revisão na vida; tropeçando na partitura da alma, produzindo sons dissonantes e, tal como o Caio, precisando reavaliar a sua situação; parar, e começar de novo. Gente com a vida desafinada, insistindo no erro, como se tudo estivesse bem.

Música é uma coisa muito boa. Ela toca o nosso coração; trás enlevo e emoção; atiça boas recordações e, não poucas vezes, atinge maravilhosamente a nossa alma. Mas, música desafinada é desconcertante. É uma espécie de punhalada no nosso coração. É um golpe cruel nos nossos ouvidos. Incomoda. Irrita. Constrange. Causa mal-estar. E o pior: por menor que seja a peça, música mal executada demora a terminar.

Para recomeçar é preciso, primeiro, humildade de reconhecer que a coisa não está boa. É preciso assumir que o erro é nosso. Caio não ficou arrumando desculpas. Não procurou um bode expiatório nem justificou as suas falhas. Ele estava insatisfeito com a sua exibição e assumiu publicamente que não estava bom. Então, tomou a decisão correta: começar de novo.

Caio também não ficou acomodado com a sua má apresentação. Ele, rapidamente, percebeu que podia fazer melhor. Sabia que podia apresentar algo mais bonito e atraente. Tinha certeza de que podia conseguir uma execução mais agradável. Poderia alçar voos mais altos. O seu coração palpitava por um patamar mais ousado como pianista. Mesmo porque estava num culto, tocando para Deus. Então, abandonou o erro e recomeçou.

Pensando bem, muita gente nunca mudou nem vai mudar porque nunca teve a humildade nem a ousadia do Caio. Vai empurrando com a barriga a sua vida, cheia de falhas e de incorreções, fingindo que está tudo bem, e pensando que ninguém está ouvindo ou vendo o seu fracasso.

Mas, ao assumir a sua má situação, Caio ganhou a nossa admiração. Começamos a torcer para que sua execução desse certo. Acompanhamos com santa expectativa cada nota que dedilhava ao piano. E, contentes com seus acertos, apreciamos o seu progresso.

Naquele domingo, Deus usou o Caio para nos ensinar que nunca é tarde para recomeçar. Ele nunca se desaponta com os nossos erros, desde que os reconheçamos. Afinal, os piores pecadores foram muito bem aceitos por Jesus quando reconheceram que necessitavam da sua misericórdia para recomeçar.

Que tal aproveitar este final de ano para fazer uma avaliação espiritual da sua vida. Abandone as notas dissonantes e peça a Deus uma alma mais sintonizada com o seu diapasão. Pare. Recomece. Não se afaste dos acordes majestosos que Deus escreveu para a sua vida e peça a ajuda do Mestre para recomeçar a carreira afinado com os Seus propósitos. E que sua vida seja uma belíssima canção de louvor a Deus no próximo ano. Feliz ano novo!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Os Sobrinhos do Diabo

Comemoramos no 2º domingo de Dezembro o “Dia da Bíblia”. Houve um tempo na minha vida quando carregar uma Bíblia era tremendamente difícil. Aquele livro era muito pesado. Como os seus ensinos andavam longe do meu coração, precisava de muita coragem para andar com ela nas mãos, sobretudo diante dos meus colegas. Interessante que, à medida que a minha vida com Deus foi se acertando, a Bíblia começou a ficar leve. Carregá-la já era fácil. Hoje é relativamente simples carregar uma Bíblia nos braços. Difícil é carregar a sua mensagem no coração.

O problema não é tanto a Bíblia em si, mas a sua interpretação. Há aplicações variadas, para todos os gostos. Falando num congresso fluminense, o Pastor Isaltino Gomes Coelho Filho fez várias citações: um pastor pregou, dizendo que mulher não deveria fazer cesariana, pois Gênesis 3.6 diz que “com dor dará a luz filhos”. Outro pregou contra o esporte porque 1 Timóteo 4.8 diz que “o exercício corporal para pouco proveita”. Ainda outro pregou contra a televisão, porque nela vemos o que não devemos ver. Usou 2 Samuel 11.2, quando “do terraço viu Davi uma mulher que estava se lavando”. Em contrapartida, outro mensageiro imaginou que a expressão apocalíptica “E todo o olho o verá”(1.7), se cumprirá por televisão, via satélite. Aliás, é grande o número de líderes doentes que fazem o povo de Deus adoecer. Enxergam na Bíblia coisas que ela nunca quis dizer.

Há pregadores que usam a Bíblia para enviar recados aos que discordam dele. Há os que se valem do sermão, usando a Bíblia, para que suas vantagens pessoais prevaleçam. Há os que usam versículos fora do contexto. E há também aqueles são até bem intencionados, mas ignoram o contexto cultural em que o texto foi produzido.

Está voltando à moda o seu uso astrológico e alegórico. Ela está sendo usada apenas para indicar algumas práticas das pessoas. O seu impacto histórico é desprezado, pois o intérprete está apenas interessado que ela seja um depósito de cenas e eventos. Não é tanto o que a Bíblia diz, mas como ela autoriza a sua visão pessoal da vida. A Bíblia é apenas um mero suporte para o pregador. Não é à toa que a gente vê tanta esquisitice sendo dita como revelação da Palavra de Deus.

As pessoas também ignoram que a revelação de Deus é progressiva. O Antigo Testamento é a Palavra de Deus, mas foi dada num estágio inicial da revelação, quando o povo de Deus estava no jardim de infância da fé. Jesus é a revelação final. Ele tem a última palavra em tudo. Por isso, na transfiguração, quando aparecem Moisés, representando a lei, e Elias, representando os profetas, Deus interveio, retirando ambos de cena, e declarando: “este é o meu filho amado em quem me agrado. Ouçam-no!” (Mt 17.5). A interpretação bíblica que faz Jesus sumir é delirante. Por isso, Lutero já dizia: “Jesus é o cânon dentro do cânon”.

As pessoas fazem confusão entre livre exame das Escrituras com livre interpretação das Escrituras. Todos têm o direito de estudar e examinar as Escrituras, mas ninguém tem o direito de interpretá-la como quiser. Por isso, em que pese dois mil anos de cristianismo, de repente surgem novos profetas e gurus que acham no Novo Testamento coisas inéditas que a cristandade nesses vinte séculos nunca viu. Desconfie.

O primeiro intérprete bíblico foi o Diabo. Está lá em Gênesis 3.1. Ele foi o primeiro a falar sobre Deus e a distorcer suas palavras. Muitos intérpretes da Bíblia, hoje, parecem ser sobrinhos do Diabo. Apresentam um deus tão insosso, uma interpretação tão incoerente e imperfeita que só existe na cabeça deles. Por tudo isso, ame a Bíblia, mas muito cuidado com os "sobrinhos do Demo".

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

A Beleza do Efêmero

Quando regressei de Portugal, após doze anos de atividades missionárias, a Junta de Missões Mundiais da CBB me colocou à disposição um apartamento na Tijuca, RJ, próximo ao Clube Monte Sinai, até que Deus definisse o meu novo destino. Daquele prédio avistava facilmente a sinagoga vizinha e as suas reuniões semanais. Uma das semanas mais intrigantes que observei foi quando os judeus celebravam a Festa dos Tabernáculos.

O rabino Harold Kushner termina seu livro “Quando Tudo Não é o Bastante” falando da Festa dos Tabernáculos (Sukkot, em hebraico). Ele diz que, na vida de Israel, ela era um protótipo do Dia de Ação de Graças, pois os judeus agradeciam, no outono, a colheita realizada. E até hoje, para a festa, a tradição judaica ergue um barracão tosco, com algumas tábuas e galhos de árvores. E convidam os amigos que chegam para beber vinho e comer frutas. Os judeus celebram ali a beleza das coisas efêmeras: pois o próprio barracão será destruído no final da semana, as frutas frescas se estragarão em breve, caso não sejam logo consumidas. E os amigos talvez não fiquem com eles tanto tempo quanto poderiam desejar.

Ivan Lins e Victor Martins escreveram uma música que eu gosto muito, chamada “Guarde nos olhos”. Quando a ouço, imagino uma família pobre saindo do interior, indo para uma grande capital, e então o pai diz: “Guarde nos olhos a água mais pura da fonte, beba esse horizonte, toque nessas manhãs. / Guarde nos olhos a gota de orvalho chorado, guarde o cheiro do cravo, do jasmim, do hortelã. / Guarde o riso como nunca se fez, corra os campos pela última vez. / Guarde nos olhos a chuva que faz as enchentes, vai um pouco da gente rumo a capital. / Vai dentro da gente, vamos pra capital.” A letra é um convite para guardarmos a beleza das coisas simples do campo, que não podemos comprar e revê-las na capital.

O rabino nos ensina que “o mundo está cheio de coisas bonitas..., mas temos que as apreciar logo, porque não vai durar muito.” Pare de correr, e valorize as pessoas e os amigos que estão à sua volta. Se ainda tem seus filhos consigo, dê um grande abraço neles, beije-os sempre, diga que os ama, e curta este momento porque ele é brevíssimo. Saiba que, em muitas famílias, as melhores recordações da vida chegam da fase em que eram crianças. Se você tem um amigo especial, leal, que enche sua vida de generosidade e significado, valorize-o, antes que ele não esteja mais ao seu lado. Se seus pais ainda estão vivos, e moram perto de você, abrace-os com amor, e aproveite as oportunidades para que saibam o quanto são importantes na sua vida. Se você tem tido uma boa companhia com quem você divide momentos de alegria, valorize esses momentos. A vida aqui não vai durar para sempre.

Gosto de fotografia. Uma vez, na Grande Lisboa, fiz minha família esperar até tarde, na praia, para que pudesse tirar fotos do pôr-do-sol. Aí, quando o sol já declinava, entrou uma nuvem no horizonte, e acabei não tirando uma foto sequer. A família protestou pela espera, mas eu só queria valorizar e celebrar aquele instante. Acorde mais cedo e veja o sol nascer. Sinta o cheiro de uma flor e repare a sua beleza. Ouça o canto dos pássaros e convide seu amigo para almoçar com você. Olhe à sua volta, e contemple as coisas bonitas que estão próximas. Algumas delas são gratuitas, mas efêmeras. É tempo de ser feliz com quem você ama. Admire tudo isso, e aprecie logo, pois não vai durar muito.

Não se esqueça também de “praticar a justiça, amar a misericórdia e andar em humildade com o seu Deus”, conforme nos diz o profeta (Mq 6.8). Admire as coisas bonitas e simples ao seu redor, esta é uma das maneiras de dar sentido à vida e tirar o máximo de proveito dela.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Um Espelho para a Alma

No seu livro “Mosaico de Deus”, o pastor Helmut Thielicke conta que fez seu filho, ainda pequeno, olhar-se num grande espelho. A principio, ele não se reconhecia, pois ainda era muito ingênuo. Apenas a presença daquele menino risonho no vidro cristalino lhe causava muita alegria. De repente, porém, alterou-se a expressão do seu rosto. Descobriu, finalmente, pelos movimentos simultâneos que aquele ali era ele mesmo.

Sempre que me olho no espelho dou graças a Deus. Mas não é pelo que você está pensando, não. Dou graças a Deus porque, apesar de ser tão feio, tenho sido alvo das misericórdias dEle. Muitas vezes, intrigado, chego-me a perguntar: “Espelho, espelho meu: existe alguém mais abençoado do que eu!” Afinal, como é possível um sujeito tão feio como eu ser tão agraciado por Deus? Fico pensando em tudo o que Deus tem feito por mim. A família que me deu, nos ministérios que desenvolvo, nos amigos por todos os lados, e pergunto-me: “Espelho, existirá pessoa tão feia mais marcada pela graça de Deus?” Além disso, muitas vezes o espelho me revela que Fernando Sabino estava certo quando dizia: “Viver faz mal a saúde! Faz cair os cabelos e os dentes. Provoca rugas na pele, flacidez nos músculos e artrite nos ossos. Enfraquece a cabeça, combale o organismo e ataca o coração”. A verdade é que diante do espelho, alegre, concluo que sou um grande exemplo do imerecido amor de Deus, em Cristo Jesus.

Existe um outro espelho que costuma mostrar o íntimo da pessoa. Ele penetra lá dentro de cada ser humano, e mostra nua e cruamente a situação da nossa alma. É um espelho tão especial que costuma exibir o nosso interior: pensamentos maus, mentiras, falsidade, orgulho, egoísmo, ingratidão, desonestidade, traição, hipocrisia e rebelião contra Deus. Esse espelho é a Bíblia, a Palavra de Deus.

Às vezes, diante da Bíblia, assusto-me com a minha feiúra de alma. Nestas horas, fico triste comigo mesmo, mas também sinto alegria por uma outra revelação que este espelho me faz. É que este espelho celestial também me revela a graça eterna de Deus, em Cristo. Nele, consigo ver a misericórdia diária de Deus por mim. Na verdade, ele exibe em letras gordas o amor de Deus por cada ser humano: “suficientemente largo, para abranger a totalidade da humanidade; suficientemente comprido, para durar toda a eternidade; suficientemente profundo, para alcançar o pecador mais degradado; e suficientemente alto, para levá-lo ao céu” (John Stott).

Bendita Bíblia, espelho de Deus, que expõe a nossa feiúra de alma, mas também exibe a beleza do amor de Deus, em Cristo.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Livros Vivos

Na juventude, fiquei fascinado por Vargas Llosa ao ler “Conversas na Catedral”. Não era tanto o conteúdo em si, mas o domínio que o escritor peruano tinha da narrativa. Llosa consegue colocar duas pessoas conversando num bar, Catedral, intercaladas por muitos outros diálogos. A exposição das conversas é tão bem feita que, mesmo não citando seus nomes, a gente entende perfeitamente quem fala com quem. Tempos depois chegou-me as mãos uns dos seus livros mais divertidos: “Tia Júlia e o Escrevinhador”. Nele, além de narrar o seu namoro com uma tia, fato que deu pano pra manga no seio da sua família, ele aperfeiçoou esta técnica. Tudo muito inteligente, bem escrito e engraçado. Aquilo que tinha tudo para ser algo confuso, tornava-se uma história extremamente prazerosa.

Tudo bem diferente de uma experiência recente. Recebi um exemplar de um livro de um amigo. O título era interessantíssimo. Pus-me a lê-lo imediatamente, mas suas idéias eram tão confusas, tão desorganizadas, que abandonei a leitura.

Agora, lendo o apóstolo Paulo, deparo-me com a seguinte expressão: “vocês (cristãos) são a carta de Cristo,... conhecida e lida por todos os homens.” Fiquei pensando: que tipo de leitura tem sido a minha vida? Será que estão gostando do que leem nas minhas páginas? Elas têm exaltado o meu Cristo? Sabe o que me passou pela mente? Que estou escrevendo um “evangelho segundo o Renato”. Claro que não é inspirado, mas deveria inspirar muita gente a querer conhecer o meu Deus.

Às vezes vejo crentes com vidas tão desorganizadas que custo a perceber que aquilo é obra de Cristo. Nem parece que têm a mão de Cristo ali. Mas, confesso: a vida de alguns cristãos é tão bonita, que mais parece com aqueles livros que a gente pega e não quer mais parar de ler. É tudo tão empolgante que só se sossega quando a leitura acaba. Percebe-se direitinho que Deus está por detrás de cada página, e de toda a obra. E o que dizer de crentes com vidas tão sem graça, que lembram aqueles livros que nossos professores nos obrigavam a ler no colégio. Que chatice! Lia-os somente por causa da prova. Há também aquelas vidas que são verdadeiras histórias em quadrinhos. São muito infantis! Crentes com fé tão rasa, que nada mostram das riquezas sempre encontradas em Cristo Jesus.

Há também crentes cuja fé causa confusão. Dizem que seu Deus é fiel, e são incapazes de confiar que ele irá sustentá-los se derem o dízimo, por exemplo. Dizem que Jesus é “o Príncipe da Paz”, mas vivem brigando o tempo todo. Dizem que seu Deus é Senhor, mas são eles quem escolhem a quem servir e aquilo a que devem obedecer. Dizem que a igreja é um corpo, o Corpo de Cristo, mas insistem em viver uma vida isolada, sem qualquer envolvimento com os outros membros. É tudo tão confuso que a gente fica na dúvida se ele realmente é de Jesus.

E se a sua vida for o único livro que seus amigos estão lendo? O que ela tem revelado acerca do seu Deus ? Lembre-se: as suas paginas estão sendo lidas diariamente. Pense nisso e capriche nos próximos capítulos.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Ontem, Hoje e Amanhã

Houve um tempo em que eu sonhava em impressionar as pessoas com a minha inteligência. Queria que todos notassem as minhas ideias geniais, a minha agudeza de espírito, os meus comentários irônicos e a maneira fluente com que conseguia expor meus pensamentos. Desejava que notassem a rapidez com que captava as falácias e os erros sutis. Nesse tempo, ficava deslumbrado com elogios e abatido com as críticas. Esperava o aplauso e temia a vaia. Era escravo da bajulação. Queria saber se as pessoas reconheciam o meu valor. Hoje, já atinei para a futilidade de tudo isso. Descobri que Deus não precisa de estrelas. Ele usa qualquer um, mas tem prazer em aproveitar homens simples. Descobri que não preciso impressionar pessoas nem cativá-las pela minha argumentação. Não preciso exibir alguma virtude que não tenho. Não preciso ter a última palavra sobre tudo. Já me conscientizei de que nem sempre sei. Já aprendi a apreciar ideias melhores que as minhas; a me curvar diante de pessoas mais sábias e mais preparadas que eu; a aprender com os mais experientes e, sobretudo, mais espirituais. Não tenho medo de reconhecer meus erros, mostrar minhas dúvidas, expor minhas fraquezas e apenas desejar ser verdadeiro e fiel ao que sou e ao que creio. Desejo aprender com minhas falhas e consertá-las. A vida também me fez curtido aos profissionais da crítica, mas sensível aos censores que me corrigem com amor.

Houve um tempo em que desejava ser herói. Queria ser admirado por alguma coisa importante. Pretendia fascinar multidões com minhas realizações. Ambicionava a fama. Encantava-me a idéia de conquistar o mundo através de um feito espetacular. Hoje, contento-me em ser eleito e separado por meu Deus, útil ao Seu Reino, admirado por minha família, respeitado e levado a sério pelos meus filhos, amado por meus irmãos em Cristo e acarinhado pelos meus amigos.

Houve um tempo em que corria em busca de felicidade. Queria toda aquela alegria contagiante dos anúncios de TV. Aspirava uma vida cheia de aventuras fantásticas e experiências deslumbrantes. Hoje percebo que são as coisas simples que enchem a nossa vida de significado. Amar e ser amado. Valorizar o momento, mesmo que ele não dure para sempre. Aprendi a não ficar à espera do grande evento da minha vida, mas fazer de todos os momentos simples uma grande ocasião. Aprendi que a felicidade é um subproduto da santidade e, à medida que ando bem com meu Deus, todas as outras coisas ganham uma nova dimensão. Hoje sei que não preciso esperar a morte e o céu para começar a viver. A vida bem-aventurada começa aqui. Como disse o Pastor Ed Kivitz: “creio na vida antes da morte”.

Houve um tempo em que eu ambicionava conquistas materiais. Não me contentava em apenas ser rico, queria ser reconhecido como um daqueles poucos que conseguiu o topo do sucesso. Desejava nada menos do que o mundo aos meus pés. Ambicionava dinheiro, poder, status e tudo aquilo que fizesse as pessoas me olharem como um semideus. Hoje compreendi que tudo isto era pura idolatria. E, qual o escritor de Provérbios, agora peço a Deus que não me dê nem a pobreza nem a riqueza, apenas o necessário. Aprendi que muitos dos melhores momentos da nossa vida acontecem quando ainda lutamos pelo pão de cada dia. Vejo muita gente desgraçadamente rica. Então, suplico ao Senhor que me dê riqueza interior; que Ele me faça generoso e íntegro, de tal modo que valorize pessoas e use coisas. Peço que minha riqueza seja espiritual, dessas que estão guardadas no céu e ninguém pode roubar. Agradeço a Deus por me ter feito Seu herdeiro celestial, em Cristo, e certo de que, mais dias ou menos dias, estarei para sempre com Ele, desfrutando das suas eternas mansões.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"Dezembrite"

Há uma virose infestando Teresópolis, desde o meado de novembro. Pessoas de reputação duvidosa dizem que ela chegou justamente com as luzinhas que a Prefeitura Municipal mandou colocar nas árvores da cidade. Dizem as más línguas que essas luzes incidem sobre os caules dos arbustos liberando um vírus que tem uma capacidade de penetração assombrosa, atingindo tanto adultos como crianças. Alguns alarmistas chegam a falar num subtipo de Rotavírus, pois ele permanece vivo mais tempo no ambiente e é mais resistente do que se pensa. Contudo, especialistas contestam esta explicação. O certo mesmo é que virose já está sendo popularmente chamada de “Dezembrite”.

Os sintomas de que você foi atingido por “Dezembrite” são: um irresistível desejo de olhar vitrines, fazer compras e de gastar dinheiro em presentes. Geralmente, esta obsessão é acompanhada de ansiedade pelo recebimento do 13° salário. Em muitos casos, a pessoa gasta o que tem e o que não tem, adquirindo dívidas que vão atrapalhar a sua vida e a dos seus familiares por muito tempo. Não poucas vezes, o infectado fica com uma dor de cabeça muito intensa por não conseguir limpar o seu nome sujo na praça.

Tenha também muito cuidado, pois uma senhora, moradora da Várzea, teve o seu caso agravado: ela ficou temporariamente cega, e comprou três pares de sandálias para juntar aos muitos outros que já tinha. Também adquiriu dois novos modelos de celulares só para ficar na moda. E, se não fosse pouco, ela foi fisgada pela propaganda publicitária, comprando mais uma tv para juntar a outras três que tem em casa. Portanto, muito cuidado, pois “Dezembrite” faz a pessoa atacada comprar coisas desnecessárias.

Psicologicamente os danos da virose são maiores ainda, pois a pessoa passa a ter idéias fixas, e o seu vocabulário gira em torno de palavras, como: panetone, rabanadas, passas, nozes, bacalhau, chester, tender, peru, ceia natalina, Papai Noel e árvore de Natal. Algumas crianças foram diagnosticadas depois do uso frequente de certas palavras, como: bicicleta, boneca, bola, tênis de marca, celular, ipod,ipad, notebook, mp3 e carro telecomandado. Autoridades estão preocupadas porque muitos dos contaminados usam a época para se embriagar, causando inúmeras brigas, acidentes e tristezas na vida dos seus familiares.

A certeza de que a pessoa foi realmente infectada com “Dezembrite” é um sintoma clássico: a amnésia. Não poucas pessoas ficam completamente esquecidas. Esquecem-se de que o verdadeiro Natal é a celebração da vinda de Jesus Cristo a terra, em Belém da Judéia, para ser o Salvador do mundo. Esquecem-se também de que “a vida de um homem não consiste na soma das coisas que ele possui”. Então, pensam que “Feliz Natal” é comprar, comprar e comprar. Por isso, celebram um Natal em que Papai Noel é mais adorado do que o próprio Filho Unigênito de Deus.

Todo o cuidado é pouco. Não se deixe encantar pelas luzes da cidade. Certifique-se de que a luz de Jesus já está brilhando dentro de você. A presença dele, reinando no seu coração, é a certeza de que esta doença viral nunca mais vai entrar na sua vida.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Recebendo Asas

Depois de quatro anos de uma rotina rígida, com viagens semanais, ordem unida, exercícios físicos, marchas e contramarchas, horários a cumprir, barba aparada, cabelo cortado, sapato engraxado, e outras disciplinas do regime militar, meu filho concluíu a academia militar e tornou-se um aspirante. Na cerimônia de entrega dos brevês aos formandos, eles receberam uma insígnia, uma asa de prata, que lhes foi pregada ao peito. O coronel, Comandante do Corpo de Cadetes da AFA, no seu discurso final, disse: “Estas cerimônias simbolizam a ruptura da Turma Sírius com o Corpo de Cadetes da Aeronáutica. Isto significa que, a partir de agora, vocês ganharam asas. Asas para voar, mas voar com responsabilidade. A partir de agora é cada um por si. Ninguém mais estará a olhar para os senhores, aos domingos de noite, quando regressam; ninguém mais olhará se a velocidade do carro está além do limite; ninguém estará mais a olhar se estão com o cabelo cortado e com o sapato engraxado. Somente a consciência dos senhores é que será o seu mais algoz, juiz.”

Pode parecer estranho, mas essas palavras me fizeram refletir sobre o casamento. A vida conjugal não é uma gaiola. Aliás, quando um cônjuge começa a se sentir preso, engaiolado, algo está errado na vida conjugal. Logo, qual um passarinho, ele estará sonhando com o seu dia de liberdade, e o casamento corre perigo de acabar. Por isso, um casamento estável e bom é feito por pessoas que se amam tanto a ponto de darem asas um ao outro O único cadeado que o prende um casal à vida conjugal é o seu amor.

Estava numa rua, conversando com o Pastor Diné Lota. Logo passou uma moça bonita por nós, e um rapaz que estava próximo lhe fez um gracejo. Depois, voltou-se para nós, e disse: "que mulher maravilhosa, não acham?” O Diné logo lhe respondeu: “sabe, você acha que quem tem uma torta de morango com chantilly em casa vai ficar perdendo tempo com gelatina, na rua?” Acho que a Leila, esposa do Diné, nunca soube disso. E nem precisava saber. É o amor e o compromisso de amor que fazem com que um homem tenha olhos só para a sua esposa. Ele tem asas, mas a sua consciência do valor do cônjuge e o privilégio de tê-la como companheira o fazem voar para dentro de casa.

Pode parecer que não, mas o evangelho também dá asas ao pecador crente. O evangelho trás uma boa notícia: apesar dos nossos pecados, Deus nos ama e nos aceita através de Jesus (Rm 5.8). Não há mais condenação para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8.1) . Não importa o que você coma, o que você beba, nem o que você faça - a salvação está garantida. Somos aceitos por Deus pelo que Jesus fez por nós. Isso é graça, é presente imerecido. Só que quem conhece essa graça fica tão fascinado e agradecido por ela que quer viver uma vida digna do amor de Deus. E o mínimo que pode fazer é obedecer a Deus de todo o coração, e tentar viver como Jesus viveu (1Jo 2.6,3.2,3). Então, quem recebe essa maravilhosa graça, finalmente percebe que recebeu asas. Asas para alcançar os céus.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O Povo do Blablablá

Há três anos atrás, passei quinze dias agradabilíssimos, de férias, em Piúma, no litoral sul capixaba. Com pouco mais de 18 mil habitantes, a cidade tem a sua população triplicada no verão. Mineiros, uai, de todas as cores e lugares invadem a cidade. Piuma não é o Mar de Minas, mas é a praia mais próxima da mineirada.

À noite, na orla, entre roupas, sorvetes e comidas, muita gente passeia pelas várias feirinhas. Também montaram um palco para shows numa das praças. Ali, às sextas-feiras, era apresentado um show gospel, num projeto denominado “Jesus, o sol da minha praia”, patrocinado pela prefeitura municipal local, com o apoio da Primeira Igreja Batista de Piúma. Na verdade, uma excelente oportunidade para se fazer um pré-evangelismo, já que “a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Cristo” (Rm 10.17).

Eu não entendo nada de show gospel. Mas, na minha ignorância, pensava que o seu objetivo era apresentar Jesus através da música. Então, a melhor estratégia é botar no palco uma boa banda ou um bom cantador e mandá-lo cantar. Não foi assim. Arrumaram um locutor que não parava de falar. O cara falava pelos cotovelos. A receita era assim: trezentos decibéis de som pra deixar todo mundo surdo; cinco colheradas de sopa de chavões evangélicos que já não dizem nada a ninguém; vinte porções de aleluias; e abobrinha o quanto baste pra irritar os incrédulos. Pronto. Pra piorar as coisas, arrumaram um roqueiro gospel que pulava e rodava pra todos os lados, gritando coisas desconexas, entremeadas com a palavra Jesus. Tétrico. O show devia se chamar “Tempestade na praia”.

Em Portugal, algumas vezes fui chamado para acompanhar um coro formado por uns quarenta homens angolanos, o Coro Bênção. Saíamos pelas praças, e os mandava cantar. O canto bonito deles logo atraía os portugueses, que eram duros para a mensagem do evangelho, mas gostavam de boa música. Quando havia um bom número de gente, eu pegava o microfone e só dizia isso: “São angolanos, vieram fugindo da guerra civil do seu país. Deixaram filhos, mulheres, famílias. Trabalham aqui na construção civil. Têm uma vida difícil. Tinham tudo para serem homens tristes. Mas, não. Aos sábados gostam de sair para cantar. Cantam porque conhecem uma coisa que vocês não conhecem: a graça de Cristo. Quem conhece o evangelho de Jesus Cristo tem forças suficientes para cantar, até em meio a dor”.

Voltemos a Piúma: enquanto isso, no barzinho próximo ao apartamento onde estava havia música ao vivo. O cantador de lá só cantava. Nada de discurso, anúncio, comunicação, ou blablablá. E o barzinho enchia de gente. Quando via, percebia que todo mundo estava cantando junto com ele. Também lá na praia, no sábado à tarde, um grupo de pagode chegou, e começou a cantar. Só cantar. Aquela área da praia lotou. Cumpriam-se, literalmente, aquelas palavras de Jesus: “as pessoas deste mundo são muito mais espertas nos seus negócios do que as pessoas que pertencem à luz” (Lc 16.12).

Nós, evangélicos de hoje, como gostamos de falar. Quantas palavras ociosas teremos de dar contas a Deus no dia do juízo! (Mt 12.36) Vê-se isso nos nossos cultos. Nenhum grupinho vai à frente do templo cantar sem antes fazer um sermãozinho. Geralmente enaltecendo o óbvio, e gastando a nossa paciência. Estamos despregando o evangelho com o nosso blablablá!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Enfrente o Dia de Hoje com Confiança

Precisamos definir o tipo de pessoas que queremos ser: pessoas do nascer do sol ou do pôr do sol.

É muito comum cruzar com colegas, ex-alunos do Seminário do Sul, que gostam de relembrar os velhos anos passados na Colina de Itacuruçá, na Tijuca, RJ. Geralmente, recordo um ou outro fato daquele tempo, mas não sou saudosista, não. É que, pela infinita graça de Deus, já tive na vida muitos outros momentos tão bons ou melhores do que aqueles que vivi no seminário, no final da década de 70.

Uma vez, o Ayrton Senna saiu muito mal no grid de largada do GP da Hungria de Fórmula 1. Os comentaristas diziam que quem queria vencer naquele circuito tinha que sair na frente, pois havia ali muito poucos pontos de ultrapassagem. Pois bem, contrariando tudo e todos, nosso Senna saiu lá de trás e veio ultrapassando os adversários um por um. Numa corrida magistral, venceu. Um jornalista lhe perguntou: “Esta foi a melhor corrida da sua vida ?” Senna respondeu: “A melhor corrida da minha vida ainda vou fazer amanhã.” Senna era uma pessoa do nascer do sol. Estava tendo vitórias hoje, mas aguardava dias melhores para o amanhã. Penso que todo o crente deveria ser uma pessoa assim. A Bíblia nos garante que, em Cristo, o melhor está por vir.

Em Portugal, conheci na igreja uma irmã que era um poço de queixas. E tudo porque havia sido obrigada a deixar determinado país africano, onde vivera muito bem por mais de treze anos. Em todas as suas conversas, ela se reportava à sua vida em África. Ela simplesmente se negava a enfrentar a vida hoje porque vivia sonhando com o passado. Era uma pessoa do pôr-do-sol. No dizer de Odorico Paraguaçu: “vivia pratrazmente”.

As bênçãos do passado devem ser agradecidas e lembradas, mas, na vida, o nosso passado deve ter a mesma importância que um espelho retrovisor tem para um automóvel. Quem dirige carro sabe que, para conduzir com segurança, é preciso estar bem atento ao que se passa na frente, mas não deve se descuidar do que acontece atrás. Quando vejo motoristas que não usam o espelho retrovisor, costumo sair de perto deles. É que o espelhinho evita darmos fechadas a torto e a direito no trânsito. Assim, os erros do passado devem nos ajudar a não cometermos os mesmos erros hoje. Olhamos também para o passado para recordarmos o que Deus já fez por nós. Com alegria, podemos relembrar momentos difíceis em que clamamos pela misericórdia de Deus, e Ele veio em nosso socorro. Aí, regressamos para o presente, e enfrentamos a crise de hoje. É que o Deus que esteve conosco e nos deu vitórias no passado é o mesmo Deus presente conosco agora.

Devemos olhar para o passado para aprender com ele. Não é bom ficarmos lá, saudosistas. O passado nos desafia a enfrentarmos os problemas de hoje. E os enfrentamos com confiança porque sabemos que para a carga de hoje temos um ajudante. O nosso Deus é o Senhor que “diariamente leva a nossa carga” (Sl 68.19). Posso enfrentar os desafios do dia de hoje porque encontro conforto na certeza de que o Senhor cuidará sempre de mim. E não preciso temer o dia de amanhã, pois o Senhor também estará lá comigo.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Não Tenha Medo de Envelhecer

Beethoven viveu grande parte da sua vida com medo da surdez. Ele pensava que a audição era essencial para compor música de qualidade. Quando descobriu que seu problema crescia, ficou muito ansioso e frenético. Então, consultou médicos e tentou todos os remédios possíveis, até que ficou completamente surdo.

Após um período de luta e de desespero, Beethoven conseguiu encontrar força para continuar a compor, apesar da terrível perda. E, para espanto de todos, foi após ficar totalmente surdo que ele compôs algumas das suas obras mais admiráveis. A Nona Sinfonia, por exemplo, ele nem chegou a ouvi-la. Ele só a imaginou. Surpreendentemente, com a surdez, Beethoven descobriu uma coisa fantástica: com todas as distrações exteriores abafadas, e apagadas até, as melodias fluíam dentro dele tão depressa quanto a sua pena as podia acompanhar. Assim, a sua surdez converteu-se num instrumento aperfeiçoador da sua obra.

Na nossa sociedade, hoje, só há lugar para os jovens, os bonitos e os ricos. Talvez, por isso, haja tanta gente tentando parecer ter menos idade do que tem. Produtos de beleza que anunciam verdadeiros milagres são consumidos avidamente. Há um esforço hercúleo para que a pessoa disfarce a sua idade. Muitos avós se vestem com as mesmas roupas dos seus netos jovens. É o vovô garotão. Outro dia, um amigo me dizia: “A minha mãe parou de contar a idade. Há cinco anos que ela diz ter 67 anos”. Os idosos, os feios, os obesos e os pobres são deixados de lado, como se tivessem doenças contagiosas.

Então, não é de admirar que muitas pessoas encarem a velhice do mesmo modo como Beethoven encarava a sua surdez: com apreensão, antevendo um tempo de lutas, dificuldades e até de desespero. Mas, como Beethoven, muitas pessoas têm tido na Terceira Idade um dos melhores períodos da sua vida. Surpreendentemente, têm visto que podem ser muito mais úteis a Deus e ao próximo do que pensavam. Podem viver experiências novas, enriquecedoras e plenas de significado.

Tive um professor que era PHD, formado por uma grande universidade dos EUA. A expectativa inicial era que ele desse uma excelente aula. Mas, apesar dos títulos, notávamos que lhe faltava conteúdo. Mais que isso: vimos que ele ainda não havia encontrado um sentido para a vida. Coisa triste é uma pessoa chegar a uma idade quando já devia estar madura e sentir que ainda lhe falta alguma coisa.

Mas, ao contrário, como é bom vermos pessoas de cabelos brancos, e absolutamente interessantes. Pessoas que podem olhar pra trás e recordar com alegria vários momentos de uma vida produtiva e honrada. Gente que valoriza as vitórias de hoje, porque lutou com brio e fidelidade pelos seus ideais de ontem. Gente sensível, cujas experiências dos anos as conduziu a uma vida moderada e sábia.

Li isto nas páginas do “Nosso Andar Diário”: “Deus planejou para que a força e a beleza da juventude fossem físicas, mas a beleza e a força da velhice fossem espirituais. Pouco a pouco vamos perdendo a força e a beleza temporal para que nos concentremos na força e beleza das coisas espirituais e eternas.

Algumas das pessoas mais admiráveis estão escrevendo as melhores páginas das suas vidas na velhice. Benditas rugas que vêm acompanhadas de prudência, sensibilidade, carinho e generosidade. Bendito idoso que envelhece sem ressentimentos ou amargura. Gente que, apesar da idade, continua a crescer e aprender por toda a vida.

Não tenha medo de envelhecer, pois o mesmo Deus que esteve com você no passado, é o Deus que tem surpreendentes bênçãos para hoje. Então, aproveite esta época da vida para conhecê-lo melhor. A sua presença pode fazer com que o outono da vida seja belo e feliz. Afinal, a Bíblia diz que “os justos na velhice ainda darão frutos, serão viçosos e florescentes” (Sl 92.14).

terça-feira, 23 de novembro de 2010

No Último Minuto...

Era a sua última partida de futebol. Se ganhasse, elevaria outra vez o nome da França aos píncaros da glória. Além disso, era também sua despedida como jogador. Tinha tudo para deixar os gramados com o mundo aos seus pés. Mas aos 5m do segundo tempo da prorrogação da final da Copa do Mundo, na Alemanha, aceitou a provocação do italiano Matarazzi e, para a surpresa de todos, agrediu-o com uma violenta cabeçada. Foi expulso. Assim, sob uma saraivada de vaias, Zidane, o capitão da seleção francesa, saiu de campo. Logo depois a partida foi para os pênaltis, briosamente vencidos pelos italianos. Nos últimos minutos de uma carreira brilhante, a um passo da glória, Zidane pôs tudo a perder.

Um pouco antes daquela partida final, a Alemanha e Itália já haviam feito um dos melhores jogos da Copa do Mundo. O tempo regulamentar não fora assim tão emocionante, mas quando as equipes entraram na prorrogação, começaram um jogo de vida ou morte. A Alemanha querendo levar o jogo para os pênaltis e a Itália tentando resolver a parada antes. Faltando apenas um minuto para o término, um chute parabólico de Grosso, com a precisão milimétrica de uma seta envenenada, seguido de um murmúrio de ansiedade do estádio e o salto, desesperado e impotente, do goleiro Lehmann, fez o estádio de Munique emudecer. Já nos descontos, aos 121 minutos, Del Piero fez 2 a 0, dando um tiro de misericórdia numa Alemanha aguerrida, garantindo assim a Itália na final da Copa.

Também no último minuto do derradeiro jogo do campeonato espanhol de 1993/94, Djukic teve nos pés a decisão. Era só marcar o pênalti e o seu clube galego, o La Corunha, levaria a glória de um título solitário. Djukiv falhou, e o Barcelona foi campeão. No último minuto, no último remate, tudo perdido.

O Pastor Falcão Sobrinho contou a história de um rapaz gravemente doente, internado num hospital do Rio. Naquele dia, diante do médico, ele perguntou: “Doutor, existe céu?” O médico desconfortável com a pergunta, continuou fazendo suas anotações. O rapaz insistiu: “Doutor, o senhor sabe como a gente chega ao céu?” O médico saiu e foi até a enfermaria. Perguntou à enfermeira de plantão se ela cria em Deus. Diante da resposta afirmativa, pediu que ela fosse até o leito 14, ajudar o rapaz. A enfermeira tremeu. O que diria àquele rapaz? Demorou tanto que, quando lá chegou, o rapaz já tinha partido sem resposta.

Em 1995, fui falar de Cristo ao seu Luiz Mendes. Vítima de câncer, ele estava bastante debilitado, e nem sempre conseguia permanecer lúcido. Deus pôs no meu coração lhe contar uma história da minha infância, e aplicá-la à vida dele. Feito isto, perguntei ao seu Luiz se queria entregar a sua vida a Jesus. Ele me respondeu: “É a coisa que mais desejo fazer neste momento”. Oramos juntos, ocasião quando ele convidou Jesus para ser seu Senhor e Salvador. Após a oração, ele abriu um longo sorriso, e me disse: “Gostaria de ter tido esta conversa com o senhor em outras circunstâncias”. Dias depois, o Senhor chamou-O à sua eterna presença. Mas a vitória da vida eterna em Cristo já lhe estava assegurada. Nos últimos momentos da sua vida.

No jogo da vida é muito importante chegar ao último minuto com a vitória garantida. Há muita gente a protelar uma decisão por Cristo. Gente que vive como se tivesse toda a eternidade para decidir. Muita gente, neste último minuto, descobre que a vida aqui está acabando e uma sensação desagradável de derrota invade seu coração. No último minuto, a pessoa percebe que seu estilo de vida não combina bem com a morte.

O cronômetro da graça de Deus ainda está contando tempo para a Salvação em Cristo. Mas é preciso correr, pois nesta partida não haverá prorrogação. O Grande Juiz garante que “quem crê nele (Jesus) não é condenado, mas quem não crê já está condenado...” (Jo 3.18). Ou seja, quem não se arrepende do seu pecado e não confia em Jesus Cristo já está derrotado. A gente não sabe quando o Grande Juiz fará soar o apito final. Então, cuidado, pois o último minuto pode ser o próximo.

domingo, 21 de novembro de 2010

Quando Deus não Quer o que Queremos

Alguns homens de fé, e profundamente espirituais, fizeram pedidos a Deus, e receberam como resposta um “não”.

Davi foi um sujeito formidável. Ele foi chamado de “o homem segundo o coração de Deus” (At 13.22) , na Bíblia,. Não foi perfeito. Errou, e como errou! Mas todas as vezes que tinha consciência do seu erro, arrependido, voltava-se para Deus, pedindo perdão. Davi também mostrava o seu arrependimento, mudando realmente o seu modo de vida. Deixou inúmeros Salmos que até hoje nos abençoam e nos ensinam como andar em comunhão com Deus.

O abençoado Davi queria expressar a sua profunda gratidão a Deus, cumprindo um grande sonho: construir o novo templo. Ele, rei, tinha um palácio mais luxuoso do que a “Casa de Deus”, o velho tabernáculo trazido do deserto. Queria, então, construir algo grande, que dignificasse o nome do Seu Deus. Pediu ao Senhor para construí-lo, mas Deus disse que “não”. Ele era homem de sangue, que havia feito muitas guerras. Um descendente seu, homem pacífico, ergueria o tal templo(1Cr 17).

Paulo foi o “Indiana Jones” do evangelho. Foi o primeiro missionário de Missões Mundiais. Através dele, o evangelho alcançou o mundo de então. Ele disse duas coisas que pouquíssimos cristãos, hoje, teriam condições de dizer: “Já estou crucificado com Cristo, e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2.20), e “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1Co 11.1). Este campeão do evangelho pediu a Deus que lhe tirasse um “espinho na carne”, um problema físico que lhe trazia intenso sofrimento (2Co 12.7,8). Sobre esse “espinho”, Paulo, homem de oração, intercedeu três vezes, pedindo que lhe fosse removido. Deus lhe disse “não”, acrescentando: “a minha graça te basta, o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza”(1Co 12.9).

Jesus, Deus encarnado, também fez uma oração intensa ao Pai. Na véspera de tomar a Cruz pelos nossos pecados, no Getsêmani, Ele pediu a remoção da sua dor: “Meu Pai, se for possível, afasta de mim este cálice; contudo, não seja como eu quero, mas como tu queres” (Mt 26.39). O Pai disse “não”, não era possível.

Isto significa que Deus não atende a todos os nossos pedidos. Muitas vezes, Ele permite problemas, enfermidades e provações para nos abençoar. Ele disse a Paulo que não queria que ele ficasse orgulhoso pelas vitórias alcançadas (2Co 12.7). Não atendeu a Davi porque queria que o nome dele ficasse atrelado não a um templo, mas a um descendente do rei, Jesus, nascido da sua linhagem (Mt 1.1). Deus tinha em mente algo muito maior. E não atendeu ao Filho porque só com sua morte o mundo poderia ser salvo e reconciliado com Ele.

Deus não nos livra de todos os nossos sofrimentos, porque, muitas vezes, neles, Ele tem propósitos santos, maiores, para o nosso bem. Como nos diz Romanos 8.28: “E sabemos que Deus faz com que todas as coisas concorram para o bem daqueles que o amam, segundo a vontade de Deus”.

Da próxima vez que orar, pedindo alguma coisa a Deus, e receber como resposta um “não”, saiba que Deus tem um propósito melhor e maior para você. Então, continue a esperar e a confiar nEle.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Quando Enfrentamos Nevoeiros na Vida

Quem vive em Teresópolis sabe o que é conviver com um nevoeiro. Às vezes o dia está belíssimo, com raios de sol trazendo alegria à vida e, de repente, o ruço sobe a serra. Aí, o dia se transforma em quase noite; a claridade dá lugar à obscuridade; as certezas se transformam em dúvidas e o calor vai cedendo ao frio.

Uma vez, num domingo pela manhã, viajando de Lisboa até Santarém, um denso nevoeiro me pegou em plena autoestrada que liga Lisboa à cidade do Porto. Durante quinze minutos, literalmente, dirigi o carro sem ver dois palmos à minha frente. Guiava-me pelos sinais da pista. Aqueles minutos me pareceram durar uma eternidade. Sabia que não devia parar nem correr muito, mas qual seria a velocidade correta ? Como estava a 40 Km/h, e não sabia qual seria a velocidade dos carros da frente e de trás, quase entrei em pânico. Se andasse rápido demais bateria no carro da frente. Se andasse muito devagar seria atropelado pelo detrás. Naquela hora, tudo o que pude fazer foi guiar o carro com muito cuidado e esperar pacientemente a evaporação da cerração. Foi um alívio quando, finalmente, pude enxergar a estrada e todo o seu panorama.

Na vida também enfrentamos nevoeiros. Alguns mais ralos e outros bastante densos. Quando os nossos problemas são pequenos costumamos confiar no nosso tino, e tocamos a vida pra frente. Mas, quando os problemas ficam muito pesados, a alegria se converte em choro; a lucidez em confusão; as certezas se transformam em dúvidas e a confiança dá lugar ao medo. Parece que estamos andando em círculos, não vemos progresso, perdemos o controle da situação e nos sentimos imobilizados. Geralmente, não sabemos para onde ir.

O nevoeiro em nossa vida traz-nos um segundo problema: ficamos sem referenciais. Os nossos valores morais e até mesmo os espirituais passam a ser questionados. Como não estamos vendo as coisas claramente, passamos a dar ouvidos a pessoas que defendem toda a sorte de coisas. Ficamos com rumo incerto, ao sabor dos palpites de pessoas, nem sempre bem intencionadas.

Então, o que fazer numa hora dessas? Somos tentados a tomar as decisões drásticas e, tipo: - “vou lá e arrebento a cara dele!” Tenho notado que, nessas horas, tomar decisões repentinas só piora a situação.

Mas, há coisas a que devemos nos agarrar. Nunca se esqueça das linhas traçadas por Deus na Sua Palavra. Quando você não enxergar dois palmos da estrada direito, então, agarre-se à sinalização de Deus. Saiba que as marcas dos Céus sempre nos dão segurança. Andando de olho nelas, você pode ter certeza de que não vai sair da estrada da vida abundante. Então, apegue-se às promessas de Deus. Elas são verdadeiros feixes de luz que alumiam a escuridão do caminho. O salmista disse: “lâmpada para os meus pés são a tua palavra e luz para o meu caminho”. Em situações de pânico, tenho visto muitos crentes trocando o brilho e a segurança da Palavra de Deus por ilusões. Quando enfim conseguem enxergar alguma coisa, percebem que estão mais perdidos e sem rumo. E o pior: estão também longe dos caminhos do Senhor.

Outra coisa boa também é confiar na graça de Deus. Fazemos isso em oração, com fé. Dizemos para Deus: “olha, eu não sei o que fazer, mas vou esperar que tu mesmo me ajudes nesta hora, como já me ajudaste em tantos momentos difíceis, no passado!” Tenho visto que quando não temos esperança de chegar a lugar nenhum, então a graça de Deus chega em nosso socorro. E ela vem para gente carente, débil, mas crente. De súbito, a cerração vai ficando tênue e começamos a ter um vislumbre da paisagem e da solução do problema.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

“Uns São; Outros, Não.”

Quando era garoto, morava em Irajá, no subúrbio do Rio, quase em frente a um campinho de futebol. Era um terreno barrento, onde colocávamos tocos, que serviam de balizas. Havia um colega nosso que era deficiente físico, mas gostava de agarrar. Então, porque ninguém queria ser goleiro, saudávamos com muita alegria a presença do José Augusto, nosso goleiro deficiente. Ele ficava com duas muletas, e quando jogávamos a bola em sua direção, ele rapidamente se desfazia delas, e agarrava a bola. Quando jogávamos a bola pelo alto, ele se valia das muletas para rechaçá-la. Por termos o José Augusto no gol, era proibido dar bicão. Ou seja, ninguém podia chutar forte para o gol. Fazíamos algo bonito, mas com a motivação errada.

Na hora da divisão dos times, deixávamos os ruins de bola por último. Eu costumava perguntar: “faz questão de lado?” E se me dissessem que não, eu dizia, brincando: “Então, fica aí do lado de fora.” Mas dentre os “pernas de pau” e “cabeças de bagre” da pelada, os piores eram aqueles que, além de não terem intimidade com a pelota, ficavam chupando sangue da equipe. Ou seja, não corriam nada nem se esforçavam pelo bem do time. Quase sempre ficavam parados, esperando a bola chegar aos seus pés. Chupa-sangue só tinha vez na pelada quando era o dono da bola.

Agora, passo por um templo evangélico e leio a placa: “Unção. Venha pegar a sua unção para ser abençoado.” Vendo a palavra unção, logo me lembrei do reverendo Antônio Elias que, ao ser perguntado sobre o que era unção, respondeu: “Não sei. Só sei que uns são; outros, não.” O Raphael Fernandes costuma dizer que a palavra é um erro de concordância.

Cristo é a versão grega de Messias, cujo significado é “aquele que é ungido”. O ungido, ou seja, aquele que tem unção, é a pessoa que tem uma missão especial. Jesus Cristo teve mesmo uma missão peculiar: Ele “veio buscar e salvar aquele que estava perdido” (Lc 19.10). Veio ser o Salvador do mundo.

Na Bíblia, a pessoa que tem unção serve, trabalha, gasta-se por Deus e pelo Seu Reino. O rei, o profeta, e o sacerdote, no Antigo Testamento, eram ungidos porque tinham uma tarefa clara a cumprir. Foi assim também com Jesus. Ele “não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos” (Mt 20.28).

Hoje, invertemos as coisas. Os crentes são conclamados a “pegar a sua unção para serem abençoados”. Que unçãozinha egoísta, essa! É a unção dos que só querem ser servidos; daqueles que apenas desejam receber bênçãos de Deus. Eis uma grande aberração: hoje unção tornou-se algo interesseiro. São os chupa-sangues do Reino de Deus, verdadeiros parasitas da fé cristã.

No mesmo dia em que passei por aquele templo e li a placa da unção, cheguei ao gabinete pastoral da PIBT e encontrei uma irmã que veio me pedir para trabalhar. Ela quer servir mais a Deus, quer ser mais útil à igreja. Na sua profissão, Deus já tem lhe dado várias oportunidades de socorrer e abençoar famílias, mas ela quer mais. Ela quer nova missão.

Você é crente no Senhor Jesus Cristo? Foi alcançado pela Sua imensa Graça? O que você quer agora? Servir ou ser servido? Abençoar ou ser abençoado? Precisamos de crentes cheios de unção. Ou seja, mais que nunca, necessitamos de crentes bíblicos, úteis, desejosos de servir aos outros e a Deus, buscando frutos para o Seu Reino. Você quer mesmo receber unção?


Pastor Renato Cordeiro de Souza

P.S. – Na primeira versão deste artigo, publicado no editorial da PIBT, troquei o nome do goleiro, a quem chamei de Carlos. Esse era o grande amigo e fiel escudeiro do José Augusto, o nome verdadeiro do deficiente físico.

domingo, 14 de novembro de 2010

Em Nome de Jesus, Chore!

Quem acompanhou o vídeo do culto de despedida do saudoso Pr. Manoel Xavier dos Santos Filho, acometido de câncer, deve se lembrar do momento em que ele disse que uma crente chegou perto dele, e afirmou: “Esta doença não lhe pertence”. A resposta do Pr. Xavier foi: “Se não é minha, me diga de quem é, pra eu devolver, porque não quero ficar com nada que seja dos outros”.

Vivemos dias em que crentes negam doenças e dores, como se isso fosse demonstração de fraqueza de fé. Então, está doendo muito, mas o sujeito diz: “Em nome de Jesus não está doendo”. Só que o estoicismo não é doutrina cristã. O estoicismo, escola filosófica fundada por Zenon, pregava a abstração da dor. O seu ideal era atingir a apatia, e a indiferença em relação a todas as emoções. Os estóicos ensinavam: “desprezai a pobreza: ninguém vive tão pobre quanto nasceu. Desprezai a dor: ou ela terá um fim ou vos dará um. Desprezai a morte: a qual vos finda ou vos transfere. Desprezai o destino: não dei a ele nenhuma lança com que ferisse o espírito”.

Jesus não foi estóico. Apesar de ser perfeito em sua humanidade, ele não viveu sem emoções. Jesus chorou publicamente duas vezes. Uma quando contemplou a incredulidade de Jerusalém. Ele disse: “Quantas vezes eu quis.... mas tu não quiseste!” (Lc 23.39). Chorou diante da morte do seu amigo Lázaro. O texto diz que ele “ficou muito perturbado” (Jo 11.33). O verbo usado, enebrimesato, indica indignação. Jesus chorou não por estar com uma tristeza incontrolável, mas com uma fúria irreprimível. É que a morte não fazia parte do propósito original de Deus, e por isso é chamada de "o último inimigo a ser destruído”. Ela trazia à memória a ação do seu arquiinimigo e de toda a raça humana. Jesus chorou também lágrimas de simpatia pelas irmãs enlutadas. Então, ele sentiu indignação e compaixão. Bufou de raiva e chorou.

Os evangelhos também dizem que Jesus sentiu pavor. Em Mc 14.33 é dito que, no Getsêmani, ele “começou a ter pavor e angustiar-se”. Note, quem ficou apavorado não foi Judas, o traidor. Foi Jesus. Há uma versão que diz que ele sentiu “grande tristeza e aflição” (BLH). A palavra grega denota pavor interior, como se a sua personalidade se desintegrasse. Afinal, ele estava carregando uma culpa que não tinha. Ele veio ao mundo e experimentou tudo isso. Então, passar por aflições, sentir-se angustiado, desesperado não é sinal de falta de fé. Isso pode acontecer com qualquer pessoa, e até mesmo com a melhor delas. Lembre-se: nenhum de nós é mais espiritual do que Jesus.

O apóstolo Paulo, no final dos seus dias, reconheceu que precisava de ajuda. Ele pediu a Timóteo que fosse ao seu encontro rapidamente, pois estava se sentindo sozinho na prisão (2Tm 4.9). Afirmou que foi abandonado por alguns, traído por outros e que sentia frio. E que na hora em que precisou dos amigos nenhum veio para estar ao seu lado, só o Senhor (2Tm 4.16,17). Gosto da sinceridade do apóstolo. Ele não disse: “Em nome de Jesus não estou com frio!”, ou “Tenho Jesus, e não preciso de mais ninguém!” Paulo era um homem de fé, mas precisava do calor dos amigos e de um cobertor.

Davi já dizia que Deus deseja a verdade no íntimo (Sl 51.6). Deus nos fez seres emotivos. Todos os cristãos, pelo menos de vez em quando, temos sentimentos tanto de profunda tristeza como de profundo gozo. Então, meu irmão, quando estiver triste, não tenha medo de chorar. Quando estiver difícil, não tenha vergonha de pedir ajuda. Quando estiver doendo, diga que dói. Muitas vezes no seu clamor, na sua dor e tristeza Deus providenciará outros irmãos em Cristo que serão ombro, socorro e consolo do Senhor para você.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"Desadorando"

“DESADORANDO”

Numa aula para crianças sobre adoração, um pastor começou perguntando sobre o antônimo de certas palavras:
- “Qual é o antônimo de alegre?”“Triste”, responderam em uníssono.
- “E de feio?”“Bonito!”
E assim ele prosseguiu até chegar à adoração.
- “Qual é o antônimo de adorar?”

Uma menina, de 10 anos, levantou a mão, e disse com convicção:
- “Reclamar!”

Para aquela sábia menina, adoração é um modo de viver. Então, desculpem o neologismo, mas quem vive murmurando, desadora. Quem só sabe ver o lado negativo das coisas, desadora. Quem é incapaz de reconhecer a boa mão de Deus na sua vida, desadora. Quem não dá graças a Deus em tudo, desadora. E todas as vezes que estamos reclamando de qualquer coisa, estamos fazendo o contrário de adorar. Então, temos muitos crentes que vêm aos cultos públicos para adorar a Deus, mas O desadoram na vida. Parece que o apóstolo Paulo falou nisto, quando deixou este princípio: “Portanto, seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co 10.31).

Não se trata de jogar “o jogo do contente”, ensinado no livro Pollyanna, de Eleanor H. Potter. Pollyanna é a história de uma menina de onze anos, filha de um missionário pobre, que após ficar órfã, vai morar em outra cidade com uma tia rica, rígida e severa, à qual não conhecia previamente. Ela ensina às pessoas na nova comunidade “o jogo do contente”, que havia aprendido com seu pai no dia em que esperava ganhar uma boneca e recebeu um par de muletinhas. Seu pai lhe explicou que não existia nada que não pudesse ter dentro qualquer coisa capaz de nos fazer contentes, e ela então ficou contente por não precisar das muletinhas. Decididamente, não é isso. Adoração não é uma fuga da adversidade, mas um novo modo de viver em que colocamos o Senhor no centro e vivemos em função dele.

Desadoramos a Deus também quando fazemos uma distinção entre o secular e o sagrado. Ir à igreja é sagrado. Ir à escola é secular. Ler a Bíblia é sagrado, mas ler o jornal é secular. Assim, na área do sagrado temos um tipo de comportamento, nos vestimos de uma maneira e falamos o “evangeliquês”, que é o dialeto espiritual dos crentes. Mas, em outros lugares, mudamos a nossa forma de ser e de agir. Na Bíblia, esta desadoração também é chamada de hipocrisia.

Outra forma sutil de desadoração é quando buscamos a glória e o reconhecimento por aquilo que fazemos, e procuramos ficar debaixo dos holofotes da aprovação humana, mais do que da aprovação divina. O louvor e o reconhecimento das pessoas tornam-se a motivação principal das nossas ações. Você se coloca numa posição de superioridade, querendo se tornar o centro e, consequentemente, todos, inclusive Deus, são deixados de lado. Assim, muitas das disputas e competições entre igrejas evangélicas, pastores e denominações são manifestações claras deste tipo de desadoração. Por trás dos inúmeros anúncios de curas, milagres, conversões e poder está o pecado da soberba. Lá estão pastores e líderes cobiçando o louvor da comunidade e o reconhecimento da sua superioridade (espiritualidade). Sem perceber, fazem de tudo para atrair sobre si o foco do louvor. Isso também é chamado de espiritualidade ostentatória.

Na adoração Deus é engrandecido. Na desadoração Deus é esquecido. Na adoração nós diminuímos. Na desadoração nós crescemos. Na adoração buscamos a Glória de Deus. Na desadoração buscamos nossos direitos. Na adoração Deus é tudo. Na desadoração Ele é quase nada.

Resta-me lhe fazer uma última pergunta: A sua vida adora ou desadora?

domingo, 7 de novembro de 2010

A Arte de Meter Medo nos Crentes

Morava em Lisboa quando apareceu na cidade um pastor amigo, que fora meu conselheiro na época de Embaixador do Rei. Ele estava de passagem para uma visita a Israel. A alegria de revê-lo ficou maior com a oportunidade dele falar ao nosso grupo de estudo bíblico.

Ele preferiu dar o seu testemunho. A sua mãe era Mãe de Santo, e funcionava na sua casa um centro espírita. Como se dizia anos atrás, ele era um jovem da pá virada. Vivia envolvido em brigas e confusões. Era alto, forte e aventureiro. Um dos tios da minha esposa era um dos seus parceiros preferidos.

Um dia alguém lhe falou do evangelho, e ele se converteu. Aquilo foi uma reviravolta no bairro. Muitos não acreditavam na sua transformação. Mas ela veio, realmente. E chegou de tal forma que já nenhuma entidade baixava no centro espírita que funcionava no seu lar. A presença dele na casa impedia a chegada de qualquer “guia”. Um dia ele percebeu que seu pai o olhava com ódio. Foi saber a razão. Ele estava prejudicando as atividades espirituais da mãe.

Pouco tempo depois, ele se sentiu chamado para o ministério pastoral. Foi para o seminário, se formou, casou e tornou-se pastor. O tempo passou, e já era pastor há anos, fora do Rio, quando deixou de viver uma vida íntima com Deus. Um dia, disse ele, estava no templo quando uma mulher entrou no gabinete pastoral para lhe fazer ameaças, em nome de uma entidade. Então, ele se lembrou da época de novo crente, quando vivia uma vida bonita e sincera com Deus, e como só a sua presença impedia a ação do inimigo no seu lar. Agora, pastor, vivendo uma vida dúplice, era ameaçado no gabinete pastoral. Ajoelhou-se, confessou seus pecados, e pediu a Deus nova oportunidade para viver uma vida fiel a Ele.

Revigorado, dava testemunho da ação de Deus na sua vida e ministério, mas começou a colocar medo nos crentes, falando de quadros e objetos nas casas, que se prestavam à ação do Maligno nos seus lares.

Muitos evangélicos pregam, hoje, que há uma guerra entre “divindades pagãs” e Deus. Chamam isso de “batalha espiritual”. Sinceramente, creem eles que estas "divindades" existem, mas elas não passam de mera criação da mente humana, como foram Afrodite (deusa do amor, do sexo e da beleza corporal), Posseidon (deus supremo do mar, dos rios,fontes, terremotos e cavalos), Apolo (deus da divina distância, identificado com o sol e a lua), Castor e Pólux (deuses gêmeos, padroeiros dos navegantes, que protegiam os marinheiros da agitação do mar e dos ventos), deuses fictícios da mitologia Greco-romana. Por exemplo, Yemanjá, Exu, Pomba-Gira, cridos, respeitados e temidos hoje, também não existem. Só há um Deus, e não há divindades com as quais Ele tenha de lutar (1Co 8.4). Há apenas Satanás, que não é Deus, é apenas um ser caído, e está com sua derrota decretada, por causa da morte de Cristo na cruz e da Sua ressurreição. É claro que Satanás está ativo, e ainda ruge como leão (1Pe 5.8), mas está com seus dias contados.

Muito cuidado com o dualismo e com o politeísmo evangélico, em que surge um Deus do bem, e deuses do mal, em batalhas constantes. E mais cuidado ainda com homens e mulheres que são os escolhidos para fazer o povo de Deus triunfar sobre essas “divindades malignas”. A Bíblia ensina que Jesus já venceu todo tipo de potestade e as exibiu publicamente, como despojo (Cl 2.14,15). Portanto, fuja destes ensinos, por mais espirituais que eles possam parecer (Cl 2.6-10).

Quando esteve em Teresópolis, o Pastor Larry Walker trouxe uma mensagem extraordinária para os nossos jovens. Ele provou que tudo o que Deus Pai fez por Jesus Cristo é o que Ele faz por nós, hoje. Mostrou também que o poder que ressuscitou Jesus é o mesmo que age nas nossas vidas. Ele é “muito acima de todo o principado, autoridade, poder, domínio, e de todo nome que possa ser pronunciado, não só nesta era, mas também na vindoura (Ef 1.19-21).” Afinal, “maior é o que está em nós do que o que está no mundo” (1Jo 4.4). Portanto, se você já é de Jesus, nada de temer objetos, quadros, coisas, espíritos ou entidades.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

"Eles Passarão... Eu Passarinho!"

No soneto “Este Quarto...”, Mário Quintana diz:

“A morte deveria ser assim:
Um céu que pouco a pouco anoitece
E a gente nem soubesse que era o fim...”


Alguns anos atrás fui ao funeral de Cláudia Coimbra, uma amiga de infância. Crescemos juntos, frequentando a mesma igreja e as classes da Escola Dominical. Na juventude, sempre alegre e atuante no reino de Deus, Cláudia precisou fazer um transplante de rim. Saiu daquela crise mais alegre ainda. Sentindo-se chamada para a Obra do Senhor, Cláudia fez o IBER (Instituto Batista de Educação Religiosa) e tornou-se ministra de educação religiosa. Mesmo diante de limitações físicas, Cláudia tinha um pique contagiante e uma alegria transbordante. Até que a doença não lhe permitiu continuar trabalhando.

Na véspera da sua partida, o Pastor Novaes foi visitá-la na UTI do hospital. O pai lhe fez a seguinte pergunta: “Por que Deus permite que uma pessoa tão consagrada tenha de passar por uma situação assim?”

Eclesiastes já nos lembra que a morte nem sempre é justa: “Um justo morreu apesar da sua justiça e um ímpio que teve vida longa apesar da sua impiedade”(7.15). Jesus confirmou isto afirmando que as dezoito pessoas que morreram com a queda da Torre de Siloé não eram mais pecadoras do que o resto do povo (Lc 13.2-5). A morte vem para todos, independentemente de quaisquer méritos. Não morrem sempre os mais velhos e depois os mais novos. Não morrem sempre os doentes à frente dos que estão saudáveis. Não morrem os que não têm nada para realizar, mas morrem aqueles que, muitas vezes, estão no auge das realizações.

O crente tem algumas garantias no sofrimento. Paulo diz assim: “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porem não destruídos” (2Co 4.8,9). Afirma também que “os nossos sofrimentos atuais não podem ser comparados com a glória que em nós será revelada” (Rm 8.18).

Mas o crente em Cristo tem também algumas garantias na morte. A Bíblia diz que a tribulação nem a morte podem nos separar do amor de Deus (Rm 8.35 a 39). Ela nos garante ainda que “nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co 2.9). Por isso, Deus nos conclama a não sermos ignorantes nem desesperados: “Irmãos, não queremos que vocês sejam ignorantes quanto aos que dormem, para que não se entristeçam como os outros que não têm esperança. Se cremos que Jesus morreu e ressurgiu, cremos também que Deus trará, mediante Jesus e com ele, aqueles que nele dormiram” (1Ts 4.13,14). Então, “Se vivemos, vivemos para o Senhor; e, se morremos, morremos para o Senhor. Assim, quer vivamos, quer morramos, pertencemos ao Senhor” (Rm 14.8).

Enfim, para o crente em Cristo, sofrimento e morte também podem ser traduzidos nas palavras de Mário Quintana, em “Poeminha do Contra”:

“Todos esses que aí estão
atravancando o meu caminho,
Eles passarão... eu passarinho!”

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Ele se Compadece das Nossas Fraquezas

Joni Earickson era uma jovem atleta, cheia de vida. Certo dia, ao mergulhar em um lago, ela bateu em uma pedra. Como resultado desse choque, ficou tetraplégica. Quando entendeu a extensão da sua dependência, desesperada, pediu a morte. Pediu a uma amiga que lhe desse alguns comprimidos para se suicidar. Diante da negativa, desesperou-se mais ainda com o pensamento: “Não posso nem mesmo me matar”. Com o espírito abalado por ódio e amargura, sua vida estava fadada a ser tragicamente triste. Um dia, a sua melhor amiga, ao lado da sua cama, tentando consolá-la, lhe disse: “Joni, Jesus sabe o que você está sentindo. Você não é a única pessoa paralítica. Ele também esteve paralisado”. Joni olhou-a enfezada, e perguntou: “O que você quer dizer com isto?” A amiga prosseguiu: “É verdade. Lá na cruz, Jesus deve ter tido muita vontade de remexer-se um pouco, mudar de posição para aliviar o peso do corpo, mas não podia mover-se. Ele sabe o que você está sentindo.” Joni disse que já tinha percebido o bem que o amor dos seus amigos e familiares lhe fazia, mas pela primeira vez Deus lhe pareceu incrivelmente próximo dela. Hoje, Joni pinta quadros com a boca, e seu testemunho cristão já correu o mundo através de filme e livros.

Recentemente, meu irmão gêmeo me disse que conheceu um Ministro de Música muito competente, músico fino, mas que maltratava os coristas e músicos que não aprendiam facilmente, mostrando falta de paciência com suas fraquezas. Um dia sofreu um AVC, e ficou com várias partes do seu corpo comprometidas. Através de um processo longo de fisioterapia, enfim voltou a reger. Só que, após a enfermidade, continuou competente, sério e exigente, mas passou a tratar a todos com cortesia e paciência. Como experimentou a fraqueza de querer fazer algumas coisas e não conseguir, humanizou-se.

O Escritor aos Hebreus diz: “temos um sumo sacerdote que pode se compadecer das nossas fraquezas” (Hb 4.15). A palavra grega usada para fraqueza é astheneia, que pode ser traduzida por ausência de força ou deformidade. No Novo Testamento, esta palavra nunca é usada como sinônimo de força física. Ela se refere mais a uma fraqueza moral, mental ou emocional. Então, a Bíblia nos diz que o nosso Grande Sumo sacerdote e único mediador, o Senhor Jesus Cristo, porque foi tentado e provado em todas as coisas como nós, mas sem pecado, se compadece das “nossas fraquezas”.

Se Jesus só entendesse as nossas fraquezas já seria bom. Mas Ele conhece a sensação que temos em nossas fraquezas – os traumas emocionais, os conflitos interiores e a dor que tudo isso nos acarreta. Ele compreende as nossas frustrações, aflições, depressões, mágoas, os sentimentos de abandono e solidão, isolamento e rejeição. Ele sabe exatamente como nos sentimos quando experimentamos toda essa gama de emoções que acompanham nossas fraquezas e enfermidades. A Bíblia garante que, tendo passado pelas mesmas coisas, Ele sabe entrar nos nossos problemas e senti-lo conosco.

No Getsêmani, Jesus sentiu “a sua alma profundamente triste até a morte”(Mt 26.37,38). Ou seja, Ele passou por sofrimentos e sensações de agonia tão fortes que até desejou a morte. Então, Ele entende quando você está deprimido e não quer viver mais. Mas Jesus também enfrentou falsos testemunhos, calúnias e humilhação. Na cruz, cuspiram-lhe no rosto, deram-lhe murros e o esbofetearam (Lc 22.63, Mt 26.67). Poucas coisas são tão humilhantes, degradantes e destroem o nosso sentimento de dignidade. Então, Ele entende o tipo de sensação que se passa dentro de nós quando nos sentimos agredidos e humilhados. Mas também, lá na cruz, fizeram pouco caso dele. Foi alvo de chacotas (bullying), de gozação. Sentiu-se desajeitado, horroroso, justamente por causa da crueldade dos seus algozes. Isaías descreveu o que Ele passou, dizendo: “...nenhuma beleza havia que nos agradasse. Era desprezado, o mais rejeitado entre os homens, ... e dele não fizemos caso” (Is 53.2,3). E, talvez, a pior dor que sofreu foi quando se sentiu abandonado pelo próprio Pai. Os céus se tornaram horrivelmente surdos para Ele. Gritou por socorro, mas não recebeu resposta (Mt 27.46). Então, Jesus compreende o nosso grito de desamparo, quando o nosso nível emocional está mais baixo, devido à rejeição, abandono ou depressão.

Não importa qual seja a nossa fraqueza, Deus não se envergonha de nós. A Bíblia nos garante que “Ele se compadece das nossas fraquezas” (Hb 4.15). Mas diz mais. Deus nos convida a chegarmos a Ele com nossa dor, culpa ou vergonha. Ele diz: “Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno”. Sim, há esperança e socorro para cada um de nós. O Deus de toda a graça, nosso Sumo Sacerdote Jesus Cristo, pede tão somente que nos aproximemos dEle com confiança. Aquele que se compadece da nossa fraqueza quer nos socorrer, quer agir com graça e amor em nossas vidas, na hora certa. Então, aproxime-se dEle já.

sábado, 30 de outubro de 2010

A Morte Pode ser Doce ou Amarga

A minha primeira experiência com a morte ocorreu quando faleceu o meu tio Jair, de 42 anos, vítima de um enfarte fulminante. Estava com 12 anos, e ainda me lembro de ouvir outro tio dizendo para o meu pai, no carro: “Tão novo! Apenas 42 anos!” Tomei um susto com aquela expressão, pois, com a minha idade, uma pessoa de 42 anos já era um ancião. Hoje, já com mais de meio século de vida, considero gente com 70 anos ainda jovem.

Lembro-me também que, na minha adolescência, deixei de ir a muitos funerais porque não sabia exatamente o que dizer aos familiares enlutados. Achava a expressão “meus pêsames”, dramática demais, sobretudo na boca de um adolescente. Como não estava seguro quanto ao que dizer, simplesmente não ia. Muito tempo depois, descobri que, nestas horas, a gente não precisa dizer nada. Basta dar um abraço e tentar ser útil. A nossa presença, mesmo calada, já é uma mensagem de solidariedade.

Mais tarde, já seminarista, comecei a participar dos cultos fúnebres. Veio o ministério pastoral e a realidade da morte passou a ser uma rotina na minha vida. Nestas horas, a gente vai constatando que muitas pessoas têm uma filosofia de vida muito boa para viver, mas péssima para morrer. Outros têm uma religião que lhes dá conforto na vida, mas não as prepara para a morte.

O que faz com que a morte seja difícil é a avaliação do que perdemos com ela. Há pessoas que sentem o amargor da morte porque, finalmente, descobrem que tudo o que tinham, tudo o que investiram na vida está sendo deixado para trás. Descobrem que lutaram e se agarraram a bens, dinheiro e prestígio e nada disso poderá ser levado para onde vão. Não têm paz na morte porque só investiram para esta vida. Não têm nada para receber no futuro. Sabem que entrarão ali, na eternidade, com as mãos abanando. Eis uma coisa fácil de se constatar: como o homem sem Deus morre mal! Por isso, já vi ricos morrendo em total desespero.

Por outro lado, há pessoas que morrem e nós vemos que, apesar de deixarem bens e pessoas queridas, o consolo não vem do que deixaram, mas daquilo que ganharão. Gente que investiu a sua vida em Deus e a sua maior riqueza está nos céus. Deixam seus familiares e amigos aqui, mas sabem que se encontrarão com o seu maior amigo, Jesus. Sabem que morrer é lucro, pois “aquilo que seus olhos ainda não viram nem seus ouvidos ouviram, são as coisas preparadas para eles por Aquele que os ama” (1Co 2.9. Gente que combateu o bom combate, acabou a carreira e guardou a fé. Por isso, têm certeza de que morrer com Cristo é doce e a coro da justiça os espera.

Lembro-me da morte do humorista Bussunda, aos 43 anos, quando cobria a Copa do Mundo na Alemanha. Ela pegou todos nós desprevenidos. Mas, logo notamos que os mais desprevenidos eram ele e seus companheiros. Percebemos que "Os Cassetas" estavam preparados para brincar e debochar, mas não estavam prontos para um encontro com Deus. O judeu ateu Bussunda investiu tudo aqui. Morrer foi um grande prejuízo, pois dali em diante não tinha nada para receber. Morrer sem Cristo é amargo.

E você, onde está investindo a Sua vida? Deus é o dono da sua vida. A qualquer hora Ele pode pedir a devolução do empréstimo. E então, o que lhe espera é doce ou amargo?

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Cristofobia

Cristofobia é o desprezo que muitos intelectuais e líderes de opinião sentem por tudo o que está relacionado com a mensagem do evangelho. Esta fobia pode ser claramente constatada pela maneira preconceituosa como a mídia trata todos aqueles que publicamente confessam ser evangélicos.

É claro que, hoje, há muita gente esquisita atribuindo suas esquisitices a Jesus. Há também espertalhões que já descobriram que o nome ‘Jesus’ dá lucro financeiro e político, se bem explorado. Não, não me refiro a esses. Eu mesmo sou o primeiro a criticá-los.

Jorginho, tetracampeão brasileiro, treinador do América, levou seu time à final da Taça Guanabara. Todo mundo sabe que Jorginho é crente, desde os tempos de jogador de futebol. Quem acompanhou a sua carreira como futebolista nada tem a dizer contra a sua conduta. Entretanto, certa vez O Globo publicou que ele proibiu palavrões nos treinos. A notícia, parcial, tentava sutilmente ridicularizá-lo, dando a entender que Jorginho queria transformar sua equipe numa igreja.

Uma conhecida igreja televisiva, que prega a teologia da prosperidade, promoveu um encontro gospel em Botafogo, no sábado, 11/2. O evento religioso atraiu 300 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. A grande preocupação com transtornos no bairro, sobretudo no trânsito, não se confirmou. A reunião, em que pese o número de pessoas, algumas vindas de outros Estados, transcorreu sem qualquer distúrbio. No outro dia, não podendo falar mal, os jornais nada noticiaram. Reuniões religiosas muito menores na cidade já tiveram ampla cobertura na mídia, inclusive com chamadas na primeira página.

Samuel Pinheiro, da Aliança Evangélica Portuguesa, conta que ao participar de uma conferência sobre ética cristã à luz da obra “Aparição”, do escritor português Vergílio Ferreira, citou as palavras de Jesus contidas nos evangelhos. A reação do auditório foi bastante agressiva. Acusaram-no de intolerância, ausência de pluralismo, etc. No final, aquilo chamou a atenção de um dos participantes, que dizia: “quando se citam filósofos, políticos, teólogos ou escritores a reação é bastante diferente da que ocorre quando se cita Jesus Cristo”. Ele concluiu que: “ Assim como na química, onde os indicadores identificam e distinguem as bases dos ácidos, a pessoa de Jesus e suas afirmações identificam e revelam a natureza do coração e da mente humana”.

Jesus explica isto assim: “a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz; porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz, e não se chega para a luz, a fim de não serem argüidas as suas obras...” (Jo 3.19-21).

É verdade que há aqueles que não criticam nem hostilizam abertamente o evangelho. Todavia, basta uma citação bíblica incomodá-los, para moverem céus e terra tentando convencer que aquilo é uma opinião subjetiva e uma interpretação tendenciosa.

A cristofobia também chegou às editoras. Virou moda também a produção de livros de ficção, tipo “Código da Vinci”, reescrevendo a história de Jesus. Escritos e escritores rejeitados pelos primeiros cristãos, contestados pelos pais da igreja, desmascarados por historiadores sérios, têm suas heresias reeditadas, como se fossem verdades verdadeiras. O Mestre dos Mestres torna-se um mito ou um mero impostor. Só quem nada sabe sobre os evangelhos e sobre a história do cristianismo fica empolgado com tais publicações. É mais fácil agir assim do que encarar os desafios espirituais e éticos apresentados nos evangelhos.

O evangelho de Cristo incomoda porque “é vivo e eficaz, e discerne os pensamentos e propósitos do coração”. O falso evangelho dilui Jesus a um mero homem bom. Você não precisa temer nem torcer o verdadeiro evangelho. Nele, vemos que Cristo tem todo o direito de condená-lo, mas felizmente também pode compreendê-lo. Jesus compreende seus temores. Confie nele.
Pastor Renato Cordeiro de Souza.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Chorando em Ouro Preto

Visitando meu filho, em Belo Horizonte, MG, aproveitei para voltar a Ouro Preto. Fui na véspera do feriado do dia 12.10. Aliás, eu e quase quinhentas mil pessoas tivemos a mesma idéia. Ouro Preto estava lotada.

Ver os velhos casarios, visitar museus e entrar em algumas capelas e igrejas, ir a restaurantes, comprar artesanatos em pedra-sabão, fotografar, e ter disposição para subir e descer ruas de paralelepípedos é a agenda de quem se dispõe a rever a velha Vila Rica. Comigo não foi diferente.

Na hora de entrar nas igrejas, como são muitas, e as entradas todas pagas, optei por ir a mais badalada. Enquanto fotografava, casualmente ouvi a conversa de um rapaz que fizera um périplo por elas, e apontava a Igreja de Nossa Senhora do Pilar como a mais bonita da cidade. Como não queria me decepcionar, voltei-me para ele - que saía da Igreja de São Francisco de Assis, a mais famosa, por ser um magnífico exemplar do barroco com traços do Aleijadinho - e perguntei pela que mais gostou. O rapaz me confirmou: a mais bonita era a do Pilar. No seu acervo havia mais de quatrocentos anjos esculpidos e na sua ornamentação foram empregados quatrocentos quilos de ouro e outro tanto de prata. Sem dúvida, era a mais rica do lugar. Além disso, embaixo há um museu de arte sacra. A namorada, ao seu lado, acrescentou: “fiquei tão emocionada que chorei”. Então, me decidi. Também quero chorar no Pilar.

Descemos até a Igreja do Pilar. Pagamos e fomos ver “a bênção”. Entrei e, em vez de ficar encantado, comecei a ficar deprimido. Aquelas faces de anjos, com todos aqueles rococós, ouros, e relíquias barrocas me traziam uma tremenda agonia. Era ambiente pesado, fechado e triste. Havia riqueza, suntuosidade, mas não havia vida. Aquilo tudo me sufocava. E o que fascinava e deleitava as pessoas, simplesmente não me abatia. Havia religião, mas nada que me levasse a Deus. Para mim, a vida estava lá fora, no ar e nas montanhas. Definitivamente,as coisas que os homens tentam fazer pra Deus, por mais esplêndidas que sejam, não se comparam com aquilo que Deus faz por nós.

Desci até o museu e o meu mal-estar aumentou., pois ali li que, na época áurea, o governo português proibiu a instalação de ordens religiosas na cidade, para que o ouro não fosse parar nas mãos da Igreja Católica. Então surgiram as associações e confrarias. E aí começaram as disputas. Como as pessoas diziam que “de nada adianta todo o ouro do mundo se não for possível ostentá-lo”, a fé se transformou numa demonstração de status, riquezas e poder. Os devotos participavam de rituais religiosos, não pensando em Deus, mas voltados para si.

Jesus gostava de mar, de monte, de praia e de gente. Então me lembrei de John Stott, dizendo: “O Deus que muitos de nós cremos é religioso demais”. E também me lembrei que passeando com meus filhos, quando eles eram pequenos, dizíamos: “Agora só vale cantar hinos ou cânticos que tenham a palavra ‘monte’, ‘luz’, etc.” E saíamos cantando e louvando a Deus juntos. Assim, a nossa adoração era do lado de fora, na rua, no carro, no monte, na praia, com a família unida, fazendo um passeio feliz.

Ouro Preto alicerçou em mim esta convicção: Precisamos de menos religião, e de mais comunhão com Deus.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Confissões de um Frágil Pastor

Sinto uma pontinha de inveja dos pregadores que só experimentam vitórias no seu ministério. Admiro os pastores que nunca têm problemas, que vivem de sucesso em sucesso, e que nunca ficam em dúvida, nunca titubeiam, mas sempre têm um versículo bíblico que põe fim a qualquer discussão e dão respostas certas para tudo. Admiro, sobretudo, aqueles que parecem ter um telefone vermelho com o Céu e que, diante das mais difíceis questões, sempre têm uma solução fácil, segura e confiante. Pois confesso que, muitas vezes, ao ouvir os problemas dos irmãos, sinto-me pequenino e, chorando, oro com eles pedindo discernimento e sabedoria do Alto para aquela crise.

Admiro os pastores que sempre têm novos remédios para as ovelhas feridas. Respeito aqueles que descobrem novas dicas e postulados para o mal do seu rebanho. Enquanto coloco estas causas diante de Deus, não poucas vezes fico a pensar em como seria bom se eu também tivesse soluções mágicas para problemas sérios. Eu seria bem mais útil, mais produtivo e, certamente, muitas famílias seriam mais abençoadas pelo meu ministério.

Fico impressionado com estes pregadores que, no rádio e na tv, não se cansam de curar gente. Praticamente, não há problema de saúde que não resolvam. Em todos os cultos, a qualquer hora, eles estão livrando o seu rebanho de problemas nos rins, no fígado, no útero ou na próstata. Diuturnamente livram as pessoas de câncer, de artrites e de diabetes, enquanto eu fico me batendo em oração por irmãos que lutam com seus males físicos. Para mim, já estaria bom ter uma voz de comando junto ao Céu que debelasse uma febre. Ficaria muito agradecido a Deus se fosse usado por Ele para curar um simples resfriado. Na verdade, a facilidade com que estes pastores curam me deixam perplexo, pois, confesso, muitas vezes nem ao menos sei muito bem como orar diante de tamanha aflição. Outras vezes fico embaraçado com algumas perguntas, querendo encontrar palavras, na Palavra, que tragam conforto e incentivem o crente sofredor a perseverar confiante na bondade de Deus.

Fico assombrado com arrojados pregadores que, de tão ungidos, recebem diariamente uma revelação nova e surpreendente do Senhor. Tenho em alta conta os que sempre descobrem uma nova fórmula para o sucesso ministerial. Gente que, em que pese dois mil anos de cristianismo, ainda descobre novidades, práticas ministeriais revolucionárias, capazes de fazer a igreja crescer e amadurecer em Cristo em cinco minutos ou em um final de semana. Confesso que, nestes anos todos de ministério pastoral, ainda não encontrei uma fórmula mágica e bíblica que faça um crente se tornar maduro, sensato e útil, sem a dependência perseverante na oração, no estudo da Bíblia e na devoção pessoal ao Senhor. E eu, com sérias limitações, continuo semanalmente tendo de cavar fundo para entender e tentar traduzir as Escrituras de uma maneira prática e relevante à minha paciente e bondosa congregação.

Confesso também que, apesar destas minhas limitações, em nada me sinto diminuído ou menos abençoado pelo Senhor. Ao contrário, apesar das minhas dificuldades, vejo o Senhor cuidando de mim e do meu ministério. Creio que Deus usa gente inteligente e ousada como usou o apóstolo Paulo, mas também usa gente fraca e limitada como eu. E, longe de me achar um derrotado ou alguém que foi desamparado por Deus, sou grato a Deus por Ele me ter chamado para trabalhar com o seu povo. Percebo que, através das minhas fraquezas, Deus tem tido mais oportunidade de manifestar a Sua grandeza. E, assim, tenho conhecido melhor este Deus paciente, compassivo e amoroso. Admiro aqueles que só vencem, mas cada vez mais me fascino com o Deus revelado em Cristo, que permite que homens fracos e pecadores como eu também se sintam vencedores.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cristãos Insuportavelmente Espirituais

Tenho muito medo de gente tão espiritual que não consegue entrelaçar a sua vida com os outros. São pessoas tão boas que ninguém presta, ninguém está no seu nível e ninguém consegue entendê-las. Geralmente criam encrencas na igreja.

Tenho aversão a crentes espirituais que colocam seus diversos títulos na frente. Ele é PhD, doutor, mestre, é isso e aquilo. É mais conhecido pelos seus títulos do que por sua vida. Não é que não dê valor a títulos acadêmicos. Eles têm sua importância. Mas, na vida cristã, tenho visto que as pessoas mais cultas, profundas, úteis e santas são geralmente muito simples. Algumas das mais espirituais com quem convivi têm todos esses títulos, mas não fazem deles um escudo protetor para as suas vidas. Não usam seus títulos como um pára-choque, um obstáculo para que os outros não venham conhecê-los como eles realmente são. A minha experiência diz que quando uma pessoa precisa disso para se impor ao grupo é que ela é muito insegura e, com certeza, não é tão competente quanto seus títulos lhe parecem dizer. Na verdade, já conheci muitos crentes que não tiveram oportunidade de sentar em bancos escolares, mas vivem vidas muito bonitas, atraentes e cheias de comunhão com Deus.

Tenho muito receio de espiritualidade de gabinete, de púlpito e de reuniões de igreja. Desconfio de espiritualidade com hora e lugares marcados. O sujeito começa a ficar santo assim que entra nas dependências de templos evangélicos. Esse, geralmente cria muita encrenca longe da igreja.

Tenho muita dúvida de espiritualidade constituída de frases feitas e chavões evangélicos. Assim, o “pastor espiritual” tem de iniciar o culto com: “Que a graça e a paz do Senhor sejam com todos!” Se não disser isso, ou alguma coisa parecida, muitos crentes acham que ele vive sem unção. A propósito, eu tive uma vizinha crente, que todos os dias me saudava com “a paz do Senhor”. Eu, na minha ignorância, lhe devolvia um “bom-dia, boa-tarde ou boa-noite”, conforme a hora. Mas notei que a minha saudação não expressava espiritualidade aos seus olhos. Um dia aprendi que, segundo a prática pentecostal, a resposta ‘espiritual’ para uma “paz do Senhor” é “a paz!” Fui muito tentado a lhe devolver “a paz!”, para parecer mais santo aos seus olhos, mas decidi continuar com o velho, bem-educado, e profano bom-dia.

Não me sinto à vontade com gente tão espiritual que só sabe conversar sobre Deus, igreja, céu e pecado. Desconfio de crente muito sério, que nunca ri, que nunca confessa pecado e que tudo dele é sempre certinho. Não me afino com espiritualidade que fica ditando regrinhas, tipo: pode isso, não pode aquilo. Quando o assunto da pessoa é só religião, e ela não tem tempo para brincar, sorrir, passear, se divertir, e ser gente; acho que está faltando alguma coisa.

Uma vez ouvi um pastor dando as características de um crente maduro e espiritual. Ele disse que um crente assim pode ser facilmente conhecido porque as pessoas gostam de chegar perto dele. Daquele encontro saem mais animadas, sentindo que valeu a pena ficar perto e conversar com ele. Recebeu dele um novo ânimo e uma nova perspectiva de vida. O seu coração fica remoçado, reforçado, refrigerado, com nova disposição para enfrentar a vida e agradar a Deus. No fim, ele resumiu: o crente maduro e espiritual é muito parecido com Jesus.